Já sabemos que as plantas não são objetos estáticos. São seres vivos bem
organizados que processam matéria e energia em seu ambiente. As necessidades
vitais de uma planta para crescer é a luz a partir do sol, o dióxido de carbono
a partir do ar e água e minerais a partir do solo.
Os fatores externos que influenciam o crescimento das
plantas são a luz, a temperatura, o fotoperíodo e a
gravidade. Os fatores internos que mais influenciam o
crescimento das plantas são conhecidos como reguladores de crescimento, ou
comumente conhecidos como fitormônios.
Fitormônios são substâncias orgânicas, de ocorrência natural
nas plantas, que em baixa concentração promove, inibe ou modifica processos
morfológicos e fisiológicos, segundo RAVEN et al. (2007). As características
gerais dos fitormônios são: biossíntese em um tecido e transporte para
outro tecido; atuam dentro do mesmo tecido onde são produzidos e são ativos em
quantidades muito pequenas.
Até o momento, são conhecidos cinco tipos de fitormônios: Auxinas
(AIA), Giberelinas (GB), Citocininas (CK), Ácido
Abscísico (ABA) e o Etileno (C2H4).
A auxina foi o primeiro fitormônio descoberto. Em 1881, Charles
Darwin, em observações sobre a inclinação ou encurvamento de coleóptilos de
alpiste em direção à luz (experimentos fototrópicos), concluiu que um estímulo
para o crescimento era produzido no ápice do coleóptilo, sendo transmitido para
a zona de crescimento. Quando o ápice era removido ou coberto, não havia
curvatura. Veja na figura 1.
Em 1926, o pesquisador Frits W. Went isolou uma
substância ativa na promoção do crescimento, na qual denominou de Auxina (do
grego auxein = crescer ou alongar).
A primeira auxina natural isolada foi o ácido indol-3-acético (AIA), a mais importante e abundante que ocorre nas plantas (figura 2).
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Figura 2 – Estrutura química do ácido indol-3-acético (AIA). Fonte: MERCIER (2004), p. 219. |
Alguns experimentos demonstraram que o aminoácido triptofano é
o precursor da síntese do AIA, através de várias rotas de conversão. A sua biossíntese está
intimamente ligada a locais de rápida divisão celular, como no
meristema apical caulinar, folhas jovens, frutos em desenvolvimento e em
sementes.
As auxinas são transportadas polarmente, isto é,
unidirecional, ocorrendo do ápice para a base, célula a célula. O transporte
também pode ser feito através do floema.
O transporte polar das auxinas pode ser explicado pela Hipótese
Quimiosmótica. De acordo com esta hipótese, a entrada e saída de AIA das
células se dão por processos passivos (sem gasto de energia),
dependentes de um gradiente eletroquímico favorável entre o apoplasto e o
citoplasma da célula. Com técnicas recentes de biologia molecular foram
descobertos transportadores de AIA (bombas de prótons –
ATPases) na membrana plasmática. Esses transportadores previnem o acúmulo de
íons H+ no citoplasma.
A sensibilidade das células à auxina varia nas diferentes partes da
planta. O caule é pouco sensível à auxina, isto é, necessita de
grande quantidade de auxina suficiente para induzir crescimento do caule. A raiz,
por sua vez, é extremamente sensível à auxina, necessitando de
pequenas doses.
Principais efeitos fisiológicos da auxina são divisão, expansão, crescimento e diferenciação
celular. A Hipótese do Crescimento Ácido, proposta em
1970, postula que o alongamento da parede celular é devido a uma
acidificação da parede celular. Essa acidificação é feita devido o estímulo
do AIA às bombas de prótons em um compartimento da parede celular.
Após a acidificação, ocorre ativação de enzimas causadoras do
afrouxamento da parede celular, o que possibilitaria expansão celular no
interior da célula.
Um outro efeito fisiológico da auxina é a dominância apical.
A gema apical exerce um efeito inibidor sobre o desenvolvimento das gemas
laterais. Com aeliminação do ápice de um caule, as gemas
laterais passam a ser desenvolver, produzindo ramos. É o princípio da
antiga técnica de jardinagem chamada poda.
O crescimento dos frutos é estimulado pela auxina
liberada pelas sementes em formação, sendo considerado um outro importante efeito
fisiológico das auxinas.
A Giberelina e a Citocinina.
Alguns agricultores japoneses, na década de 20, perceberam que uma
doença causava o crescimento anormal de algumas plantas de arroz, prejudicando
a produção de sementes. Essa doença ficou conhecida com a doença das
plantinhas loucas. Os fitopatalogistas detectaram que o crescimento anormal
das plantas de arroz era provocado por uma substância liberada pelo fungo Gibberella
fujikuroi, que produzia plantas anormais e com coloração pálida. Essa
substância foi isolada e denominada Giberelina (GB).
