ORIGEM DOS COMPOSTOS ORGÂNICOS
Se
pudéssemos voltar cerca de 3,5 bilhões de anos, encontraríamos um planeta Terra
muito diferente do que conseguimos ver nesse momento. As condições terrestres
nos primeiros 700 milhões de anos após a sua formação impedia a existência de
qualquer tipo de vida. Durante milhões de anos a Terra resfriou-se,
transformando-se lentamente. A atmosfera primitiva provavelmente continha
apenas os gases CH4 (metano), NH3 (amônia), H2 (hidrogênio) e H2O(g) (água).
Esses gases, quando misturados em laboratório e expostos à radiação
ultravioleta e/ou descargas elétricas, podem formar moléculas orgânicas
simples, como alguns aminoácidos e nucleotídeos, os precursores das proteínas e
ácidos nucleicos, respectivamente. Esse experimento foi conduzido pela primeira
vez por Stanley Lloyd Miller (n. 1930), um então eminente estudante de química.
Miller tentou simular em seu experimento as condições existentes na Terra
primitiva. As descargas elétricas simulavam os raios que atingiam a superfície
terrestre a todo momento, decorrentes de chuvas torrenciais que duraram
milhares de anos. A radiação ultravioleta simulava essa radiação originada no
Sol, uma vez que ainda não existia a camada de ozônio (O3)
para filtrar esses feixes.
A
partir dessas premissas, a evolução química ganhou destaque no meio científico.
Por meio dela, a vida teve origem na Terra. Entretanto, estudos atuais têm
demonstrado que microrganismos poderiam ter chegado à Terra se estivessem
inseridos no interior dos meteoritos, local onde a temperatura não é muito
elevada quando comparada à superfície do mesmo, quando este entra na atmosfera
terrestre. Assim, uma das grandes vertentes sobre a origem da vida na Terra é a
Panspermia, a qual propõe que a vida na Terra pode ter tido uma origem
extraterrestre. Verdadeira ou não, a Panspermia não resolve o problema da
origem da vida, sendo que ela apenas leva o problema para outro local, no qual
a vida deve ter se originado. De qualquer forma, as primeiras formas de vida
eram extremamente simples. Os chamados coacervados foram as primeiras estruturas
orgânicas capazes de se autorreplicar, e por isso são considerados os primeiros
seres vivos. Tais seres eram compostos por aglomerados de moléculas orgânicas
simples envoltos em moléculas de água. A partir dessas primeiras moléculas
foram surgindo outras mais complexas, diferentes em funções e estrutura.
Durante
esse semestre, além da disciplina de Biologia Molecular, você estudará a
disciplina de Bioquímica, a qual lhe fornecerá dados mais detalhados sobre a
estrutura e composição das moléculas que formam os seres vivos. De forma geral
podemos representar as moléculas constituintes dos seres vivos classificando-as
em dois grupos: moléculas inorgânicas e moléculas orgânicas. Nessa e na próxima
aula caracterizaremos de forma geral essas moléculas, dando ênfase às
macromoléculas que são de importância fundamental à Biologia Molecular: os
ácidos nucleicos e as proteínas.
COMPOSTOS
INORGÂNICOS
Os
compostos inorgânicos que formas as células são a água e os sais minerais. A
água perfaz cerca de aproximadamente 70% do corpo humano de um indivíduo
adulto, embora essa proporção varie de acordo com a idade e com o estado
fisiológico do indivíduo. Sua principal característica é ser um dipolo, o que
lhe permite dissolver quase todas as substâncias.
Note
na imagem ao lado, que do lado da molécula onde se encontram os átomos de
hidrogênio existe uma maior distribuição de cargas positivas, ao passo que do
lado da molécula onde se encontra o átomo de oxigênio há uma maior quantidade
de cargas negativas. Essa distribuição permite às moléculas de água criar
pontes de hidrogênio entre elas, o que é refletido na sua tensão superficial,
como mostra a imagem abaixo, na qual uma moeda é capaz de flutuar sobre a água.
Isso também é visto quando insetos literalmente “pousam” na água sem afundar.
Como
a distribuição eletrônica na molécula de água não é homogênea se forma então
dois polos na molécula. Assim, chamamos essas estruturas de moléculas polares.
Por outro lado existem moléculas que possuem sua distribuição eletrônica
homogênea e, por esse motivo, são chamadas de apolares (sem polos). Uma regra
química básica explica o comportamento das moléculas em termos de dissolução:
“semelhante dissolve semelhante”. Assim, moléculas apolares só poderão ser
dissolvidas em moléculas apolares e moléculas polares só serão dissolvidas em
moléculas polares.
Outro fator físico importante para a molécula
de água é a sua grande capacidade de absorver calor sem variar muito sua
temperatura. Isso é representado pelo seu alto calor específico e, assim, a
água atua como um ótimo regulador térmico.
