Características Gerais e Especiais dos Peixes



Atualmente são conhecidas 50.000 espécies de vertebrados viventes. Destas, em torno de 900 são peixes cartilaginosos e 25.000 são peixes ósseos. A ictiofauna da América do Sul,  juntamente com a porção da região neotropical situada na América Central e do Norte é a mais rica e diversificada ictiofauna continental do planeta, contendo aproximadamente 60 famílias e várias centenas de gêneros. Vamos estudar nesta aula o comportamento funcional dos peixes.

 Pele



A pele é o primeiro órgão que entra em contato com o ambiente, que tem por função proteger o indivíduo contra invasão por microrganismos, predadores, bactérias e injúrias mecânicas. 

A pele auxilia no controle de perda de água do corpo, na excreção de restos nitrogenados e possui pigmentos que previnem o excesso de luz. Na pele desses animais encontram-se órgãos elétricos aderidos, glândulas de veneno e de muco.  É constituída por epiderme e derme. A epiderme é uma camada fina e superficial. Na epiderme encontramos as glândulas de muco e de veneno. Já a derme é uma camada interna espessa, cuja estrutura é principalmente fibrosa com poucas células.

Na derme encontramos vasos sanguíneos, nervos, órgãos sensoriais e ainda é responsável pela formação de escamas.

Sistema Esquelético

Figura. 2. Vistas ventral e lateral do crânio da lampreia (Petromyzon marinus): ad — cartilagem dorsal anterior; b — cesto branquial; gc — fenda branquial; Ic — cartilagem labial; Iam — mandíbula lateral distai; Ig — cartilagem lingual; nc — cápsula nasal; oc — cápsula óptica; on — nervo óptico; pç — cartilagem pericárdica; pd — cartilagem dorsal posterior. (Kingsley, J.S.)


Os ciclóstomos possuem crânio cartilaginoso e incompleto. Não existe uma coluna vertebral verdadeira, o esqueleto axial é constituído basicamente pela notocorda.  Os Chondrichthyes possuem um crânio cartilaginoso completo, o condrocrânio. Nos peixes ósseos superiores, os ossos dérmicos são numerosos e formam uma couraça ao redor do crânio. Partes do condrocrânio são substituídas por ossos. O esqueleto dos peixes é denominado apendicular ou sazonal e é composto por cinturas, que são os suportes das extremidades. As cinturas são divididas em escapular e pélvica. A cintura escapular é formada pelas nadadeiras peitorais e pelos membros anteriores. A cintura pélvica é formada pela nadadeira abdominal e pelos membros posteriores.



Sistema Muscular

Nos peixes, o movimento muscular voluntário é simples e serve basicamente, para abrir e fechar a boca, movimentar os olhos, abrir e fechar as aberturas branquiais, mover as nadadeiras e produzir movimentos laterais em partes do corpo a fim de promover a locomoção por meio da água. Em todos os tipos de peixes, os músculos são segmentares, divididos em septos conhecidos como miocomas.



 A musculatura dos peixes é classificada em somática e visceral. A somática é dividida em axial que compreende crânio, coluna vertebral, costelas, e ossos intermusculares e apendicular que compreende apêndices locomotores, nadadeiras pares (peitorais e pélvicas) e nadadeiras ímpares (dorsal, anal, caudal e adiposa). A visceral é dividida em branquimérica e lisa e está ligada aos tubos internos do corpo, principalmente ao tubo digestivo. Forma também a mandíbula e suportes para a língua e arcos branquiais.

Sistema Circulatório

Dos ciclóstomos aos teleósteos, com exceção dos dipnoicos, o sistema circulatório é simples, sendo que apenas o sangue venoso passa pelo coração. Do coração é bombeado para as brânquias, no qual ocorre troca gasosa e depois distribuído para o corpo. 



O coração possui duas câmaras. A primeira câmara (receptora) é chamada de seio venoso. A outra, por onde o sangue passa para ser distribuído, chama-se átrio. O sangue do átrio passa para o ventrículo muscular e então para aorta ventral. O sangue da aorta ventral vai para a região branquial para ser oxigenado. As câmaras são separadas por válvulas que impedem a reversão do fluxo. O oxigênio é transportado para os tecidos por meio da hemoglobina, um pigmento sanguíneo vermelho. O coração situa-se abaixo da faringe, na cavidade pericárdica (porção anterior do celoma). 
Nos dipnoicos, um septo divide o átrio em uma câmara direita e outra esquerda e a bexiga natatória auxilia na função respiratória. Este é o primeiro passo para o desenvolvimento do sistema circulatório duplo.