Na década de 30 os pesquisadores japoneses elucidaram a estrutura
química, denominando-a de ácido giberélico. De acordo com Peres
& Kerbauy (2004), até hoje, já foram identificadas mais de 100 giberelinas,
de diferentes formas, onde o ácido giberélico é o principal componente. A
característica comum das giberelinas é o fato de que são derivadas da estrutura
do anel ent-kaurênico, tendo como precursor o ácido
mevalônico.
A biossíntese das giberelinas é feita em tecidos
jovens do sistema caulinar e em sementes em desenvolvimento.
O transporte das giberelinas, em plântulas, é feito através do floema e
através do xilema quando é transportado a partir das raízes.
Os principais efeitos fisiológicos provocados pelas
giberelinas são o alongamento do sistema caulinar e divisão
celular em células jovens. A giberelina é usada para aumentar o
tamanho de algumas plantas que não se desenvolvem normalmente, sendo chamadas
de plantas-anãs. O efeito da giberelina nessas plantas é o
alongamento dos entrenós, aumentando a altura das plantas.
A indução da germinação de sementes é um outro
importante efeito fisiológico. Algumas sementes necessitam de um
pré-tratamento para poder germinar (seja exposição das sementes à luz ou ao
frio). A aplicação de giberelinas substitui esses pré-tratamentos,
interrompendo a dormência, promovendo o crescimento do embrião e a posterior
emergência da plântula.
Plantas em rosetas (folhas se desenvolvem sem alongamento dos entrenós),
como por exemplo, as bromélias necessitam de indução pela exposição a dias
longos ou ao frio, para poderem florescer. A aplicação de giberelinas substitui
a exposição das plantas em rosetas a dias longos ou ao frio, sendo o estímulo
à floração, outro efeito fisiológico.
Veremos agora outro fitormônio. Em 1941 o pesquisador Johannes
van Oberbeek estudando endorperma líquido de coco (Cocos nucifera),
observou que nesse endorperma havia um acelerador de
desenvolvimento, que promovia divisão celular. Em 1955, os
pesquisadores Carlos Miller e Folke Shoog isolaram acinetina da
água de coco (MILLER et al. 1955). Essa cinetina tem atuação
sobre o processo de citocinese, ou seja, a divisão do citoplasma celular após a
divisão do núcleo. SHOOG et al. (1965) propuseram o termo Citocinina para
todos os compostos com atividade biológica capazes de promover citocinese em
células vegetais.
A primeira citocinina natural foi isolada 20 anos mais
tarde, em extrato de milho verde (Zea mays), sendo chamada de zeatina.
Todas as citocininas naturais são derivadas da adenina.
Sendo derivadas das adeninas, a biossíntese da
citocinina é feita primariamente no ápice radicular, mas também
pode ocorrer em ápices caulinares. O transporte da
citocinina é realizado da raiz para a parte aérea através do xilema,
mas também foram encontradas citocininas no floema, durante a
translocação de assimilados de folhas senescentes (órgãos-fontes) para partes
jovens (órgãos-drenos).
Os principais efeitos fisiológicos das citocininas são divisão
celular, promoção de formação de sistemas caulinares e atraso
na senescência foliar. De maneira experimental, quando uma folha senescente
de tabaco foi tratada com uma solução de citocinina em áreas limitadas,
observou-se uma inibição localizada no local da folha tratada.
Podemos visualizar esse experimento na figura abaixo, observando duas áreas que
se mantiveram verdes, enquanto a área restante da folha, continuava senescente
(figura 1).
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Figura 1 – Efeitos fisiológicos das citocininas em folhas. Fonte: PERES & KERBAUY (2004), p. 266. |
Um pouco sobre o
Ácido Abscísico.
O ácido abscísico (ABA) é um fitormônio que regula
vários processos no ciclo de vida das plantas. Por isso, vamos dar uma atenção
especial a ele. Mas como foi a descoberta desse fitormônio?
Na década de 40, já se conhecia algum efeito dos extratos vegetais na
promoção da dormência em gemas e em sementes. Em 1949, o pesquisador Wareing e
colaboradores, ao estudar gemas dormentes de batata, perceberam uma grande
quantidade de um inibidor de crescimento. Os autores denominaram essa
substância de dormina. Algum tempo depois Addicott, em 1960,
descobriu, em folhas e frutos de algodão, uma substância capaz de acelerar a
abscisão e a chamou de abscisina.
