Tecido Conjuntivo

Embora se diferen­ciem estrutural e funcionalmente, o tecido conjuntivo possui mui­tas características comuns; por isso, são considerados em uma mesma categoria. A maioria dos tecidos con­juntivos é originada do mesoderma, que forma o mesênquima multipotente do qual se formam ossos, cartilagens. tendões, ligamentos, cápsulas, sangue, células hematopoiéticas e células linfóides. Eles são encontrados por todo o corpo, exercendo várias funções, como: preenchimento, sustentação, nutrição, defesa, transporte, armaze­namento e reparação. São ricos em substância intercelular, sendo constituídos principalmente de elementos intercelulares com um número limitado de células.
 O me­sênquima é um tecido derivado da me­soderme embrionário, formado por células e substância in­tercelular. Suas células são indiferen­ciadas e têm grande potencialidade para se diferenciar, dando origem a vá­rios tipos de células. As células chamadas de multipotentes podem dar origem a diversos outros tipos de células.
Os tipos predominantes de células (fig. 1) e a composição da substância intercelular variam nos diferentes tipos de tecido conjuntivo e segundo GARTNER & HIATT (2002) eles são classificados principalmente com base nos seus componentes intercelulares. Embora a precisa dis­posição dos vários subtipos difiram de autor para au­tor, as categorias abaixo são geralmente aceitas:
Tecido Conjuntivo Propriamente Dito:
- Denso não-modelado
- Denso modelado: Colágeno e Elástico
- Frouxo (areolar)
- Adiposo
- Reticular
Tecidos Conjuntivos Especializados:
-    Tecidos de sustentação: Cartilagem e Osso
-    Sangue
As células encontradas nos diversos tipos de tecido conjuntivo, inclusive no embrionário, da qual as demais células se originam, estão apresentadas na figura abaixo (fig. 1).





TECIDO CONJUNTIVO PROPRIAMENTE DITO
O tecido conjuntivo propriamente dito é constituído por células e substância intercelular. A substância intercelular (Matriz Extracelular) consiste em fibras e um material amorfo chamado substância fundamental amorfa. É possível também, encontrar células mesenquimais, chamadas mesenqui­mais indiferenciadas, mesmo em tecidos con­juntivos já formados. Além delas, encontram-se nes­se tecido os seguintes tipos celulares: fibroblastos, macrófagos, plasmócitos e mastócitos.

Tipos Celulares:
- Fibroblastos: são as células mais freqüentes do tecido conjuntivo. Sua função, quando jovens, é produzir as fibras e a substância fundamental amorfa. Esses fibroblastos jovens têm forma irregular, são volumosos, pos­suem numerosos prolongamentos cito­plasmáticos e sua maquinaria celular encarregada da síntese de proteínas é desenvolvida. Os fibroblastos madu­ros, chamados fibrócitos, já sintetiza­ram fibras e são menores, com poucos prolongamentos e escasso retículo en­doplasmático rugoso.
- Macrófagos: são células grandes que se originam de glóbulos brancos (monócitos) que atravessaram a parede do vaso sangüíneo por meio de um processo conhecido como diapedese e que possuem aspecto semelhante aos glóbulos brancos do sangue. Possuem pseudó­podes e são capazes de realizar movi­mentos amebóides. Essas células parti­cipam da defesa do organismo fagoci­tando microrganismos estranhos. Além disso, fagocitam e destroem res­tos de células mortas. Quando o macrófago se encontra em repouso ou fixo recebe o nome de histiócito.
- Plasmócitos: Essas células originam-se de glóbulos brancos denominados linfócitos. São células ovóides cujo núcleo é grande e localizado fora do centro da célula. São raros em teci­dos conjuntivos normais e aumentam em número durante a ocorrência de in­fecções. Isso ocorre porque os plasmó­citos produzem anticorpos. Estes são proteínas especiais, usadas na defesa do organismo.
- Mastócitos: São grandes células ovaladas. Seu núcleo é central e o citoplasma se apresenta cheio de grânulos que contém heparina e histamina. A heparina é um anticoagulante do san­gue. A histamina (substância vasodilatadora) é liberada em reações alérgicas, provocando contrações da mus­culatura lisa dos brônquios e bron­quíolos e aumenta a permeabilidade dos vasos sanguíneos.
- Células Adiposas ou Adipócitos - são células grandes cujo papel é armazenar lipídio (gordura), fazem parte do tecido adiposo.

Substância Intercelular
A substância intercelular é formada por uma parte amorfa, a substância fundamental, e uma parte com fibras de na­tureza protéica. Essas fibras podem ser de 3 tipos:
Fibras reticulares - são as mais finas e as mais raras, formadas por colágeno as­sociado a glicídios e lipídios. Recebem esse nome porque se ramificam e se entrelaçam, formando retículos (em forma de rede). É encontrado, por exemplo, nos linfonodos, na medula vermelha do osso e baço, que são órgãos formadores de células sanguíneas, nos quais as células fi­cam entre as malhas do retículo.