Sistema Digestivo




É constituído pelo tubo digestivo e glândulas anexas. O tubo digestivo compreende a cavidade buco-faringeana, um esôfago curto, estômago e intestino.  A cavidade buco-faringeana inclui os lábios, os dentes, a língua, o órgão palatino (que auxilia na deglutição e percepção dos sabores) e válvulas respiratórias (quando dilatadas fecham a cavidade bucal).  O esôfago é um tubo curto e elástico, adaptado aos vários regimes alimentares. 



O estômago está adaptado ao tipo de alimento ingerido. Nos piscívoros o estômago é alongado. Nos onívoros, o estômago é em forma de saco. Os iliófagos, que se alimentam de lodo, algas e pequenos invertebrados, apresentam estômago mecânico com moela.  É no intestino que ocorrem os verdadeiros processos digestivos. Nos ciclóstomos o comprimento do intestino é muito pequeno e existe a válvula espiral com a função de aumentar a superfície de absorção.  O fígado e o pâncreas são as glândulas anexas que fazem parte do sistema digestivo dos peixes.
 O sistema digestivo tem por função transportar o alimento desde a sua ingestão pela boca até chegar ao intestino. Neste trajeto, dois tratamentos são realizados: o físico, ou seja, a quebra do alimento até ser reduzido ao menor tamanho possível, e o químico, quebra do alimento para que ele possa ser utilizado pelas células. Depois, é realizada a absorção dos nutrientes.

Sistema Respiratório




As brânquias internas realizam a retirada do oxigênio da água. Apenas os dipnoicos possuem uma estrutura semelhante a um pulmão.



Sistema Excretor

É responsável por regular o conteúdo de água no corpo, manter o equilíbrio salino adequado e eliminar restos nitrogenados resultantes do metabolismo protéico. Para tanto, os peixes e todos os demais vertebrados, possuem três tipos de rins: pronefro, mesonefro e metanefro. O rim funcional dos peixes é o mesonefro. Os fluídos, a amônia e a ureia são removidos do sangue arterial e coletados por um ureter que desemboca na bexiga urinária. Posteriormente, são eliminados pelo seio urogenital.







Sistema Nervoso





Sistema cérebro espinhal (encéfalo, medula espinhal e nervos cranianos), e sistema autônomo (simpático e parassimpático). O telencéfalo (uma divisão do encéfalo) dá origem aos lobos olfativos e ao cérebro. Possuem 10 nervos cranianos.

Sistema Reprodutor

Pelo menos três tipos de reprodução são possíveis:

Hermafrodita: Ambos os sexos estão presentes num mesmo indivíduo, mas raramente ocorre autofecundação. Pertenogenética: Ocorre o desenvolvimento dos óvulos sem fertilização. Há acasalamento, mas não há fusão nuclear, só ativação do óvulo por parte do espermatozoide.  Sexuada: Espermas e óvulos desenvolvem-se em machos e fêmeas separadamente.

Ovos de peixes palhaços

Órgãos dos Sentidos



Olhos: Geralmente são míopes ou hipermétropes, só reconhecendo contrastes. Apresentam cristalino esférico, o que confere pequena acuidade visual.

Audição: Possuem ouvidos internos que são constituídos por um conjunto de ossos originados das primeiras vértebras. Ao conjunto de ossos pares que constituem o ouvido interno dá-se o nome de aparelho de Weber. Os peixes utilizam a bexiga natatória e todo o corpo como receptores do som.

Narinas: Localizam-se na parte dorso anterior do focinho e estão relacionadas ao sentido do olfato para a procura do alimento, orientação e alarme. Cada fossa nasal possui duas aberturas, uma de entrada e outra de saída, ou seja, não é diretamente conectada à corrente respiratória.

Linha lateral: É formada por escamas com poros, ou aberturas na pele, que expõem as células sensoriais, denominadas neuromastos, para o meio exterior. A linha lateral permite a percepção de qualquer movimento na  água e a identificação, pressão hidrostática, e locomoção temperatura.