Esses pesquisadores tomaram conhecimento das substâncias dormina e
abscisina e constataram que abscisina e dormina eram quimicamente
idênticas, porém com efeitos diferentes. Na 6ª Conferência Internacional de
Substâncias de Crescimento Vegetal, em 1967, estabeleceu-se o nome de Ácido
Abscísico com sigla de abreviação ABA. Veja a estrutura
química desse fitormônio na figura 1.
O ácido abscísico está presente em todas as plantas vasculares,
ocorrendo também em alguns musgos, algas verdes e fungos. Segundo
Stacciarini-Seraphin (2004), esse fitormônio foi identificado em alguns
mamíferos, tendo sido atribuído à alimentação dos animais e não à síntese
nesses organismos.
O precursor do ácido abscísico é o ácido
mevalônico. Esse fitormônio é biossintetizado em folhas
maduras, em resposta ao estresse hídrico e emsementes. Pode ser transportado pelo floema, xilema e
também através das células parenquimáticas.
Proteção ao estresse hídrico é um dos principais efeitos
fisiológicos do ABA nas plantas. Algumas raízes são capazes de
perceber a redução na disponibilidade de água no solo. As células radiculares
fazem o envio de sinais químicos (positivo ou negativo), através de moléculas
sinalizadoras que vão atuar sobre o mecanismo estomático, regulando as trocas
gasosas.
O desenvolvimento das sementes é dependente do ABA.
Sabe-se que a quantidade de ABA aumenta na fase inicial do desenvolvimento das
sementes. Este aumento estimula a produção de proteínas de reservas na semente.
Além disso, o ABA é o responsável por inibir a germinação prematura das
sementes. A quebra de dormência em muitas sementes é atribuída ao declínio do
nível do ABA.
As folhas das plantas são órgãos capazes de perceber os estímulos
ambientais. Caso esse sinal seja negativo, ocorre sinalização química que
desencadeia a síntese do ABA que é imediatamente transportado para as gemas,
onde provoca a dormência, isto é, provoca parada no desenvolvimento dessas
gemas. Por tanto, um outro efeito fisiológico do ABA é a dormência de
gemas.
Até o momento, não se sabe porque as plantas envelhecem, ou seja,
senescem. Embora essa condição de envelhecimento não esteja bem elucidada
cientificamente, sabe-se que a senescência é um balanço entre
substâncias promotoras e inibitórias que provocam envelhecimento nos tecidos,
sendo variáveis. Além disso, ferimentos causados por herbivoria ou injúria
mecânica desencadeiam a síntese de ABA que auxiliará no processo de cicatrização.
Vamos conhecer agora o último dos fitormônios, o Etileno.
O etileno é um gás que representa uma das moléculas orgânicas mais
simples com atividade biológica. O pesquisador Girardin, em 1864,
verificou que algumas plantas expostas ao gás de iluminação pública senesciam e
perdiam as folhas. Após alguns anos, Girardin identificou o etileno com
um dos componentes do gás da iluminação pública.
Em 1893, na Ilha de Açores, foi observado que plantas de abacaxi
cultivadas em casa de vegetação floresciam após serem expostas à fumaça da
queima da serragem de madeira. Após 40 anos, em Porto Rico, os agricultores
passaram a induzir a floração de plantas de abacaxi com fumaça por 12 horas. A
fumaça ajuda a iniciar e sincronizar a floração destas plantas.
A primeira indicação de que o etileno era um produto natural dos tecidos
vegetais foi registrada em 1910, pelo pesquisador Cousin. O autor dizia que o
amadurecimento prematuro de bananas poderia ser evitado se essas frutas não
fossem armazenadas com laranjas. Entre os anos de 1917 e 1913 foram realizados
vários experimentos sobre o efeito do etileno no amadurecimento de frutos.
O etileno pode ser produzido por vários organismos, desde
bactérias, fungos, algas, musgos e até plantas vasculares, como as samambaias,
gimnospermas e angiospermas.
O etileno pode ser produzido por todas as partes das
plantas superiores. Os tecidos meristemáticos e nodais geralmente
apresentam produção elevada do gás, sendo observada sua produção também durante
a abscisão de folhas, senescência de flores e
durante o amadurecimento de frutos. Por ser um gás,move-se por
difusão do seu local de síntese.
Um dos principais efeitos fisiológicos do etileno é o amadurecimento
de frutos, como já vimos no início da aula. Os frutos carnosos são
divididos em dois grandes grupos distintos: Frutos climatérios e Frutos
não-climatérios.
Os Frutos climatérios têm elevada taxa de
respiração e produção de altos teores de etileno durante
o amadurecimento dos frutos. São exemplos de frutos climatérios: maçã, banana,
tomate, figo, abacate, pêssego, ameixa e manga. Já os Frutos
não-climatérios são aqueles que possuem baixas taxas
respiratórias e produção de baixos teores de etileno. Exemplos
de frutos não-climatérios são: laranja, limão, morango, cereja, abacaxi e uva.