Fibras colágenas – são as mais co­muns. São formadas basicamente pela proteína colágeno.
Fibras elásticas - são como o seu nome sugere altamente elástico e mais delgado do que as colágenas, possuem uma proteína amorfa chamada elastina, que lhe confere a propriedade elástica, rodeada por um componente microfibrilar. Essas fibras não apresentam uma periodicidade e são encontradas em regiões do corpo que necessi­tam de flexibilidade e elasticidade consideráveis. São encontradas, por exemplo, na cartilagem do pavilhão auricular.

Matriz Extracelular
A matriz extracelular do tecido conjuntivo propri­amente dito pode ser subdividida em fibras, substância fundamental amorfa e líquida tissular.
Podem ser diferenciados, histologicamente três tipos de fibras: colágena. reticular e elástica. As fibras colágenas ocorrem em feixes de fibras não-elásticas.
As fibras reticulares são finas, ramificadas, cobertas por car­boidratos, formado redes delicadas ao redor de certas células e vasos sanguíneos. Elas também constituem o arcabouço estrutural de certos órgãos, tais como o fígado e o baço.

Substância Fundamental Amorfa
A substância fundamental amorfa se apresenta como uma massa gelati­nosa e sem forma. É constituída por mucopolissacarídeos ácidos (ácido hia­lurônico e ácido condroitinossulfúri­co) associados à glicoproteínas. Ela tem a função de preencher os espaços entre as células e as fibras do tecido conjuntivo.

- Tipos de Tecido Conjuntivo Propriamente Dito:
O tecido conjuntivo propriamente dito é classificado, de acordo com sua função e no tipo, quantidade e disposição dos seus componentes celulares, fibrilares e amorfos.

1) Tecido conjuntivo propriamente dito denso:
O tecido conjuntivo denso é um tipo de tecido conjuntivo propriamente dito em que há predominância das fi­bras colágenas sobre os demais com­ponentes, um tecido fibroso, resistente e de pouca elasticidade.
O tecido conjuntivo denso pode ser de dois tipos: modelado e não modela­do.
-       Tecido conjuntivo denso modelado: As poucas células encontradas são os fibro­blastos achatados organizados em fileiras paralelas. Na matriz intercelular, feixes de fibras colágenas, densamente compactadas, orientam-se em direções de­finidas (paralelamente), dispostas regularmente no tecido. Essa orientação confere gran­de resistência num sentido único a esse tecido. No organismo, o tecido mode­lado formam os tendões que ligam os músculos estriados aos ossos.
-       Tecido conjuntivo denso não-modela­do: Os principais elementos celulares encontradas neste tecido são os fibroblastos, macrófagos e as células associadas aos feixes neurovasculares. É constituído também por grossos feixes de fibras coláge­nas, arrumados ao acaso, intercalados com poucas fibras elásticas e reticulares, daí oferece­rem resistência em várias direções. O tecido denso não modelado é encontra­do em cápsulas que envolvem órgãos como o baço e o fígado.

2) tecido conjuntivo propriamente dito frouxo (areolar):

O tecido conjuntivo frouxo (areolar) está amplamente distribuído pelo organismo humano, é constituinte principal de envolventes neurovasculares. As células e os elementos intercelulares descritos acima ajudam a formar este tecido mais ou menos amorfo e rico em água.

3) tecido adiposo
É constituído predominantemente por células espe­ciais chamadas células adiposas ou adipócitos. Essas células adiposas existem normalmente no tecido conjuntivo frouxo. Quando se organizam em grande quantidade e formam lóbulos no tecido frouxo, este passa a ser chamado de adiposo. O te­cido adiposo é, portanto, uma variedade especializada do tecido conjuntivo frouxo. Na matriz intercelular deste tecido são encontradas fibras reticulares, fibras colágenas e um suprimento vascular.

As células adiposas são grandes e esféricas e a gor­dura ocupa a maior parte do espaço in­tracelular, deslocando o núcleo e o citoplasma para a periferia da célula. Sua função principal é armazenar gorduras. As gorduras são reservas energéticas e podem ser utilizadas no metabolismo celular. A locali­zação do tecido adiposo sob a pele tor­na-o útil como isolante térmico e, ain­da, protetor contra choques mecânicos.

4) tecido conjuntivo reticular
As células reticulares têm forma estrelada e só são encontradas no tecido conjuntivo reticular. O citoplasma destas células não é bem visível ao microscópio óptico, mas seus núcleos são grandes e ovais. Essas células envolvem fibras reticulares, que elas mesmas produzem. Nos espaços intersticiais encontramos outras células (linfócitos. macrófagos e outras células linfóides). Na matriz intercelular encontramos principalmente fibras reticulares
Esse tecido forma uma rede de delgadas fibras reticulares que constituem o ar­cabouço estrutural da medula óssea e muitas estru­turas linfóides, bem como a sustentação de certas células.