Temática: Aspectos da Biologia de Peixes

Há mais peixes no mundo do que animais de qualquer outro grupo de vertebrados. A abundância e a distribuição de peixes nas águas do planeta é o produto de interações entre peixes e seu meio aquático, físico e biológico. 

Ambientes ocupados pelos peixes

Quase sem exceção, encontram-se peixes onde quer que haja água permanente, desde as correntes montanhosas até as profundidades dos oceanos e, por vezes, em rios subterrâneos. Há peixes que se adaptaram a viver em alagados que aparecem apenas em certas épocas do ano.

Os peixes podem ser classificados com base na sua localização no ecossistema aquático:

 Bentônicos: peixes que vivem associados ao fundo. 
Pelágicos: livre natantes. Nadam livremente na coluna de água e vivem geralmente em cardumes. 
Planctônicos: dependentes da correnteza na sua movimentação. Como fazem as jovens larvas de muitas espécies.

Fatores ecológicos que influenciam o modo de vida dos peixes:

• Temperatura: Os efeitos da temperatura sobre os seres aquáticos são geralmente exercidos de maneira indireta. A solubilidade dos gases na água, entre estes o oxigênio, mantém uma relação inversa com a temperatura. O meio aquático pode ser tanto mais rico em oxigênio quanto mais baixa for à temperatura.  Vários animais aquáticos, como os peixes chamados “de água fria”, não resistem à elevação da temperatura da água. Não por não tolerarem o aquecimento da temperatura, mas, principalmente, porque são mais exigentes em relação ao consumo de oxigênio. A maioria dos peixes não suporta mudanças bruscas de temperatura que excedam 15ºC, mas há algumas espécies que suportam variações de até 20ºC ou mais na temperatura da água se esta ocorrer ao longo de várias horas.Temperatura elevada, subletal, pode induzir estivação e baixa temperatura a hibernação.
As profundezas oceânicas apresentam ainda outras possibilidades de especialização – ambientes aparentemente semelhantes em diferentes partes do planeta podem na realidade variar fundamentalmente quanto à natureza química da água.  Uma vez estabelecidos em seu ambiente, poucos peixes podem trocá-lo por outro. À medida que passamos das latitudes temperadas para os trópicos, o número de espécies observadas de peixes aumenta, enquanto o número real de indivíduos diminui. Isto também se observa em animais de terra firme.  A temperatura da água pode ter influência na migração e movimentação de peixes.
De acordo com a tolerância ao meio, os peixes podem ser agrupados como estreitamente ou amplamente tolerantes. A expressão correspondente é pré-fixada, respectivamente, como esteno (estreito) ou euri (amplo). Para a temperatura, por exemplo, a classificação é: estenotermo ou euritermo, para a salinidade, estenoalino ou eurihalino.

• Luz: o efeito direto é sobre a visão, mas há outros efeitos indiretos.

A transparência da água constitui aspecto de grande importância em relação às fontes de alimentos para os peixes. A fonte básica de alimentos orgânicos para a nutrição é a fotossíntese realizada pelos vegetais clorofilados.  A penetrabilidade da luz na água pode ser afetada pela cor e pela turbidez.  A cor é causada por pigmentos solúveis de caráter filtrável e a turbidez é devida a introdução de partículas orgânicas ou inorgânicas e mesmo de organismos vivos, de caráter filtrável.

• Correnteza: é um fator físico que influência a vida dos peixes.

A correnteza também exerce uma ação erosiva: quanto mais forte a correnteza, mais empobrecida a fauna de peixes. Muitos peixes dos nossos rios dependem da correnteza para realizar movimentos de migração. Estes peixes dependentes da correnteza são chamados reofílicos.

• Alimento: sua abundância e variedade são determinadas tanto na composição de espécies como na magnitude das populações de peixes. Os peixes, em geral, alimentam-se de uma grande variedade de itens. O tipo de alimento consumido pode variar com a idade do animal, isto é, com o seu desenvolvimento. Os principais alimentos são retirados do plâncton, dos bentos (organismos do fundo) e do perifiton (organismos que crescem sobre as superfícies livres dos objetos submersos)  Os peixes para capturarem as suas presas, desenvolveram várias estratégias alimentares como: ficar de “tocaia” como o badejo e a garoupa.
Há aquelas espécies que desenvolveram “iscas”, como por exemplo, o primeiro raio da nadadeira dorsal que é luminosa, chamando a atenção da presa. A tuvira captura suas presas por meio de uma descarga elétrica. Os peixes pastadores pastam sobre superfície (rochas, por exemplo), arrancando pedaços de corais e algas. Há peixes que se alimentam de escamas de outros peixes, comportamento denominado leptofagia. O bagre indiano é um exemplo de espécie que possui este hábito alimentar. As trutas pastam uma sobre as nadadeiras das outras. Os peixes sugadores (carpas e cascudos) sugam alimento ou material contendo alimento. Há peixes que parasitam outras espécies, como a enguia de profundezas.
  
