Temática:
Fluxo da Expressão Gênica
Independente da
forma de vida a ser considerada, todos os seres vivos seguem o mesmo padrão
básico pelo qual seus genes se manifestam. Essa ação é definida como Fluxo da
Expressão Gênica, anteriormente conhecido como Dogma Central da Biologia
Molecular, e rege os princípios básicos de diversas áreas do conhecimento
biológico, como por exemplo a genética. A descoberta do modo de como os genes
se expressam não ocorreu do dia para a noite e também não foi descoberta por um
único cientista. Na verdade, a compilação desse processo é o resultado de
décadas de duras pesquisas realizadas por centenas de estudiosos.
O princípio
básico é que a informação genética contida nos genes (DNA) é passada para uma
molécula de RNA mensageiro, o qual é traduzido, no citoplasma, pelos ribossomos
em proteína. Fazendo-se uma analogia, podemos considerar que o DNA é a receita
de um bolo.
Entretanto, essa receita está escrita em um
idioma desconhecido e está guardada em um local de onde ela não pode
sair. Como é impossível retirar essa receita desse recinto, fazemos uma
cópia dela em um pedaço de papel e a levamos para alguém que conheça
esse idioma e nos traduza. Essa tradução é o próprio bolo pronto. Assim,
a receita é o DNA, o local de onde ela não pode ser removida é o núcleo
celular, o papel que contém a cópia da receita é o mRNA, a pessoa que o
traduziu é o ribossoma e o bolo é a proteína. Entretanto, ainda faltam
os ingredientes. Esses são representados pelos aminoácidos. As pessoas
qu foram buscar os ingredientes são conhecidas como tRNA (RNA
transportadores).
TRANSCRIÇÃO
DO DNA
O DNA humano
possui aproximadamente 2 metros de comprimento, caso esticado em linha reta.
Nesse DNA encontramos entre 20.000 a 30.000 genes, cada um deles determinando a
sequência de aminoácidos que encontraremos em uma proteína.
Para iniciar a
transcrição gênica, a enzima RNA polimerase necessita reconhecer uma sequência
específica de nucleotídeos conhecida como região
promotora. Essa região é responsável pela iniciação do processo de
transcrição gênica, sendo que ela pode estar livre ou recoberta por alguns
fatores. Caso alguma molécula se ligue a ela, impedindo a ligação da RNA
polimerase, dizemos que o gene está inativado. Isso é muito comum, uma vez que
todas as células de um organismo possuem os mesmos genes, mas somente alguns
são expressos por elas. Assim, a melanina é expressa em células do tecido
epitelial (melanócitos) ao passo que nas células ósseas ela não é expressa.
A região promotora (em laranja) pode ficar
próxima ou bem distante do gene que ela opera. Uma vez que a RNA polimerase se
liga a essa região, ela desliza sobre a molécula de DNA até encontrar uma
sequência específica de bases nitrogenadas, conhecida como sítio de iniciação,
que determina o início da síntese da cadeia polinucleotídica de mRNA. Em
eucariotos existem três tipos de RNA polimerases que atuam na síntese de mRNA.
Elas são conhecidas como RNA polimerase I, II e III. A RNA polimerase I é
responsável pela síntese de grandes RNAs ribossomais (transcreve as regiões do
DNA que contém os genes para RNA ribossômico – rRNA), a RNA polimerase II é
responsável pela transcrição dos genes que serão traduzidos em proteínas (RNA
mensageiros que, por sua vez, serão traduzidos para a produção de proteínas) e
a RNA polimerase III produz uma variedade de RNAs pequenos, incluindo o rRNA 5s
e os RNAs de transferência. Todas as polimerases (DNA polimerase e RNA
polimerase) somente sintetizam suas respectivas cadeias polinucleotídicas no
sentido 5' → 3'. Portanto, como as fitas de DNA são antiparalelas, as
polimerases “leem” a fitas 3' → 5', sintetizando, assim, uma cadeia
complementar cuja sequência é 5' → 3'.
Não é somente a
RNA polimerase que atua na produção do mRNA. Na verdade ela é auxiliada por
diversas proteínas e enzimas, que jutas formam o que chamamos de maquinaria de transcrição gênica.