SAIS MINERAIS
Os
sais minerais possuem as mais diversas funções no organismo, desde ser um
fator-chave na contração muscular como no caso do Ca++ (cálcio) até servir como
reguladores eletrolíticos, bem como atuar na formação de estruturas
carreadoras, como no caso da hemoglobina, molécula encontrada no sangue que
possui ferro em sua composição, sendo responsável pelo transporte de oxigênio
até as células. Os íons fosfato estão relacionados com a formação de ATP na
célula, principal fonte de energia química para a mesma. Na molécula de ATP, os
íons fosfatos inorgânicos (Pi) são ligados uns aos outros. Essas ligações,
quando rompidas, liberam grande quantidade de energia para as reações
celulares.
COMPOSTOS
ORGÂNICOS
Glicídeos
Os
glicídeos, também conhecidos como carboidratos ou hidratos de carbono são
moléculas altamente energéticas. Sua principal função é como alimento, sendo
que a queima de 1g de carboidrato libera cerca de aproximadamente 4 kcal. O
carboidrato mais conhecido é a glicose (C6H12O6), a qual
é o principal alimento responsável pela geração de ATP nos animais. De acordo
com o número de moléculas encontradas unidas por ligações glicosídicas, podemos
classificar os carboidratos em monossacarídeos (1 molécula de açúcar, glicose por
exemplo), dissacarídeos (duas moléculas de açúcar, sacarose
por exemplo), polissacarídeos (3 ou + moléculas de açúcares, como a
quitina, por exemplo).
Dentre
os principais polissacarídeos podemos citar os polissacarídeos
estruturais quitina (imagem ao lado) e celulose e os polissacarídeos de reserva
energética, como o glicogênio e o amido.
A quitina é responsável pela formação do exoesqueleto dos artrópodes (formigas,
gafanhotos, baratas, etc.) enquanto a celulose é responsável pela formação da
parede celular das células vegetais. O glicogênio é encontrado em animais e
fungos, ao passo que o amido é somente encontrado em vegetais, havendo também
diferenças em seus níveis de ramificações da molécula.
Os lipídeos caracterizam-se pela sua
insolubilidade em água, diluindo-se apenas em solventes orgânicos, como éter,
por exemplo. Os lipídeos desempenham diversos papéis dentro e fora da célula.
Por serem insolúveis e altamente energéticos (1g de lipídeos libera
aproximadamente 9,0 kcal), os lipídeos são utilizados como fonte energética, os
quais ficam armazenados principalmente no tecido adiposo, mas podem também ser
encontrados no fígado.
Além
dessa função, os lipídeos formam todas as membranas celulares, sendo que o
principal tipo de lipídeo encontrado formando as membranas celulares é o fosfolipídeo, o qual contém um
grupo fosfato, que é hidrofílico, formando a “cabeça” do fosfolipídeo. Dessa
maneira, dizemos que o fosfolipídeo encontrado nas membranas celulares são anfipáticos, ou seja, são ao
mesmo tempo hidrofóbicos (cauda da molécula) e hidrofílicos (cabeça da
molécula). Esses fosfolipídeos se organizam na membrana celular de tal
forma que as cabeças hidrofílicas ficam voltadas para a região onde há a
presença de água, ou seja, para a face citoplasmática e extracelular.
A
região interna não contém água, uma vez que aí se encontram as caudas
hidrofóbicas das moléculas. Essas caudas são mantidas estáveis por meio
de interações hidrofóbicas.
As
ceras, um tipo especial de lipídeo, são encontradas revestindo as folhas dos
vegetais
.Essa cera atua como um agente impermeabilizante, sendo que o mesmo
evento também é encontrado em aves. As aves possuem uma glândula localizada
próxima à cauda, chamada glândula
uropigial (ou uropigeana), ilustrada na imagem ao lado. Essa glândula é
responsável pela síntese de um óleo que é espalhado pelas penas,
impermeabilizando-as, o que é essencial ao voo.
O colesterol é um derivado dos lipídeos. Ele é
encontrado na membrana celular apenas de células animais.
VITAMINAS
As
vitaminas são micronutrientes produzidos por outros seres vivos e que são
essenciais à função de determinadas enzimas, servindo como cofatores. Algumas
vitaminas são muito importantes em algumas reações, como nas físico-químicas
que ocorrem na retina no processo da visão. As vitaminas não se enquadram em um
único tipo de molécula, sendo que elas podem ser derivadas de lipídeos,
glicídeos ou mesmo ter uma estrutura bem simples quando comparada à outras
biomoléculas. O termo vitamina foi criado ao se descobrir uma substância
chamada tiamina, pertencentes ao grupo das aminas, quando usando em pequenas
quantidades, era capaz de evitar uma doença chamada beribéri. Assim, o termo
vitamina significa, literalmente, amina vital.
Para
exemplificar vamos tomar como exemplo a vitamina A, cujo nome científico é
retinol (imagem ao lado). O
seu isômero 11-cis-retinol é o cromóforo da rodopsina, a molécula
fotorreceptoras dos vertebrados.