O que causa as olheiras?
A pele da pálpebra inferior é revestida pelo tecido conjuntivo. Abaixo dele, uma camada de tecido adiposo dá suporte ao tecido conjuntivo e mantém a pele distendida. Quando a camada adiposa diminui de tamanho, a pele fica ligeiramente enrugada, o que pode torná-la mais escura. “Para se ter uma ideia de como isso acontece, é só observar a pele que recobre a junta da parte interna que une o braço com o antebraço. Quando ele está esticado, e consequentemente a pele também, a cor é mais clara. A medida que se dobra o braço, a pele enruga e se torna mais escura”, explica o dermatologista Luiz Carlos Cucé, do Hospital das Clínicas de São Paulo. Segundo ele, vários fatores biológicos podem provocar a diminuição da camada adiposa, ocasionando olheiras, tais como: heredi­tariedade, poucas horas de sono, constituição física (pessoas magras tendem a ter mais olheiras), cansaço, tensão emocional, entre outros.
(Superinteressante, 11/91).


·         Tecidos Conjuntivos Especializados:

1) Tecidos de Sustentação
Os tecidos de sustentação do corpo são as cartilagens e os ossos. Nestes tecidos conjuntivos especializados, também predominam os elementos intercelulares.
- Tecido Cartilaginoso (Cartilagem):
cartilagem é um tipo de tecido conjuntivo composto exclusivamente de células chamadas condrócitos e de uma matriz extracelular altamente especializada.
tecido cartilaginoso tem consistência bem mais rígi­da que os demais tecidos conjuntivos. É o formador das cartilagens, como, por exemplo, do pavilhão auditivo (orelhas), a extremidade do nariz, a laringe, a traquéia, os brônquios e as extremidades ósseas e de parte do esqueleto fetal, que será substituída por osso.
As células das cartilagens são os condrócitos, que ficam mergulhados numa matriz densa dentro de pequenos espa­ços conhecidos como lacunas, e não se comunicam. Também encontramos condroblastos e células condrogênicas. Os condroblastos secretam matriz e fibras ao seu redor, e as células condrogênicas origi­nam os condroblastos. A ma­triz pode apresentar fibras colágenas e elásticas, em dife­rentes proporções, que lhe conferem respectivamente maior rigidez ou maior elasticidade.
Os condroblastos são as células jovens que se diferenciaram recentemente e que produzem os elementos da matriz; depois à medida que formam esses elementos vão ficar aprisionados na matriz; em cavidades chamadas “lacunas” ou também designadas por condroblastos, transformando-se posteriormente em condrócitos, células metabolicamente menos ativas.
Os condroblastos são as células responsáveis pela síntese da maior parte dos componentes da matriz.
A cartilagem é uma estrutura avascular, resistente e relativamente flexível, constituída de uma matriz firme de proteoglicanas. Seus componentes celulares e fibrosos ficam imersos nesta matriz. Podemos encontrar tecidos cartilaginosos, somente com fi­bras colágenas, mas também com uma mistura das fibras elásticas e colágenas, dependendo do tipo de cartilagem.
A cartilagem pode ser hialina quando tem somente fibras colágenas; elástica, quando apresenta também fibras elás­ticas; fibrosa, quando tem ambos os tipos de fibra, com pre­domínio das colágenas.
cartilagem hialina é en­contrada nas superfícies articulares da maioria dos ossos; nos anéis da traqueia e nas cartilagens larín­gea, costal e nasal, entre outras.

 
Fig. 1 – Fotomicrografia de Cartilagem hialina. (corte histológico de traquéia de Macaco, em parafina. 132 x.). A Cartilagem hialina é revestida por um epitélio pseudoestratificado cilíndrico ciliado (EP). Abaixo do epitélio observar a grande veia (V) cheia de sangue. A metade in­ferior da fotomicrografia mostra a cartilagem hialina com seus condrócitos (C) estão alojados em espaços conhecidos lacunas. Note a matriz na seta. Toda a cartilagem é circulada por um pericôndrio (P) (modificado de GARTNER & HIATT, 2002).


A cartilagem elás­tica, como seu nome sugere, possui um alto grau de elasticidade, que se deve às fibras elásticas da sua matriz. Esta cartilagem é encontra­da em áreas como a epiglote, orelha externa e con­duto auditivo e algumas das menores cartilagens da laringe.


 
Fig. 2 – Fotomicrografia de Cartilagem elástica de Homem (Epiglote. 132 X.):A cartilagem elástica, assim como a cartilagem hialina, é envolvida por um pericôndrio (P). Os condrócitos (C), que estão alojados em lacunas (seta), afastaram-se de suas paredes, dando-lhes a aparência de espaços vazios. Algumas lacunas apresentam dois condrócitos (asteris­co), indicativo de crescimento intersticial. A matriz é rica em fibras elásticas (E) que proporcionam à cartilagem elástica sua aparência característica, bem como contri­buem para a sua elasticidade.