Forma do corpo e locomoção

A forma do corpo do animal também está relacionada ao ambiente em que ele está inserido.  O tipo de corpo mais comumente encontrada é a fusiforme. Esta é a forma que permite melhor desempenho em relação à locomoção dentro da água. A maioria dos peixes pelágicos (atum, bonito, tubarão) apresentam esta forma “típica”.  Os peixes que vivem em meio à densa vegetação e/ou corais apresentam corpo comprido e são fundamentalmente bentônicos, como por exemplo, os bagres e cascudos.  Os Anguilliformes (enguias, congros e moreias) têm o corpo alongado em forma de serpente. 
O baiacu e outras espécies que que vivem nas regiões mais profundas dos oceanos apresentam corpo globoso e podem apresentar excrescências que servem para atrair as suas presas.  Os peixes que vivem em estuários, como os gobiideos, possuem as barbatanas ventrais transformadas num disco adesivo para evitarem ser arrastados pelas correntes de maré.
 As espécies típicas de fundo são adaptadas a viver escondidas no substrato, como os linguados, que sofrem uma metamorfose durante o seu desenvolvimento larval de modo que os olhos ficam do mesmo lado do corpo, direito ou esquerdo, de acordo com a família a qual pertencem. Os vertebrados de natação rápida possuem forma do corpo hidrodinâmica que produz um mínimo de resistência quando a sua largura máxima é cerca de ¼ do seu comprimento.

Tipos de locomoção:

·         Anguiliforme: Típica de peixes altamente flexíveis, capazes de curvar em mais da metade do corpo em forma de semicírculo, encontrado em peixes alongados.



·         Carangiforme: Ondulação limitada principalmente à região caudal, isso ocorre em peixes com corpo fusiforme e comprido



·         Ostraciforme: Os peixes cujo corpo é do tipo globoso apresentam esse tipo de locomoção, no qual o corpo é inflexível.



·         Balistiforme: Raramente inflexionam o corpo.



Os peixes nadam empurrando a coluna d´água para trás e a cada força de ação, corresponde uma força de reação de igual intensidade e direção oposta. Os Anguiliformes e Carangiformes aumentam a velocidade de natação aumentando a frequência das ondulações corpóreas (frequência do batimento caudal). A velocidade aumenta porque o peixe aplica mais força sobre a água (por unidade de tempo).  As nadadeiras são muito importantes na locomoção dos peixes pois são responsáveis pelas mudanças de direção.
O corpo alongado pode ser um fator limitante da velocidade porque os vários movimentos ondulatórios aumentam o atrito da superfície do corpo com a água aumentando a força de resistência da água. Esta e outras perdas de movimento são compensadas por outros mecanismos desenvolvidos pelos peixes para melhor se adaptarem ao ambiente, são os mecanismos antipredatórios.

Mecanismos antipredatórios

Para garantir a sobrevivência, a presa necessita:

·         Evitar ser detectada;
·         Escapar do predador;
·         Desencorajar o predador.

Os mecanismos de defesa são classificados em primários e secundários:

1. Primários: são aqueles que evitam a detecção pelo predador.

1.1  Se esconder – peixes que usam qualquer espaço largo suficiente como um abrigo para acomodá-los (buracos ou tubos escavados no substrato, embaixo de rochas, folhas, dentro de conchas ou entre tentáculos ou espinhos de outros animais). 
1.2   Camuflagem – os peixes evitam sua detecção pelo predador se assemelhando ao ambiente ao redor, através de coloração de contraste

(superfície dorsal escura, superfície ventral clara) ou de semelhança com o ambiente ao redor (similaridade na cor e/ou formato) ou fragmentando sua forma, por meio da coloração disruptiva ou “alertando” o inimigo, através dacoloração aposemática.