Dentre as enzimas encontradas nessa maquinaria destacamos a helicase, que abre a dupla fita
de DNA expondo as bases nitrogenadas que servirão de molde para a síntese de
mRNA. Ela atua rompendo as pontes de hidrogênio entre as bases das duas fitas
de DNA. Entretanto, essa dupla fita pode voltar a formar pontes de hidrogênio
assim que a helicase passar, como se fosse um zíper, o que é evitado com a
ligação de diversos fatores a essas regiões.
Ao deslizar
pelo DNA já aberto, a RNA polimerase (no caso a RNA polimerase II) passa a
sintetizar a molécula de RNA mensageiro lendo a fita 3' → 5' e adicionando os
nucleotídeos livres na sequência complementar à fita molde. Assim, se
encontramos na fita molde a base citosina (C), a RNA polimerase adicionará à
cadeia a base guanina (G). Se a próxima base na fita molde for a timina (T), a
RNA polimerase adicionará uma adenina (A) à cadeia. Entretanto, se a base
encontrada na fita molde for a adenina (A), a RNA polimerase deveria adicionar
uma timina (T), fato que não acontece, pois a base timina não é encontrada em
nenhum tipo de RNA, sendo substituída, então, pela base nitrogenada uracila
(U). Assim, sempre que a RNA polimerase ler a base A, ela adicionará a base U
ao mRNA.
Dessa forma a
síntese de mRNA desenrola-se ao longo da molécula de DNA, somente parando
quando a RNA polimerase encontrar uma sequência de nucleotídeos específica,
conhecida como região de terminação.
Nesse momento a molécula de mRNA recém-sintetizada é liberada e toda a
maquinaria é desmontada. Esse mRNA recém-sintetizado é conhecido como hnRNA (RNA nuclear heterogêneo, sigla em
inglês), devido ao seu grande tamanho quando comparado aos maiores RNAs que
seriam necessários para produzir as proteínas. Isso ocorre pelo fato de
existirem diversas regiões que não são codificantes no mRNA.
Conforme esses
mRNA vão sendo sintetizados, suas extremidades vão sofrendo alterações que tem
por finalidade proteger essas moléculas, evitando a sua degradação. Para isso,
a extremidade 5' da fita recém-sintetizada (é a região que é exposta primeiro pelo
fato da polimerase sintetizar somente no sentido 5' → 3') é modificada pela
adição de um nucleotídeo G metilado, formando um “quepe”. Esse quepe, além de
proteger o mRNA, será de grande importância no momento da tradução desse
mRNA. Ao encontrar o sinal de terminação, a RNA polimerase adiciona uma
sequência longa de nucleotídeos A, formando uma “cauda poli A”, a qual
protege a extremidade 3'.
Temática:
Transcrição do DNA
Vimos na aula
anterior os passos iniciais da transcrição do DNA em m molécula de mRNA. Essa
molécula recém-sintetizada é conhecida como hnRNA (RNA nuclear heterogêneo),
pelo fato de ser muito maior do que um mRNA para sintetizar uma proteína.
Os eucariotos,
durante a evolução, adotaram uma tática de proteção do genoma que consiste em
inserir regiões não codificantes no meio dos genes. Isso assegura à célula que
uma mutação causada aleatoriamente não necessariamente atingirá uma região que
codifica uma proteína, o que comprometeria todo um organismo. Assim, quando se
inserem regiões que não fazem sentido nenhum do ponto de vista informacional,
uma mutação que ocorra nessa região não afetará de maneira alguma a célula.
Em procariotos
não existe a presença de regiões não codificantes em seu genoma. Inicialmente,
o estudo do material genético era realizado em bactérias e, quando se passou a
estudar os genomas eucariotos a descoberta dessas regiões foram realmente
surpreendentes.
Embora não
representado em detalhes, o splincing do RNA consiste na formação de
alças nas regiões intrônicas, as quais serão cortadas e removidas por enzimas especiais,
entre elas uma ligase, a
qual ligará as duas extremidades criadas após o corte da molécula. Todas as
enzimas e fatores necessários para o splicing do mRNA formam um grande
complexo chamado de spliceossomo.