Durante
as grandes navegações impetradas pelos europeus durante os séculos XIV, XV e
XVI, notou-se que grande parte da tripulação padecia de alguma doença que
provocava sangramentos, principalmente nas gengivas. Esses sangramentos eram
evitados quando se passou a levar lima nas embarcações. Como se sabe, a lima é
um fruto rico em vitamina C (ácido ascórbico), essencial à formação de
colágeno. Quados os tripulantes passavam muito tempo sem nenhum alimento que
contivesse vitamina C em sua composição, o colágeno que deveria ser reposto não
era formado. Assim, a gengiva, mucosa rica em colágeno, começa a sofrer uma
queda, expondo vasos sanguíneos que estouravam, provocando os sangramentos.
Muito
embora a sabedoria popular afirme que a vitamina C evita gripes e resfriados,
essa não é uma afirmação válida. Hoje sabemos, com base em dados científicos,
que gripes e resfriados nada tem nenhuma relação com a falta de vitamina C.
ÁCIDOS
NUCLÉICOS
Dentre
todas grandes descobertas, a caracterização do DNA como molécula responsável
pelo armazenamento da informação genética, bem como o desvendamento da sua
estrutura, assumem papel de destaque. Todos os organismos vivos, incluindo os
vírus, armazenam sua informação genética em um tipo de ácido nucleico, o DNA.
Entretanto, alguns vírus adotaram como tática, armazenar sua informação
genética em moléculas de RNA, as quais são muito mais vulneráveis à mutações.
Assim, o vírus que armazenam a sua informação genética em moléculas de RNA são
chamados de retrovírus, enquanto os vírus que a armazenam em moléculas de DNA
são chamados de adenovírus.
Inicialmente
se suspeitava que o material genético dos seres vivos eram as proteínas, devido
à sua grande diversidade. Quando os bioquímicos analisavam as moléculas de DNA
observava-se uma grande monotonia de moléculas. O DNA consiste de uma repetição
de quatro nucleotídeos que diferem entre si apenas pela sua base nitrogenada.
Assim, ficava cada vez mais lógico que o DNA, devido a sua simplicidade, não
deveria conter a informação genética. Foi quando se descobriu que os
cromossomos eram as estruturas responsáveis por carregar as informações
genéticas. Logo em seguida, descobriu-se que os cromossomos são constituídos
tanto por 50% proteínas e 50% DNA. Experimentos posteriores confirmaram o DNA
como responsável pelo armazenamento da informação genética e, mais tarde, com a
estrutura do DNA desvendada, pode-se perceber como essas informações são
armazenadas.
O
DNA (ácido desoxirribonucleico) é um polímero de nucleotídeos, os quais são
compostos por um grupo fosfato, um açúcar de 5 carbonos, no caso a
desoxirribose, e uma base nitrogenada, podendo ser qualquer uma entre adenina,
timina, citosina e guanina. Cada nucleotídeo é unido ao outro por meio de uma
ligação fosfodiéster entre o carbono número 5' de um com o carbono número 3' do
nucleotídeo adjacente.
Em
relação ao RNA (ácido ribonucleico), este se diferencia do DNA por apresentar a
ribose como açúcar, ser uma molécula fita simples e não possuir a base
nitrogenada timina em sua composição, a qual é substituída por uracila. Além
disso, as funções assumidas pelo RNA são também diferentes das do DNA. Enquanto
o DNA é uma molécula imóvel localizada dentro do núcleo celular (em
eucariotos), o RNA é uma molécula que leva a informação do núcleo ao
citoplasma, onde se encontram os ribossomos, onde ocorrerá a síntese proteica
(mRNA). Além de assumir um papel de “bilhete de informações”, o RNA também é
responsável por formar os ribossomas (rRNA) e atuar como carregadores de
aminoácidos (tRNA).
PROTEÍNAS
As
proteínas são polímeros de aminoácidos. Elas divergem muito em tamanho, forma e
estrutura. As proteínas são produzidas de acordo com as informações genéticas
presente no DNA. Assim, a sequência de nucleotídeos encontrado em um
determinado segmento de DNA (gene) ditará a sequência específica de aminoácidos
encontrados nas proteínas.
Assim
podemos afirmar com convicção que as proteínas são o meio pelo qual os genes se
expressam. Por exemplo, o gene que determina a cor da pele é a melanina. Quanto
mais melanina estiver presente nas células chamadas melanócitos, mais escura
será a cor da pele. Isso pode ser determinado geneticamente ou por uma
exposição prolongada ao Sol. A melanina tem como principal função formar um
capuz sobre o núcleo celular, como se fosse um guarda-chuva, filtrando os raios
ultravioletas produzidos pelo Sol e que causam mutação no DNA.
Assim,
exitem milhares de proteínas numa célula humana, cada uma desempenhando o seu
papel. Existe um grupo de proteínas que são expressas em todos os tipos
celulares, desde um neurônio ao osteócito (célula óssea madura), a quais são
responsáveis pelas funções primordiais das células e por isso recebem o nome de
proteínas keephouse, ou
seja, proteínas que literalmente mantém a casa.
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