·         coloração de contrastante – o corpo do peixe possui áreas de contraste de cor, geralmente preta e branca. De qualquer ângulo que o predador observar a presa não será detectada, ela estará parecida com o ambiente. 
·         Semelhança com o ambiente ao redor – muito comum em peixes que vivem próximos ao substrato do fundo ou associados às plantas flutuadoras. 
·         coloração disruptiva – o peixe possui listras ou pontos que fragmentam a sua forma e confundem o predador. 
·         coloração aposemática – animal venenoso ou de sabor desagradável.
  
2. Secundários: ações para evitar a captura após a detecção.

2.1 Correr para abrigo – o peixe nada o mais rápido que conseguir para abrigos, como rochas, troncos, folhas. 
2.2 Fuga individual – fuga em zig-zag. 
2.3 Fuga sincronizada (cardume) – ação em grupo. 
2.4 Mimetismo – o peixe se assemelha ao ambiente, como ciscos e galhos. 
2.5 Defesa agressiva – peixes que possuem “armas” físicas ou químicas utilizadas contra ataques de predadores.

Temática: Morfologia funcional da alimentação em peixes

Um dos passos mais importantes na evolução dos vertebrados é, sem dúvida, o surgimento das maxilas. A partir do seu aparecimento, pôde-se observar uma ampla irradiação de modos de alimentação no grupo, particularmente no que se refere à predação. Os vertebrados passam, então, a atingir grandes tamanhos corpóreos e a explorar e conquistar novos ambientes. Nesta aula vamos estudar a morfologia funcional das estruturas diretamente responsáveis pela captura e digestão do alimento.
Ao processo de obtenção dos alimentos estão ligados os ossos e músculos mandibulares, aos dentes, brânquias e o sistema digestivo. Menos óbvio, mas também importante, os olhos, o formato do corpo, o tipo de locomoção a pigmentação e as táticas alimentares empregadas pelo peixe também estão ligados ao processo de obtenção do alimento.  
Deste modo, baseado no formato do corpo, formato e posição das nadadeiras e da boca, podemos definir não somente o modo de locomoção, mas também a ocupação de habitat a qual está intimamente relacionada com a obtenção do alimento.  Os peixes possuem em média 30 ossos móveis e mais de 50 músculos na região da cabeça
Talvez, o maior de todos os avanços na história evolutiva dos vertebrados foi o desenvolvimento da mandíbula, que revolucionou o modo de vida dos primeiros vertebrados. A mandíbula permitiu comportamentos, que de outra maneira deveriam ser difíceis, se não impossíveis, de se manifestarem.

A figura abaixo mostra a condição Agnatha (a) e a condição Gnasthomata (b)





Abrir a boca dentro da água requer uma força significativa para vencer a força de resistência da água. Quando a boca se abre, esta nova articulação desliza para baixo permitindo às regiões das maxilas, circundada por dentes, uma grande expansão, fenômeno conhecido como protrusão.  O mecanismo de protrusão pode auxiliar na captura da presa, ou na mobilidade das maxilas, pois elas podem ser ajustadas ao substrato durante a alimentação. 
A grande vantagem está no fato do peixe poder protrair a maxila superior, o que gera uma força de sucção. A sucção alimentar, também chamada sucção inercial, é o resultado da rápida expansão da cavidade bucal, que cria uma pressão negativa na boca em relação à pressão do meio externo. A protrusão, portanto, pode adicionar velocidade no momento final e crucial da aproximação do predador.
Tem-se medido a velocidade do lançamento para fora das mandíbulas, e observou-se que isso aumenta a velocidade de aproximação final em 39 e 89%.




Existe uma independência funcional das maxilas superiores em relação a outras partes do aparelho alimentar. Deste modo alguns peixes podem protrair totalmente ou moderadamente ou até mesmo não protrair as maxilas superiores enquanto abrem à boca gerando sucção.
Estas modulações de protração direcionam a abertura da boca e seu maior eixo de sucção que pode ser ventral, para frente ou dorsal o que dá ao peixe a capacidade de se alimentar do substrato, coluna de água, ou superfície com a mesma facilidade.

A pressão gerada pela sucção varia durante o processo de alimentação.