O splicing do mRNA deve ser muito preciso,
uma vez que a remoção de uma única base a mais fará com que a leitura do
mRNA no ribossomo seja alterada e, consequentemente, a mensagem se tornará sem
sentido.
Como não existe
nenhum impedimento para que uma extremidade 5' do mRNA seja ligada a uma
extremidade 3' qualquer do mesmo mRNA, o splicing permite que ocorra uma troca
na ordem primária dos éxons, o que aumenta drasticamente a quantidade de
proteínas diferentes codificadas por um mesmo gene. Assim, por exemplo, podemos
imaginar uma sequência primária de éxons nomeadas aleatoriamente como A – B – C
– D – E. Durante o Splicing podem ser formadas qualquer sequência que envolvam
esses cinco éxons, como por exemplo C – E – A – D – B ou B – E – C – A –
D. Portanto, chegamos a conclusão de que a presença de regiões não
codificantes nos genomas eucarióticos adquiridas durante a evolução desempenham
duas importantes funções: a) proteger o genoma de mutações que possam ocorrer
aleatoriamente em seus genes e, b) produzir uma quantidade de proteínas na
célula que são em número muito maiores do que o esperado, quando se leva em
conta a quantidade de genes que determinada espécie possui.
Após ter
passado pelo processo de splicing,
as moléculas de mRNA são reconhecidas por proteínas do poro nuclear e
transportadas para o citoplasma. Caso alguma molécula de mRNA marcada para splicing passe diretamente para o citoplasma
junto com alguma outra molécula de mRNA já processada, ela é imediatamente
levada de volta ao núcleo celular e processada pelo spliceossomo.
Com a chegada
do mRNA ao citoplasma será dado início ao processo de tradução gênica.
Temática:
Tradução Gênica
Todos os seres
vivos expressam suas características por meio de um código universal, conhecido
como Código Genético. Por meio desse código as informações armazenadas no DNA
em forma de uma sequência lógica de bases nitrogenadas adquirem forma e função
através das proteínas, o produto final da informação genética.
Vimos nas aulas
anteriores como a cópia da mensagem genética é realizada pela célula,
convertendo essa mensagem a partir da sua forma original, o DNA, para o mRNA.
Vimos também que antes de deixar o núcleo celular esse mRNA sofre diversas
modificações até se transformar em um mRNA “maduro” e deixar o núcleo por meio
do seu reconhecimento por proteínas específicas dos poros nucleares, indo em
direção ao citoplasma.
É no citoplasma
que a fase de montagem das proteínas, fase essa conhecida como TRADUÇÃO GÊNICA,
ocorre, uma vez que lá se encontram os principais personagens que farão esse
trabalho, os ribossomos.
Os ribossomos podem ser encontrados tanto livres ou em grupos no citoplasma
como também podem ser encontrados aderidos à membrana do retículo
endoplasmático granular. Embora possuam as mesmas características básicas, eles
diferem quanto ao destino final da proteína por eles sintetizada. Quando um
mRNA é traduzido por ribossomos encontrados no citoplasma da célula, a proteína
tem como destino final a própria célula, ou seja, a proteína desempenhará suas
funções no interior da célula. De modo inverso, os mRNAs traduzidos nos
ribossomos do retículo endoplasmático granular produzirão proteínas que serão
exportadas, ou seja, elas seguirão uma rota biossintética cujo destino final
não é a própria célula, podendo ir para diversos locais diferentes, desde o
sangue, como ocorre com a insulina (hormônio proteico produzido pelas células
beta do pâncreas) até a matriz celular adjacente, como ocorre com o
colágeno.
Embora possuam destinos diferentes, os
processos básicos são os mesmos tanto para os ribossomos
encontrados no citoplasma como para os encontrados no retículo
endoplasmático granular. Entretanto, é bom lembrar que ribossomos
procarióticos são diferentes dos ribossomos eucarióticos. Eles diferem no
tamanho de suas subunidades, fazendo dos ribossomos procarióticos
excelentes alvos para drogas antibióticas.