A cartilagem fibrosa ou fibrocartilagem é um tecido com características intermediárias entre o conjuntivo denso e a cartilagem hialina encontrada somente em algumas sínfises, na tuba auditiva, nos discos intervertebrais e certas áreas de inserção do tendão no osso. É uma forma de cartilagem na qual a matriz contém feixes evidentes de espessas fibras colágenas. Na cartilagem fibrosa, as numerosas fibras colágenas constituem feixes, que seguem uma orientação aparentemente irregular entre os condrócitos ou um arranjo paralelo ao longo dos condrócitos em fileiras.
Essa orientação depende das forças que atuam sobre a fibrocartilagem. Os feixes colágenos colocam-se paralelamente às trações exercidas sobre eles. Na fibrocartilagem não existe pericôndrio.

 
Fig. 3 – Fotomicrografia de cartilagem fibrosa ou fibrocartilagem. Observar os condrócitos em suas lacunas e as fibras elásticas.


A maioria das cartilagens é envolvida por uma membrana de tecido conjuntivo, o pericôndrio, constituído principalmente por fibroblastos e fibras colágenas na camada externa e, a camada celular inter­na, ou camada condrogênica, é constituída de con­droblastos e células condrogênicas.

Tabela 1 - Diferentes tipos de cartilagem:







Pericôndrio é a túnica de tecido conjuntivo denso não-modelado que reveste a superfície da cartilagem e é separado por zonas:
- Zona Fibrógena: é vascularizada e contém (tecido conjuntivo propriamente dito). É responsável pela nutrição e manutenção deste tecido.
- Zona Condrogênica: é avascularizada e com células condrogências. É responsável pelo crescimento da cartilagem.

- Tecido ósseo
O tecido ósseo formam os ossos que constituem o esqueleto. Apesar de alguns peixes como os tubarões e raias terem esqueleto cartilaginoso, a grande maioria dos vertebrados possui esqueleto ósseo. O tecido ósseo é um tecido de sustentação, sendo mais rígido que o tecido cartilaginoso e que serve como ponto de inserção para os músculos, constituindo alavancas que aumentam a força gerada pela contração da musculatura e também formam arcabouços protegendo os órgãos vitais. Além de dar sustentação ao corpo dos vertebrados, também tem a função de: proteção, hematopoiese (hemopoiese) e armazenamento de minerais (cálcio).
O tecido ósseo é um reservatório de cálcio para o organismo havendo um intercâmbio constante desse íon entre os ossos e o plasma sangüíneo. Quando a taxa de cálcio aumenta na corrente sangüínea, ele é depositado no tecido ósseo e quando a taxa é baixa, é retirado dos ossos indo para o sangue.
O osso é um tecido conjuntivo vascu­lar, constituído de células, fibras e matriz intercelular calcificada. Suas células estreladas são chamadas de osteócitos, e a substância intercelular de matriz ou substância fundamental, é compacta e resistente. Estes osteócitos encontram-se em espaços (lacunas) em meio à matriz, chamadas osteoblastos (Fig. 4).


 
Fig. 4 – Figura esquemática de tecido ósseo.


As células ósseas são na maioria estreladas. Podem ser de três tipos: osteoblastos, osteócitos e osteoclastos.
- Osteoblastos: são células jovens com intensa atividade metabólica e responsáveis pela produção da parte orgânica da matriz. São cúbicas ou cilíndricas e são encontradas na superfície do osso periósteo (membrana fina que reveste o osso).
- Osteócitos: conforme se dá a calcificação da matriz óssea (durante a formação dos ossos), os osteoblastos ficam “aprisionados” em lacunas, e têm sua atividade metabólica diminuída, passando a ser chamados de osteócitos, que são células adultas.
- Osteoclastos: são células grandes multinucleadas (diversos núcleos), originadas da fusão de células ósseas (sincício). São responsáveis pela reabsorção, regeneração e a remodelação do tecido ósseo após fraturas. São células móveis gigantes e multinucleadas, com partes dilatadas e extensamente ramificadas, derivadas de monócitos que atravessam os capilares sanguíneos.
 As dilatações dos osteoclastos, por meio da sua ação enzimática, escavam a matriz óssea, e formam depressões conhecidas como lacunas de Howship ou simplesmente lacunas.
A matriz óssea é impregnada por sais de cálcio sem que as células morram. Essa ca­racterística confere rigidez e resistên­cia ao tecido ósseo, que persiste vivo apesar da calcificação porque a substância intercelular é atra­vessada por um sistema de canalículos, os chamados canais de Volkmam.