Podemos definir a sucção em quatro fases:

 1. Preparação: conforme o peixe se aproxima da presa, a pressão na cavidade bucal aumenta, como resultado da pressão interna do suspensório e do levantamento do assoalho da boca.
 2. Expansão: fase em que se dá a maior pressão de sucção. A boca se abre ao máximo e a maxila é protraída. É a fase mais curta, em alguns peixes dura apenas cinco milésimos de segundo.
 3. Compressão: a boca se fecha e as válvulas branquiais e operculares abrem-se para que a água possa sair (pelos opérculos ou pela boca).
 4. Recuperação: envolve o retorno de todos os ossos e músculos utilizados no processo à fase inicial.

Dentição

O tipo de presa a ser ingerida e o modo como ela será capturada depende muitas vezes do tipo de dente que o peixe possui.  
Mesmo numa mesma família, as espécies podem ter tipos de dentes diferentes, como resultado de uma dieta diferente e do uso de táticas alimentares diferentes.

Três tipos diferentes de dentes, conforme a sua localização:
 1.Mandibulares – localizados no maxilar, premaxilar e dentário.
 2. Bucais – no palatino e no assoalho da boca
 3. Faríngeos – sobre a base dos 3º, 4º e 5º arcos branquiais superiores e inferiores, conforme a espécie.

De acordo com a forma os dentes podem ser:
 1. Cardiformes – curtos, numerosos e pontiagudos (bagres)
 2. Viliformes – mais alongados e espessos (predadores bentônicos)
 3.Caninos – servem para penetrar e segurar a presa. (característico dos carnívoros)
 4. Incisivos – com extremidades cortantes (em predadores, piranhas e barracudas) 
5. Molariformes – dentes para triturar e moer (em predadores de crustáceos e moluscos)

Na boca dos peixes existem numerosas células secretoras de muco. No entanto, raramente se tem um desenvolvimento acentuado de verdadeiras glândulas bucais.  Os lábios são pregas do tegumento, separados das gengivas por um sulco labial. Alguns peixes os têm bem desenvolvidos como os Blenniidae. Em outros, podem faltar totalmente.  A língua dos peixes é um simples espessamento do assoalho bucal, recoberto por epitélio estratificado, rico em células mucosas e botões gustativos. Pode ser recoberta por dentes.

Em animais aquáticos, a própria água é o principal responsável pelo umedecimento e ingestão do alimento.

Dentes faríngeos

·         São placas dentígeras dérmicas na faringe alinhadas com elementos esqueléticos, dorsais e ventrais, dos arcos branquiais.
·         Utilizadas para segurar e manipular a presa na preparação para engoli-la como um todo. Os dentes faríngeos têm como função principal, diminuir a presa até um tamanho adequado que passe então pelo esôfago.

 Rastros branquiais – são projeções ósseas ou cartilaginosas que ajudam a capturar e reter a presa.  Peixes piscívoros tendem a ter rastros curtos e grossos que previnem a fuga de uma presa quando as brânquias estão abertas.  Peixes que se alimentam do fito e do zooplâncton possuem rastros finos, longos e numerosos.

A posição dos olhos também está relacionada à alimentação.

·         Dorsal – Alimentam-se de organismos da superfície.
·         Ventral – Alimentam- se de organismos do fundo.

De acordo com a diversidade de alimentos consumidos, os peixes podem ser classificados em:

·         Eurifágicos – possuem uma dieta mista, ampla.
·         Estenofágicos – utilizam uma limitada variedade de alimentos. 
  • Monofágicos – consomem somente um tipo de alimento.

De acordo com os tipos de alimentos consumidos, podem ser classificados em:

·         Detritívoros – detritos orgânico (matéria animal ou vegetal decomposta).
·         Herbívoros – algas e plantas superiores
·         Carnívoros – zooplanctônico, bentônico, insetívoro, piscívoros
·         Onívoros – plantas e animais

A morfologia do corpo do animal está intimamente ligada à tática alimentar empregada.  As táticas mais comumente empregadas pelas espécies e peixes são: beliscador; catador de itens arrastados pela correnteza; catador de superfície; escavador; podador; predador de espreita e predador de procura.
Deste modo, pode-se dizer que o desenvolvimento da mandíbula revolucionou o modo de vida dos primeiros vertebrados.