Além da
presença dos ribossomos, é necessário também a presença de várias outras
moléculas para a tradução gênica, entre elas o tRNA (RNA
transportadores). Os tRNAs são responsáveis pelo transporte dos
aminoácidos até o seu ponto de montagem, ou seja, no interior dos
ribossomos. Sua estrutura é similar ao próprio mRNA, sendo formado por
apenas uma fita onde as bases nitrogenadas ficam expostas.
Entretanto, diferente dos outros tipos de RNAs, o tRNA assume a
conformação de um trevo, como mostrado na imagem. Observe a região em destacada
em vermelho. Essa região corresponde ao que chamamos de anticódon. Nela
encontramos uma sequência de três bases nitrogenadas que determinam qual o tipo
de aminoácido que é transportado por esse tRNA. Como existem quatro tipos de
bases nitrogenadas que podem ocupar essa região (A, U, C ou G) teríamos então a
possibilidade de formar 43 combinações diferentes, ou seja, 64 tipos
de combinações, cada uma delas indicando um aminoácido.
Entretanto,
existem apenas 20 tipos diferentes de aminoácidos encontrados nos seres vivos. Uma análise mais detalhada, que por sinal levou vários
anos, revelou que mais de um tipo de tRNA pode conduzir o mesmo aminoácido.
Esse fato nos demonstrou que o código genético é degenerado. Como exemplo
podemos citar o aminoácido Leucina, o qual é codificado pelas seguintes trincas
de bases nitrogenadas no mRNA (códon): CUU, CUC, CUA, CUG, UUA e UUG. A
primeira vista parece uma verdadeira confusão, onde a vida parece ter emergido
de sequências não tão bem definidas. Entretanto, ao olharmos para os fatos com
maior acuidade, veremos que essa degeneração do código genético é mais uma
forma de proteção da informação genética. Se por um lado temos diversos
mecanismos que evitam, ou dificultam, as mutações, que nem sempre podem
funcionar devido ao enorme tamanho do DNA e assim aumenta a probabilidade delas
ocorrerem, por outro temos uma rota de escapatória caso uma mutação ocorra.
Assim, supondo que a informação genética que definiria a presença dos
aminoácidos Leucina inicialmente pela sequência CUU tenha sofrido uma mutação
ao acaso, passando a CUC, o aminoácido codificado ainda será o mesmo, e a
proteína não sofrerá nenhuma alteração. Podemos ainda prever duas mutações na
mesma trinca indicada acima, passando ela de CUC para UUA (note que o primeiro
C foi substituído por um U e o último por um A), e mesmo assim o aminoácido
ainda será a Leucina.
Como
vimos a sequência de três bases nitrogenadas encontradas no tRNA é chamada de anticódon. Isso ocorre pela
fato de haver um pareamento entre as bases do tRNA e do mRNA durante a tradução
da informação genética. A sequência de bases encontrada no mRNA é conhecida
como códon, e é por meio dessa trinca de bases que os aminoácidos são ordenados
de acordo com a informação genética. Da mesma forma como ocorre no DNA, as
bases do tRNA e do mRNA formam pares. Por exemplo, se a sequência de bases do
códon for AUG, o tRNA que possuir o anticódon UAC pareará com ele.
Como já mencionado anteriormente,
a tradução gênica ocorre dentro dos ribossomos. Conhecer sua estrutura é
fundamental para compreender o processo de tradução que nele ocorre. Os
ribossomos são formados por duas subunidades, conhecidas como subunidade
maior e subunidade menor. A imagem A mostra a subunidade
menor, e a imagem B mostra a subunidade maior, ambas vistas de lado e
frontalmente. Nelas encontramos as regiões: 1) cabeça; 2) plataforma; 3) base;
4) cume; 5) protuberância central; 6) parte de trás; 7) talo e 8) parte da
frente.
Essas subunidades se unem,
formando o ribossoma, como mostrado na sequência, onde 1 representa a
subunidade maior e 2 a subunidade menor. A subunidade maior apresenta três
regiões distintas para a ligação dos tRNAs. Elas são conhecidas como região A,
região P e região E, sendo que a região E é responsável pela ligação da
molécula de mRNA e as outras duas pela ligação dos tRNAs.