 
Fig. 5 – Fotomicrografia de tecido ósseo evidenciando os osteócitos dispostos em círculos concêntricos, os canais de Havers e a matriz óssea (1a fotomicrografia) de matriz óssea. (2a e 3a fotomicrografias)  matriz de tecido ósseo impregnada por sais de cálcio.


Esses canais se estendem de uma lacuna a outra e ligam-se à superfície óssea, onde se localizam os capilares sanguíneos. Dentro dos canalículos existem prolongamentos do citoplas­ma das células cujos corpos celulares permanecem no interior das lacunas. Esses prolongamentos comunicam-se uns com os outros.
O espaço no inte­rior dos canalículos, que não é ocupa­do pelos prolongamentos, é preenchi­do por líquido intercelular. Graças a esse sistema de canalículos, suas células permanecem vivas. Os nutrientes e o oxigênio, recolhi­dos dos capilares situados na superfí­cie óssea, são levados pelo interior dos canalículos até as células. Os canalícu­los garantem, portanto, a nutrição e a oxigenação das células, permitin­do que permaneçam vivas dentro das lacunas. Os osteócitos se alocam em círculos concêntricos ao redor de um canal, o canal de Havers, por onde passam vasos sangüíneos.
O osso é classificado em denso (compacto) ou espon­joso (trabecular). O osso esponjoso, encontrado no interior das epífises ou cabeças dos ossos longos, é sempre envolvido por osso compacto (fig. 6). O osso esponjoso possui grandes espaços abertos rodea­dos por finas placas ósseas que se anastomosam (se unem).
Os grandes espaços são os espaços medulares, onde se encontra a medula óssea e as placas ósseas são as trabéculas, constituí­das de muitas camadas ou lamelas. O osso esponjoso é o de menor peso, e geralmente, localizam-se na parte interna da diáfise ou corpo dos ossos e nas extremidades ou epífise.
O osso com­pacto é muito mais denso do que o osso espon­joso. A matriz calcificada é constituída de 50% de minerais, 50% de matriz orgânica (colágeno e glico­saminoglicanas associadas à proteína).


Fig. 6 - Osso trabecular ou esponjoso que é constituído por milhares de traves interconectadas fortemente entre si. É encontrado no interior das epífises ou cabeças dos ossos longos, é sempre envolvido por osso compacto.



O osso é revestido pelo periósteo, formado por tecido conjuntivo frouxo, que é uma membrana com uma particularidade fibrosa que se cola com firmeza a ele. Na sua face interna possui os osteoblastos que participam do crescimento e da restauração do osso. É vascularizada e por meio de seus vasos sangüíneos é que chegam nutrientes às células ósseas.

Nas articulações, onde ocorre o movimento, encontramos uma cobertura de cartilagem especializada. A cavidade medular é revestida por um endósteo composto de células osteoprogenitoras (anteriormente conhecidas como células osteogênicas), osteoblastos e osteoclastos ocasio­nais. A camada interna osteogênica (produz células ósseas) consiste em algumas fibras colágenas e principalmente em células osteogênicas e suas filhas, os osteoblastos.


