Como a plasticidade
fenotípica se relaciona com a acomodação genética?
Elas juntas formam uma “acomodação genética”, a expressão em
si pode ser um pouco ambígua, pois pode se referir também a qualquer
mudança nas frequências de genes que resultam em fenótipos induzidos pelo
ambiente, mas no caso aqui, 'acomodação genética’ quer significar,
em contraste ao conceito de ‘assimilação genética’, aquilo que ocorre
quando a seleção de variantes submetidas ao estresse resultam em um fenótipo
com maior capacidade de resposta às condições ambientais, portanto, mais
prontamente induzidos pelo estimulo ambiental. Assim diferentemente do exemplo
anterior, um fenótipo desviante raro poderia tornar-se mais consistentemente
induzido em condições de estresse. Assim, a seleção contribuiria não só para
gerar um novo fenótipo, mas uma
gama maior de respostas fenotípicas, aumentando a plasticidade fenotípica da população em questão. Neste caso, a mudança no
ambiente quebraria a canalização inicial e exporia a variação existente, mas
não manifesta, a seleção ambiental que diversificaria as respostas a alterações
ambientais.
Um exemplo de acomodação genética pode ser ilustrado pelos experimentos
conduzidos por Yuichiro Suzuki e H. Frederik Nijhout, que foram publicados em
artigo da revista Science em 2006 [17]. Os pesquisadores descobriram que uma
linhagem mutante de lagartas da espécie da mariposa Manduca sexta de
coloração escura que eram capazes de, por vezes, tornarem-se verdes em condições
de choque térmico.
Os pesquisadores estavam interessados em um outro fenômeno associado as plasticidade fenotípica e as normas de reação, o chamado polifenismo, que é
tipicamente encontrado em insetos sociais que, a partir de um único genótipo,
podem gerar vários fenótipos discretos bem específicos e adaptativos (as
castas) pela exposição a certos estímulos ambientais, em geral, nutricionais.
Como pouco se sabe sobre os mecanismos através dos quais o polifenismo
evoluiu, os dois cientistas resolveram estudar as vias de regulação hormonais
de desenvolvimento, especialmente a do hormônio juvenil (JH),
em Manduca sexta empregando estresse térmico como forma de
revelar ‘normas de reação’ ocultas em relação a coloração larval.
Através de seleção artificial para a mudança de coloração em resposta ao
aumento do estresse térmico, os pesquisadores conseguiram induzir a evolução de
polifenismo larval de coloração e uma alteração correspondente por meio da
titulação hormonal por meio da acomodação genética.
Com base neste e em outros experimentos, fica claro que os mecanismos
que regulam hormônios de desenvolvimento podem mascarar a variação genética e
desta forma podem atuar como capacitores evolutivos, facilitando a origem de
novos fenótipos adaptativos, caso mutações ou variações ambientais mais
extremas incidam sobre eles.
2 - Relate um exemplo de acomodação genética e acomodação fenotípica.
Exemplo de Acomodação Genética em Formigas
"Nós todos sabemos que a sociedades das formigas são organizadas em
castas. Todas as espécies fazem rainhas, que geralmente tem asas, e operárias
sempre sem asas. O gênero Pheidole ainda desenvolveu uma divisão
entre as operárias com operárias menores, que fazem a maior parte do trabalho
no formigueiro e saem pra procurar comida, e as soldado, que protegem o
formigueiro e processam comida. Algumas espécies no norte do México e no estado
americano do Arizona, ainda possuem uma terceira subcasta de operárias, as
super soldado, que possuem a cabeça significativamente maior que a soldado e
tem um cotoco no lugar das asas, chamadas asas vestigiais. A grande
descoberta deste grupo foi que há uma espécie de Pheidole no estado
de Nova York, isso é, muito distante dessas espécies que ocorrem mais próximas
a fronteira com o México, que também produzem formigas com características de
super soldado, como a cabeça e o corpo muito maior que a de um soldado e a asa
vestigial, só que muito raramente, esse fenótipo é considerado uma anomalia pra
essa espécie. A distância geográfica entre estas espécies sugeria que este era
um caso de co-evolucão, onde os super soldados apareceram de forma independente
pelo menos duas vezes. Além disso, eles mostraram que dentro da árvore filogenética
do grupo as espécies que fazem super soldados estão separadas e não tem um
ancestral comum só delas."
Por, Eduardo Bouth Sequerra, biólogo formado pela UFRJ e doutor pelo
Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho
Exemplo de plasticidade fenotípica em
asas de Drosophila
Muitos estudos analisaram plasticidade
fenotípica a partir de variações morfométricas em asas de Drosophila
(Moreteau et al. 1998, Bitner-Mathé & Klaczko 1999, Debat et al. 2003,
Bubliy et al. 2008, Soto et al. 2011, Pitchers et al. 2012). As asas de
drosofilídeos são bons modelos para esse tipo de análise por uma série de
razões: 1) o padrão de veias das asas é altamente conservado na família
Drosophilidae, o que facilita a identificação de marcos anatômicos homólogos
entre espécies; 2) detalhes a respeito do seu desenvolvimento em Drosophila são
bem compreendidos; 3) a morfologia alar no gênero é altamente plástica, e
normas de reação para tamanho da asa têm sido obtidas para muitas espécies
(Debat et al. 2003); 4) elas têm a função óbvia de possibilitar o voo (uma
característica potencialmente adaptativa), sendo, com isso, um possível alvo de
seleção natural (Huey et al. 2000, Hoffmann & Shirriffs 2002); e, por fim,
estão envolvidas no comportamento de corte da maior parte das espécies de
Drosophila (Markow & O’Grady 2005). O tamanho do tórax também é uma
característica morfológica comumente analisada nos estudos de plasticidade
fenotípica com Drosophila, pois é um bom estimador do tamanho corporal
dessas moscas (David et al. 2006). O tamanho corporal, por sua vez, é de
interesse porque diversos estudos sugerem que ele seja um bom indicador do
valor adaptativo tanto de fêmeas (Partridge 1988) quanto de machos (Partridge
1988, Prasad et al. 2008) de Drosophila, embora essa questão seja controversa
(Partridge & Fowler 1993, Markow et al. 1996, Nunney & Cheung 1997,
Menezes et al. 2013). Uma outra característica comumente analisada nesse gênero
de moscas, que deriva da análise dos tamanhos da asa e do tórax, é a chamada
razão asa:tórax, que diz respeito à razão do tamanho da asa pelo tamanho do
tórax. Essa característica é bastante interessante, pois é preditora da carga
alar da mosca (Pétavy et al. 1997)
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