O ribossomo é montado em
cima de uma molécula de mRNA, fazendo com que dessa forma o mRNA fique no
interior dele. A síntese de proteína ocorre pelo deslizamento do ribossomo ao
longo da cadeia de mRNA. A primeira etapa da síntese consiste na ligação de uma
molécula de aminoacil-tRNA ao sítio A, que está desocupado (ao lado do sítio P,
já ocupado pelo aminoácido metionina, pois a sequência de iniciação é AUG),
fazendo o pareamento das bases expostas no sítio A. A seguir, a extremidade
carboxil do polipeptídeo em crescimento se separa da molécula de tRNA no sítio
P e se liga por meio de uma ligação peptídica a uma molécula de tRNA localizada
no sítio A. Após a formação da ligação peptídica, o novo peptidil-tRNA
recém-formado e localizado ainda no sítio A é translocado para o sítio P e o
ribossomo desliza na direção contrária, exatamente três nucleotídeos no mRNA.
Assim, ele lê quais são esses três novos nucleotídeos expostos e promove o
acoplamento de um tRNA que possua o anticódon correto para aquele códon
exposto. Esse passo da reação é energeticamente desfavorável e, assim, está
acoplada a hidrólise do GTP. A seguir, o processo de formação de uma ligação
peptídica ocorre novamente, bem como o deslocamento do ribossoma pelo mRNA.
Dessa forma, o mRNA vai tendo seus códons expostos e o pareamento com o
anticódon localizado no tRNA específico vai ocorrendo.
No momento em que o
ribossomo encontrar um dos códons UAA, UAG ou UGA ele não encontra nenhum tRNA
com um anticódon correspondente. Essas sequências são conhecidas como códons
de terminação e indicam o final da cadeia polipeptídica. Ao encontrar essa
sequência, o complexo de tradução é desmontado e o polipeptídeo é liberado.
Como todos os processos
naturais, a síntese de proteínas busca gastar o mínimo de energia
possível. Assim, para expressar um determinado gene cujo produto deve ocorrer
em grandes concentrações, como a melanina na pele, a célula não precisa
necessariamente transcrever o mesmo gene milhares de vezes, produzindo um mRNA
para cada proteína. O mRNA pode estar ligado a vários ribossomos, um na
sequência do outro, formando o que chamamos de polirribossomos. Assim,
conforme o primeiro ribossomo vai deslizando sobre o mRNA, ele vai deixando
parte dele para trás e continua assim até o final. Outros ribossomos vão se
ligando à região do mRNA já traduzida, iniciando, assim, a síntese do mesmo
polipeptídeo sem a necessidade de um novo mRNA.
Agora nos surge a questão do
que aconteceria com a cadeia polipeptídica se houvesse uma mutação no DNA que
alterasse algum, ou alguns, nucleotídeos. Já demonstramos anteriormente que uma
mutação não obrigatoriamente conduz à alterações no polipeptídeo final.
Entretanto, algumas mutações passam desapercebidas pela célula e provocam
alterações no produto final do gene. Essa é a base para a compreensão dos
mecanismos do câncer, tema que será abordado em mais detalhes nas aulas 31 e
32. Vamos supor uma mutação que altere a sequência de iniciação da tradução de
AUG para AUA. O códon AUG determinava o aminoácido metionina, que é a sequência
de reconhecimento da maquinaria de tradução. Ao sofrer uma mutação desse tipo o
gene acaba por ser inativado irreversivelmente, uma vez que a maquinaria vai
procurar essa mesma sequência e não a encontrará, e assim, não sintetizará o
polipeptídeo, mesmo embora ele tenha sido transcrito do DNA. Essa transcrição
ocorreu mesmo com o gene mutado porque o controle da transcrição é efetuado
pelo promotor, que está distante do gene em questão.