Tecido Conjuntivo Hemocitopoético
Tecido Sanguíneo
O sangue é um tipo especial de tecido con­juntivo. É um tecido líquido que circula dentro de um sistema de vasos por todo o corpo sendo continuamente impul­sionado pelo coração, cujo volume total na média das pessoas é de cerca de 5 litros. O tecido sanguíneo constitui-se de células, fragmentos celula­res e plasma, um fluido extracelular. O sangue tem múltiplas funções: transporta nutrientes, oxigênio, excretas, dióxido de carbono, hormônios, células e outras substâncias.
É por meio da circulação sanguínea que as inúmeras células do organismo, em todos os tecidos, recebem sua alimentação, representada por componentes de proteínas, açúcar, gordura, água e sais minerais. Também é o sangue que, retornando dos tecidos, conduz o gás carbônico e os resíduos das células do corpo, eliminando-as pela respiração, suor, urina etc. Além disso, praticamente todo o sistema de defesa do organismo contra doenças e ataques de organismos patogênicos está concentrado no sangue. O controle da temperatura do corpo, o equilíbrio da distribuição de água e o processo de absorção celular também estão diretamente ligados ao sangue. O oxigênio é levado às células pelo sangue, por meio das moléculas de hemoglobina existentes nos glóbulos vermelhos.
Setenta por cento do corpo humano é constituído por água. O sangue é o principal distribuidor desta água, nas quantidades necessárias a cada atividade orgânica. Além de distribuir, o sangue concorre para a eliminação dos excessos.
Elementos Figurados (Elementos Formadores do Sangue)
As células deste tecido são as hemácias ou glóbulos verme­lhos e os leucócitos ou glóbulos bran­cos. Também encontramos corpúsculos anucleados conhecidos como plaquetas nas quais são encontradas mergulhadas em um líquido que recebe o nome de plasma, que é formado por água, sais (clore­tos, sulfatos, carbonatos, etc.), proteí­nas, açúcares, vitaminas, hormônios, ureia e outras substâncias.
O sangue, por ser líquido e circulante, funciona como um siste­ma de transporte, e percorre todas as partes do corpo nas suas idas e vindas ao coração. Nesse trajeto recolhe nutrientes, absorvidos no intestino, e leva o oxigênio, obtido pela respiração, distribuindo-os a todas as células. Delas retira o gás car­bônico e as excretas produzidas no metabolismo celular. O gás carbônico é transportado aos pulmões, que se en­carregam de eliminá-lo. Os produtos de excreção são levados aos rins, que os eliminam como integrantes da urina.
a) Hemácias ou Glóbulos Vermelhos ou Eritrócitos
Possuem cor vermelha que é determinada pela presença de um pigmento verme­lho chamado hemoglobina. Este pigmento é uma proteína que contém ferro e é capaz de ligar-se aos gases respiratórios (oxigênio e gás carbônico). São os elementos encontrados em maior abundância no sangue - o homem tem cerca de 5 a 5,5 milhões de hemácias por milímetro cúbico, e a mulher aproximadamente 4,5 milhões.
Enquanto nos invertebrados o oxigênio é transportado por pigmentos dissolvidos no plasma, nos vertebrados o pigmento é a hemoglobina que está concentrada nas hemácias.
As hemácias atuam somente no inte­rior do sistema circulatório, e transportam oxigênio para os todos os tecidos, retirando o dióxido de carbono. Possuem a forma de um disco bicôncavo (fig. 1). Essa forma aumenta a superfície de contato e facilita as trocas gasosas. Nos mamíferos, as hemácias são tão especializadas que não possui nem mesmo núcleo (é anucleada), pois a maior parte de seu citoplasma está ocupada pela hemoglobina. Já as hemácias dos demais vertebrados costumam ter núcleo.
b) Leucócitos ou Glóbulos Brancos
Nosso sangue possui de 5 000 a 9 000 leucócitos por milímetro cúbico, mas esse número aumenta quando nosso organismo enfrenta infecções bac­terianas em geral (leucocitose) e inferior durante algumas infecções viróticas (leucopenia).
Os leucócitos (fig 1) desempenham suas funções fora do sistema circula­tório e utilizam a corrente sanguínea como via de acesso para chegar aos seus destinos. Existem vários tipos de leucócitos que podem ser agrupados em duas classes prin­cipais: 
os agranulócitos e os granuló­citos, de acordo com a presença ou ausência de grânulos no seu citoplasma


 
Fig. 1 – Células sangüíneas humanas (1.325 X): (A) Hemácias As hemácias (setas) mostram uma região clara, central, que represen­ta a área mais delgada do disco bicôncavo. Note que as plaquetas (pon­tas de seta) possuem uma região central, densa, o granulômero, e uma região periférica mais clara, o hialômero. (B) neutrófilos Os neutrófilos apresentam citoplasma granular e núcleo lobulado (pontas de seta). (C) Eosinófilos são identificados por seus grandes grânulos rosa e seus núcleos em forma de salsicha. Observe a delgada ponte (ponta de seta) entre os dois lobos do núcleo. (D) Basófilos são caracterizados por seus grânulos grandes, escuros e densos. (E) Os Monócitos são caracterizados por seu núcleo grande, acêntrico, em forma de rim e pela ausência de grânulos específicos. (F) Os Linfócitos são células pequenas que possuem uni único núcleo gran­de, localizado fora do centro, e uni anel delgado de citoplasma, azul ­claro (modificado de GARTNER & HIATT, 2002).


