Em outubro de 1990, iniciou-se, de forma oficial, o Projeto Genoma
Humano, cujo objetivo era determinar as sequências de nucleotídeos dos 24
cromossomos humanos (22 cromossomos autossomos mais os cromossomos sexuais X e
Y), além de identificar todos os genes humanos.
O projeto foi concebido como um consórcio internacional que foi iniciado
por duas agências do governo norte-americano, o Instituto Nacional de Saúde
(NIH) e o Departamento de Energia, com a participação de universidades e
institutos de pesquisas. Inicialmente o projeto estava previsto para durar 15
anos, mas, em 1998, uma companhia privada, a Celera Genomics, liderada pelo
empresário-cientista Craig Venter, entrou na disputa com o intuito de completar
o sequenciamento do genoma humano em apenas 3 anos.
A diferença básica entre o consórcio internacional e a Celera Genomics
quanto à forma de sequenciamento reside no fato de que o consórcio
internacional dividiu cada cromossomo em fragmentos grandes e sequenciou cada
um desses fragmentos. Já a Celera Genomic usou uma estratégia diferente:
fragmentar o genoma em pedaços pequenos e sequenciar cada um deles e, em
seguida, ordená-los a partir da sobreposição das suas extremidades, o que
necessitaria de computadores poderosos.
Quem teve a oportunidade de ver algumas fotos dos laboratórios da Celera
Genomic deve ter reparado que tais laboratórios não se pareceriam nem de perto
com laboratórios convencionais de biologia, parecendo-se mais com laboratórios
de informática. Outra diferença entre os dois grupos de sequenciamento é que a
Celera Genomics não pretendia tornar público os dados obtidos com o sequenciamento,
mas patenteá-los para poder comercializá-los num futuro próximo, o que gerou
uma série de discussões éticas.
Levando-se em consideração a possibilidade de que uma empresa privada
poderia se tornar “dona” exclusiva do genoma humano, houve um grande esforço
por parte do consórcio internacional a fim de acelerar o processo de
sequenciamento. Assim, em 26 de junho de 2000, o líder do consórcio
internacional, Francis Collins, e o presidente da Celera Genomics, Venter,
anunciaram publicamente a conclusão de algo que seria um “esboço” do genoma
humano. Cada equipe divulgou seus resultados em revistas diferentes. O trabalho
do consórcio internacional foi divulgado na revista Nature e o trabalho
produzido pela empresa Celera Genomics foi publicado na revista Science.
À primeira vista é de se estranhar o tempo gasto para sequenciar o
genoma humano. Quando olhamos mais detalhadamente, verificamos que o genoma
humano é composto por aproximadamente 3 bilhões de nucleotídeos. Para se ter
uma ideia do que isso significa, se escrevêssemos todo o genoma humano em tipos
pequenos ele ocuparia aproximadamente um livro de 200 volumes de livros com
cerca de 500 páginas cada.
Embora enorme, somente 3% do genoma humano correspondem a genes; os
outros 97% correspondem a regiões não-codificantes, que por algum tempo foram
chamados de DNA-lixo. Hoje sabe-se que essa regiões não codificantes possuem
regiões controladoras. Essas regiões podem estar adjacentes ao gene que
controlam ou a muitos nucleotídeos de distância. Inicialmente, acreditava-se
que o homem possuiria cerca de 100 mil genes. Com o final do Projeto Genoma
Humano estimou-se que o homem possui apenas entre 30 a 40 mil genes. Isso
significa que possuímos aproximadamente o mesmo número de genes que os
camundongos e um pouco mais do que a mosca-da-fruta, a qual possui cerca de 13
mil genes.
O que podemos notar é que o número de genes não é tão importante para
determinação das características das espécies, mas a forma como atuam, entre
eles próprios, e entre eles e o meio ambiente. Outro dado interessante de ser
discutido é a similaridade dos nossos genes e de outras espécies. Os genes
humanos têm 60% de similaridade com os genes da mosca-da-fruta, 40% de
similaridade com os dos vermes nematódeos e 90% com os genes dos camundongos. A
diferença entre os genes humanos e dos chimpanzés, nossos parentes mais
próximos, é de apenas 1% na sequência de nucleotídeos. Aqui fica a pergunta:
será que apenas 1% de diferença genética entre homens e símios é suficiente
para justificar todas as características que diferenciam homens de macacos,
como por exemplo, o nível de inteligência?
Pesquisas atuais têm demonstrado que “se o livro da vida foi escrito por
Deus, ele copiou inúmeras páginas várias vezes no mesmo livro”. Ou seja,
existem grandes trechos espalhados pelo genoma que são idênticos, o que pode
mudar a nossa concepção de DNA como “livro da vida”. O próprio termo
“determinismo genético” já não é mais usado, uma vez que o indivíduo não é
produto exclusivo da ação dos seus genes, mas sim da sua interação com os
fatores ambientais. Ainda existe muita coisa a ser descoberta em relação à
genômica. Concomitante a isso, a proteômica vem experimentando um crescimento
vertiginoso, uma vez que a ação dos genes ocorre a nível proteico.
Paralelamente ao desenvolvimento do Projeto Genoma Humano
desenvolveram-se diversos outros projetos de sequenciamento de genomas de
outras espécies, como o da mosca-da-fruta, dos nematódeos C. elegans, dentre outros.
Vale aqui enaltecer todo o esforço realizado pelos cientistas
brasileiros que culminou no sequenciamento do genoma da bactéria Xillela fastidiosa, causadora da doença
dos laranjais, conhecida como amarelinho.
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