Vamos supor agora que uma
mutação alterou um códon que não seja nem o códon de iniciação nem o códon de
terminação. A alteração do códon UUU por UUG levou à troca do aminoácido
fenilalanina por um aminoácido valina. Essa alteração provocará mudanças na
conformação espacial (estrutura terciária) da proteína, podendo fazer com que
ela perca completamente sua função. Como cada aminoácido difere um do outro apenas
pela sua cadeia lateral, cadeias laterais com propriedades parecidas podem não
fazer tanta diferença quando trocados, ao passo que cadeia laterais com
propriedades completamente diferentes induzem alterações drásticas nas
proteínas mutantes.
Temática:
Alterações Pós-Traducionais
Vimos anteriormente
os mecanismos básicos de síntese
de proteínas, desde a transcrição do gene em mRNA até a sua tradução na cadeia
polipeptídicas. Em seguida estudamos como as proteínas desempenham suas funções
na célula, partindo do princípio que sua estrutura determina sua função. Hoje
completaremos o estudo da tradução gênica considerando as alterações que
ocorrem nas proteínas após sua tradução pelos ribossomos.
Nenhum ser vivo
trabalha com processos 100% fiéis. Sempre ocorrem erros, mas durante a
evolução, mecanismos que permitiam diminuir a frequência desses erros foram
selecionados de forma benéfica. Em relação à síntese
de proteínas, a taxa de erro é de apenas 1 aminoácido incorporado
incorretamente para cada 104(10.000) aminoácidos incorporados de
maneira correta. Assim, espera-se que para cada 25 proteínas com um tamanho
médio de 400 aminoácidos em sua cadeia polipeptídica exista uma proteína com um
erro.
Após a proteína
ser completamente sintetizada ela ainda sofre diversas modificações. Essas
modificações incluem a adição de grupamentos químicos com características
específicas, os quais passam alteram as propriedades finais das proteínas.
Essas alterações podem ser a simples adição de um grupo fosfato que, nesse
caso, é uma reação conhecida como fosforilação.
Pode ocorrer também a adição de um grupo metil (metilação). Enfim, uma
infinidade de alterações pós-traducionais podem ocorrer, todas elas fornecendo
características específicas à proteína.
Essas
alterações além de configurar uma nova propriedade às proteínas servem também
como processos regulatórios. Para se ter uma ideia, cerca de 10% das proteínas
presentes em uma célula de mamífero estão fosforiladas, embora pesquisas mais
recentes apontem para cerca de 30%. Isso reflete a importância desses
mecanismos de controle de atividade das proteínas.
A fosforilação
de proteínas atua de forma a “ligar” e “desligar” as proteínas. A fosforilação
é uma reação catalizadas por enzimas especiais chamadas proteínas quinases e a desfosforilação é catalizadas por
enzimas denominadas fosfatases.
Geralmente a fosforilação ocorre em múltiplos sítios da proteína. A imagem ao
lado representa o aminoácido serina fosforilado e logo abaixo se encontra o
grupamento fosfato inorgânico, o qual foi adicionado ao aminoácido serina.
Obviamente que se uma proteína é fosforilada isso ocorrerá em seus
constituintes, os aminoácidos.
Com o
aprimoramento das técnicas de estudos moleculares desenvolveram-se anticorpos
específicos para detectar proteínas em estado fosforilado. Esses anticorpos são
denominados anticorpos fosfo-específicos e podem identificar um grupo fosfato
em qualquer sítio de ligação dele com a proteína. Hoje existem centenas desses
anticorpos disponíveis para pesquisa, sendo muito utilizados não somente em
pesquisas, mas também em diagnósticos clínicos.
O aminoácido
mais comumente fosforilado é a serina, a qual está representada na imagem
acima. Em segundo lugar aparece o aminoácido treonina. Já em relação à
tirosina, ela raramente aparece fosforilada nas células. Em procariotos a
fosforilação dos aminoácidos histidina e aspartato são frequentes, fazendo
deles partes de dois componentes de sinalização celular.
Outra tipo
importante de quinase são as proteínas quinases
tirosina específicas. Elas são receptores transmembrana com o seu domínio
quinase voltado para o citoplasma, sendo responsáveis pela transdução de
sinais. Elas estão relacionadas a importantes eventos celulares como, por
exemplo, regulação da divisão e proliferação celular e morfogênese.
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