Vamos começar com uma perguntinha básica: você se lembra das proporções
que nós obtínhamos pela segregação independente? Em se tratando de apenas um
gene, a nossa resposta seria 3:1 e quando levamos em consideração dois genes
tínhamos a proporção 9:3:3:1.
Essas proporções existem por que os genes encontram-se em cromossomos
diferentes e, assim, durante a divisão celular tendem a ir para células
diferentes. Entretanto, muitos genes encontram-se no mesmo cromossomo, sendo
que nesse caso dizemos que os genes estão ligados, de onde deriva o
tema da aula: Ligação Gênica.
Se você se lembra das aulas de citologia, quando estudamos meiose,
existe um fenômeno responsável pela variação genética entre os indivíduos, que
é a recombinação gênica (também chamada de crossing-over). Essa recombinação
gênica ocorre na prófase I da meiose e se dá pela troca de fragmentos
cromossômicos entre os alelos paterno e materno. Assim, em determinados casos
onde consideramos duas ou mais características que fogem da proporção clássica
de Mendel, os genes responsáveis por essas características tendem a ir juntos
para o mesmo gameta, o que altera os resultados esperados.
Em Drosophila melanogaster, podemos observar esse tipo de
comportamento na herança da cor do corpo e tamanho das asas. Essas moscas são
encontradas na natureza com uma cor cinzento-amarelada, sendo determinada por
um alelo dominante P. Em laboratório consegue-se induzir uma mutação
nesse gene, inativando-o. Assim, temos agora um gene recessivo p.
No mesmo cromossomo onde se encontra o gene para a cor do corpo encontra-se
também o gene que determina o tamanho da asa, sendo V o alelo
dominante que determina asas alongadas e seu alelo recessivo v que
determina asas vestigiais. Se cruzarmos indivíduos PPVV com ppvv obteremos uma
F1 constituída de 100% dos indivíduos com o genótipo PpVv. Agora, cruzando-se
esses indivíduos com outros do mesmo genótipo deveríamos esperar, pela lei da
segregação independente, 25% dos gametas PV, 25% Pv, 25% pV e 25% pv.
Entretanto não é isso que acontece. Esse cruzamento produz gametas nas
seguintes porcentagens: 41,5% PV, 41,5% pv, 8,5% Pv e 8,5% pV. Esse tipo de
resultado, onde não temos a proporção esperada da segregação independente, nos
mostra que os genes estão localizados no mesmo cromossomo, ou seja, estão
ligados. O primeiro cientista a observar esse fato foi Thomas H. Morgan, sendo
que muito dos termos que usaremos ainda nessa aula são em sua homenagem.
Morgan e seus colaboradores, em 1915, já haviam identificado 85 mutações
em D. melanogaster. Ao analisar os cruzamentos, eles observaram que
algumas das mutações apresentavam segregação independente e ou-tras
apresentavam ligação gênica. Essas 85 mutações foram distribuídas em quatro
grupos, que foram denominados grupos de ligação, onde um dos grupos
não apresentava mutações com ligação gênica.
Posteriormente, estudos citológicos demonstraram que essas moscas
apresentam 4 pares de cromossomos (2n = 8). Assim, Morgan e seus colaboradores
notaram uma exata relação entre os 4 grupos onde foram divididas as mutações e
o número de cromossomos, o que era mais um indício de que os genes se
localizavam nos cromossomos.
Em 1909 o belga Frans Alfons Janssen (1863-1924) propôs uma explicação
para o entrelaçamento dos cromossomos que ocorriam durante a meiose e que
vinham sendo estudados pelos cientistas há algum tempo. Janssen considerou que
nos entrelaçamentos dos cromossomos havia trocas de fragmentos cromossômicos,
evento que ele chamou de permuta. O termo quiasma, utilizado para designar o
mesmo evento designa do termo grego
Khiasmós, que significa “posição em cruz”, ou em forma da letra khi, x.
Assim, com base na proposta de Janssen, Morgan criou uma hipótese para
explicar a proporção de gametas que fugiram aos padrões mendelianos. Sua
hipótese sugeria que os genes que estavam localizados no mesmo cromossomo (o da
forma da asa e o da cor do corpo), na prófase I da meiose,
sofriam permuta, formando cromátides recombinantes que iriam formar gametas
diferentes. A sua hipótese foi comprovada em diversas espécies.
Arranjos “cis” e “trans”
Tomando-se como exemplo o caso da mosca D. melanogaster, podemos
verificar duas possibilidades de arranjo dos alelos P/p e V/v no cromossomo.
Veja a imagem abaixo:
No
arranjo cis os genes dominantes P/V encontram-se no mesmo cromossomo e os genes
recessivos p/v encontram-se no cromossomo homólogo correspondente. Já no
arranjo trans um cromossomo possui um gene dominante e outro recessivo. Para se
saber na prática qual é o arranjo gênico em questão basta realizar um cruzamento-teste. Analisando-se a
descendência, as classes que aparecem com maior frequência são as portadoras
das combinações parentais e, consequentemente, as que aparecem em menor
frequência são as recombinantes.
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