Os granulócitos, além de possuírem grânulos no citoplasma, também possuem núcleos com formas variadas como veremos a seguir.
- Granulócitos: apresentam grâ­nulos no citoplasma, seus núcleos possuem formas variadas com dois ou mais lóbulos (fig. 2). São, por isso, chamados de leucócitos polimorfonucleados. Sendo, ainda, separados conforme sua granulação cuja co­loração fundamenta a classificação destas células, de forma que temos: os neutrófilos, os eosinófilos e os basófilos.
·         Os Neutrófilos são os leucócitos encontrados com maior frequência no sangue, correspondendo cerca de 55% a 65% do total de leu­cócitos. Recebem esse nome porque apresentam granulos que se coram por meio de corantes neutros. Os neutrófilos são os mais ativos na fagocitose, e seus granulos são ricos em enzimas digestivas. Quando as bactérias atravessam o tecido epitelial e atingem o tecido conjuntivo, ocorre a liberação de substâncias químicas, que sinalizam e atraem os leucócitos ao local da invasão. Essa sinalização bioquímica é chamada de quimiotaxia. Esses leucócitos atravessam a pa­rede dos vasos sanguíneos e se alocam no tecido conjuntivo, essa pas­sagem é chamada diapedese, sendo facilitada pela histamina produzida pelos mastócitos do tecido conjuntivo. A histamina dilata os capilares, abrin­do poros que darão passagem ao leucócito. A seguir, os neutrófilos fagocitam a bactéria, digerindo-a com seus lisossomos. Muitos neutrófilos podem morrer nessa batalha, vítimas das to­xinas liberadas pelas bactérias. Quando isso ocorre, surge o pus, que é formado por aglomerados de neutrófilos e fragmentos de células mor­tas.
·         Os Eosinófilos (ou. Acidófilos) são aqueles que se coram pela eosina (corante ácido), de vermelho alaranjado (fig. 2). Correspondem a 2% ou 3% do total de leucócitos. Defendem o corpo contra parasitas e fagocitam o complexo antígeno-anticorpo.
·         Os Basófilos são os leucócitos com me­nor freqüência no sangue (cerca de 0,5%) e se coram por corantes bá­sicos (em azul-escuro quando são usados os corantes de rotina). Embora a função exata dos basófilos seja desconhe­cida, o conteúdo de seus grânulos é semelhante ao dos mastócitos. Possuem grânulos ricos em heparina (substância anticoagu­lante) e histamina (substância vasodilatadora) que auxiliam a saí­da dos neutrófilos do sangue. Podem transformar-se em mastócitos e atuam nas alergias e inflamações (fig. 2).


 
Fig. 2 – Leucócitos granulócitos.

 Agranulócitos: não apresentam grâ­nulos no citoplasma e são chamados mononu­cleados (fig.3). São os linfócitos e os monócitos.

 
Fig. 3 – Leucócitos agranulócitos (A) linfócito e (B) monócito.

·         Os linfócitos são as células básicas do sistema imunitário. Existem três tipos: linfócitos B (células B), linfócitos T (células T) e células Natural Killers (células NK), que só são separados por técnicas imunocitoquímicas. Constituem 20% a 30% dos leucócitos. Surgem na medula e migram para os tecidos linfáticos (timo, baço, linfonodos etc.).
Os três tipos de linfócitos (linfócitos T, linfócitos B e células NK), são morfologicamente indistinguíveis. Costuma-se considerar as células T como as responsáveis pela resposta imune celular e as células B atuando na resposta imune humoral. As células NK destroem as células infectadas por vírus induzindo-as a apoptose, no entanto, as células NK não expressam receptores de antígenos, dessa maneira elas não reconhecem as proteínas virais que são expressas nas superfícies das células infectadas. Então, como é que as células NK são ativadas? Simples, basicamente as células NK monitoram os níveis de MHC de classe I (Major Histocompatibility Complex) que são expressos na superfície das células.  Quando os níveis de MHC classe I estão baixos na superfície de determinadas células, as células NK reconhecem esse baixos níveis, ativam sua atividade citolítica e  matam a célula infectada.Os linfócitos T são assim chamados porque são produzidos a partir de células da medula que passam pelo timo dirigindo-se depois ao baço, gânglios e outros órgãos do sistema linfático. Eles estimulam a fagocitose e atacam diretamente a célula estranha invasora. Os linfócitos B são produzidos por células da medula que, nas aves, migram para um órgão linfático chamado “bolsa de Fabrícius” indo depois para os demais tecidos linfáticos. Nos mamíferos não há bolsa de Fabrícius, as células precursoras do linfócito B saem medula diretamen­te para os tecidos linfáticos, onde terminam seu desenvolvimento. São os responsáveis pela produção de anticorpos, mas primeiramente têm que se transformar em plasmócitos para produzirem os anticorpos.   
Cada ser vivo possui um grupo de proteínas di­ferente de qualquer outro ser vivo. Assim, quando um organismo estranho penetra em nosso corpo suas proteínas serão reconhecidas como proteínas estranhas ou antígenos. Os antígenos estimulam a produção de anticorpos. Os anticorpos são produzidos de forma específica contra o antígeno que estimulou a sua produção. 
·         Monócitos. Constituem de 3 % a 10% dos leucócitos. Podem sair dos capilares, transformando-se em macrófagos e fagocitando microrganismos e células mortas. Quando os monóci­tos abandonam a corrente sangüínea e penetram nos espaços do tecido conjuntivo, eles se tornam conheci­dos como macrófagos, células que atuam na fagoci­tose de partículas, bem como auxiliando os linfócitos nas suas atividades imunológicas.
·         As células nulas são em pequeno número e não possuem determinantes na sua membrana celular. Podem ser de 2 tipos:
-Células Natural Killer (NK), que possui a função de autodestruição de células tumorais e infectadas por vírus.-Células-fonte hemopoiéticas, relacionadas à formação de novas células.           
c) Plaquetas ou Trombócitos O sangue circulante também contém fragmentos conhecidos como plaquetas ou trombócitos. Estas es­truturas pequenas atuam na hemostasia, o me­canismo de coagulação do sangue. As plaquetas são representados por pequenos pedaços de citoplasma de células rompidas, não possuem núcleo e sem elas qualquer ferimento seria um sério risco de vida devido a hemorragias.   