Temática: Coleta e Fixação de Peixes

 A coleta de peixes tem diferentes objetivos. Em muitos estudos é necessário coletar o animal para analisá-lo em laboratório. Em outros é necessário coletá-los para se fazer um levantamento da fauna local. A coleta de peixes também pode ser feita para formar uma coleção didática ou para ampliar uma coleção científica. Vamos apresentar nesta aula as técnicas de coleta e fixação de peixes.

Coleta
É necessário explorar todo o ambiente onde a coleta será realizada. Os peixes ocupam diferentes ambientes e cada um deles representa pelo menos um habitat, que abriga diferentes espécies. A vegetação, os diferentes tipos de substrato (lodo, rocha, cascalho, areia) e toda a coluna d´água devem ser amostrados como áreas de coleta distintas.

A coleta pode ser seletiva ou não seletiva.

A coleta seletiva é importante, pois evita que sejam capturados indivíduos em excesso. É realizada por meio dos seguintes equipamentos:

·         Linha de mão e vara de pesca: método eficiente e seletivo na captura de peixes de fundo. 
·         Peneiras e puçás: método eficiente para se coletar peixes de pequeno porte que vivem junto às margens, em meio a densa vegetação, sob rochas e em meio ao cascalho dos rios correntosos

·         Espinhel: É um artefato para pesca de fundo composto de uma linha for-te e comprida com várias linhas curtas presas a ela, a intervalos regulares, cada uma com um anzol na ponta.

·         Redes de pesca: São lançadas na água e podem ser puxadas por embarcações ou por grupo de pessoas. Podem ser do tipo tarrafa, picaré de arrasto e redes de espera.

·         Covos: Geralmente é feito de pedaços de madeira ou bambu fixos entre si na forma de um cilindro com uma abertura em forma de funil. Coloca-se uma isca no funil que atrai o animal pra dentro do covo. Uma vez que ele entra, não consegue mais sair.
 Todos estes equipamentos são simples e baratos. Depois de utilizados devem ser lavados, secos e guardados. 
A coleta não seletiva de peixes é realizada por meio do uso da rotenona, um produto químico, e da pesca elétrica.

·         Rotenona: É um alcaloide também conhecido popularmente como timbó (C23H22O6) que funciona como vasoconstritor. Antes da aplicação da rotenona estende-se uma rede na água, no local da aplicação, a qual assegura a coleta dos peixes mortos que subirão à superfície. Quando isto ocorre, com o auxilio de um puçá, coletam-se os peixes. Esta tarefa exige trabalho em grupo e, portanto, deve ser bem coordenado. 
·         Pesca elétrica: O aparelho consiste em uma fonte elétrica (bateria), um conversor de corrente, dois cabos elétricos conectados cada um deles aos polos positivo e negativo da fonte elétrica e duas placas elétricas (ânodo e cátodo) conectados na extremidade livre dos cabos. O campo elétrico produzido pelo equipamento na água pode provocar paralisia, natação alterada e morte dos peixes. A montagem de um equipamento deste tipo é bastante complexa e requer muitos cuidados para que acidentes graves não ocorram, outra desvantagem é o peso do material.

Estes dois métodos de coleta têm sido cada vez menos aceitos uma vez que provocam a morte excessiva de indivíduos e acabam por causar alterações nos ecossistemas.
Assim que os peixes são coletados, devem ser imediatamente fixados em formalina 10% e etiquetados. Após uma semana, o material deve ser conservado em álcool 70%. A etiqueta de identificação deve conter o nome científico do organismo, o nome do coletor, a data de coleta {dia/mês (em algarismos romanos) /ano} e o local onde foi coletado.
 Deve-se sempre usar luvas de borracha para evitar o contato com a pele, avental de mangas longas para proteger a pele e as roupas, e máscaras ou óculos de acrílico para proteger os olhos.

É de extrema importância que o recipiente onde os peixes serão conservados seja hermeticamente fechado para não permitir que a concentração do conservante se altere. Muitos pesquisadores têm utilizado pedaços de papel filme na boca dos recipientes a fim de ajudar na conservação.

As coleções científicas têm beneficiado muitos pesquisadores que encontram material de estudo proveniente de um grande número de locais, principalmente se originário de regiões pouco exploradas.  

É importante ressaltar aqui que no Brasil um coletor deve ter licença específica para coleta, expedida pelo IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos recursos Naturais Renováveis.


Download Artigo Científico: Fatores ambientais e reprodução dos peixes

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