Durante o amadurecimento dos frutos, ocorre alteração da cor,
amolecimento das paredes celulares, que se tornam mais hidratadas, além de
causar alterações no sabor, sendo atribuídas ao aumento de compostos voláteis
específicos e alterações nas relações entre ácidos e açúcares.
Outro efeito fisiológico importante provocado pelo etileno é a abscisão
das folhas e frutos. A abscisão ocorre na camada ou zona de abscisão, que é
um conjunto de células diferenciadas morfo e fisiologicamente. As células mais
externas da zona de abscisão continuam a crescer; quando esse processo se
encerra, elas são suberificadas e morrem, contribuindo para a formação de uma
camada de proteção externa e, a folha cai. Veja como esse processo ocorre na
figura 1.
A
senescência não deve ser interpretada como um processo de deterioração, mas um
evento regulado geneticamente, envolvendo processos de degradação e desativação
de funções e síntese de enzimas hidrolíticas. Outro efeito fisiológico
provocado pelo etileno é a senescência
das folhas e flores. Abaixo, na figura
2, podemos observar os tipos principais de senescência de plantas superiores,
com a morte da planta inteira, sendo representada na primeira planta até a
senescência das flores, visualizada na última planta.
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Figura 2 – Senescência de folhas e flores. Fonte: COLLI (2004), p. 322, modificado. |
Outros
reguladores do crescimento
As plantas produzem uma série de compostos orgânicos envolvidos o
controle do desenvolvimento. Além dos fitormônios clássicos, bastante estudados
nos últimos 50 anos, recentemente foi verificado experimentalmente que alguns
outros compostos podem afetar as plantas. São eles: brassinosteróide
(Br),poliaminas (PAs), ácido jasmônico (AJ) e ácido
salicílico (AS).
Os Brassinosteróides foram isolados de extratos de
pólen de Brassica napus na década de 60. O primeiro esteroide
regulador das plantas foi isolado em 1979 e foi chamado de brassinolídeo.
Hoje, são conhecidos mais de 60 brassinosteroides.
Segundo COLLI (2004), os Brs são derivados do esteroide
vegetal campesterol. O principal efeito dos Brs é
o alongamento do caule, inibição do crescimento radicular, crescimento
do tubo polínico, desenrolamento das folhas de espécie da
Família Poaceae, ativação da bomba de prótons ereorganização
das microfibrilas de celulose.
As Poliaminas (PAs) são encontradas tanto em plantas
como em animais. A biossíntese das PAs é promovida pela
presença das auxinas, citocininas e giberelinas. As PAs podem ser encontradas
em vacúolos, mitocôndrias, cloroplastos e associadas às paredes celulares.
As principais funções das PAs são a divisão e
alongamento celular, iniciação floral e formação
de flores normais, maturação de frutos e de grãos
de pólen, formação adventícia de ramos e raízes e ainda
são ativas na diferenciação vascular.
O Ácido Jasmônico (AJ) foi identificado inicialmente em
plantas de Jasminum e Rosmarinus, mas sabe-se que
esse ácido distribui-se por todo o reino vegetal.
Assim como o ABA, o AJ é inibidor de crescimento e da germinação
de sementes, além de promover a senescência. A aplicação de AJ inibe
o crescimento de raízes e caules pelo bloqueio na incorporação de
glicose nos polissacarídeos das paredes celulares. Ainda, a aplicação de AJ compromete
a fotossíntese por reduzir a expressão de genes situados no núcleo e
nos cloroplastos e causar degradação de clorofilas das folhas.
Segundo Colli (2004), alguns outros autores sugerem que o AJ esteja
envolvido na expressão de genes de defesa e de sinalização das
respostas aos estresses, tais como, herbivoria, dessecação, dano mecânico
ou osmótico.
O Ácido Salicílico (AS) é um composto fenólico contendo
um anel aromático ligado a um grupo hidroxil ou ao seu derivado
funcional. Foi primeiramente descoberto na casca de Salix, sendo
encontrado principalmente nas folhas e nas flores de praticamente todas as
plantas.
O AS é biossintetizado através da via do fenilpropanoide.
A aplicação do AS pode causar inibição do crescimento da planta por
interferir na absorção das raízes, reduzir a transpiração e
causar abscisão das folhas.
Além disso, pode alterar o transporte de íons,
despolarizando rapidamente as membranas celulares. Interfere
negativamente na germinação de sementes, inibindo-a. Minimiza a
absorção de água e íons pelas raízes e causa alteração no
potencial eletroquímico.
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