Temática: Hemostasia e Plasma Sanguíneo

HEMOSTASIA
Quando um vaso sanguíneo é lesionado, uma série complexa de fenômenos biológicos inicia-se com o objetivo de estancar a hemorragia. A esse processo dá-se o nome de hemostasia.
A hemostasia é o mecanismo de formação de um coágulo sanguíneo e, ocorre em três fases distintas: Hemostasia primária, coagulação (hemostasia secundária) e fibrinólise. Esse processo ocorre em função de manter a integridade do tecido e manter o fluxo sanguíneo sem que haja extravasamento de sangue pelos vasos ou obstrução do fluxo pela formação de trombos.
A hemostasia primária é o processo inicial da coagulação, mecanismos biológicos fazem com que haja vasoconstrição local, alteração da permeabilidade vascular, edema local, vasodilatação e agregação plaquetária.
O processo que envolve a coagulação consiste na conversão de uma proteína solúvel do plasma, o fibrinogênio, em um polímero insolúvel chamado de fibrina, por ação de uma enzima denominada trombina. A fibrina forma uma rede de fibras elásticas que atua como um tampão plaquetário.
A formação do ativador da pro­trombina (tromboplastina) se dá a par­tir da liberação de um fator tecidual e fosfolipídeos pelos tecidos danificados. O traumatismo do próprio sangue en­volvendo plaquetas e íons cálcio também leva à formação do ativador da protrombina. Este, após ser formado e na presença de íons cálcio, transforma a protrombina (proteína plasmática produzida no fígado) em trombina. A trombina é uma enzima que atua sobre uma proteína do plasma, o fibrinogê­nio, convertendo-o em outra proteína, chamada fibrina.
Uma vez formadas, as moléculas de fibrina se polimerizam e constituem lon­gos filamentos, que se entrelaçam em forma de rede (fig.1). O coágulo é formado pela rede dos filamentos de fibrina dispostos em todas as direções, na qual estão presas plaquetas, hemácias e até plasma.

Fig. 1 – Coágulo de sangue, onde vemos as células sangüíneas vermelhas (hemácias) sendo seguradas por uma rede de fibrina (MARCONDES & LAMMOGLIA, 1994).


O gráfico abaixo mostra resumidamente o processo de hemostasia (coagulação sanguínea)





O Plasma Sanguíneo
É o componente líquido do sangue, cerca de 55% do volume total do sangue. Ele contém eletrólitos e íons, como o cálcio, sódio, potás­sio e bicarbonato e grandes moléculas, principalmen­te, albumina, globulinas e fibrinogênio entre outros compostos orgânicos, como aminoácidos, lipídeos, vitaminas, hormônios e cofatores. Após a coagulação, um soro amarelado é separado do sangue. Este líqui­do é idêntico ao plasma, exceto pelo fato de não conter fibrinogênio ou outros componentes necessários coagulação.
O plasma é o componente fluido do sangue, possui cor amarelada formado por 90% de água, 1% de substâncias inorgânicas, como potássio, sódio, cloro e bicarbonato, 7% de proteínas (albumina, globulinas e fibrinogênio, principalmente) e 1% de substâncias orgânicas não protéicas, entre outras substâncias dissolvidas, como gases (oxigênio e dióxido de carbono), nutrientes, excretas, hormônios, enzimas e pigmentos.
O plasma tem como função transportar os elementos figurados (hemácias, leucócitos e plaquetas) e substâncias dissolvidas, como nutrientes, medicamentos, produtos tóxicos (como o CO2) que as células eliminam. É também o plasma que transporta para todo o organismo os medicamentos que ingerimos.
As proteínas dissolvidas no plasma sanguíneo constituem cerca de 60 a 80 gramas por litro, a maior parte é albumina. Em menor proporção estão as globulinas, relacionadas com a formação de anticorpos, e o fibrinogênio, fundamental no processo de coagulação. As proteínas controlam a viscosidade do sangue, a pressão osmótica e regulam a osmose, entre outras funções.
Dissolvidos no plasma existem também alguns gases, como o oxigênio, o gás carbônico e, principalmente, o nitrogênio. Ureia, ácido úrico, creatinina, glicose, gorduras e ácidos graxos também se encontram presentes neste sistema de alimentação e defesa do corpo humano.
Dentre as estruturas orgânicas não protéicas, as gorduras neutras, os fosfolipídeos e o colesterol são os constituintes do plasma que, basicamente, formam as placas de ateroma. Por terem menor densidade e não serem hidrossolúveis quando não combinados às proteínas, o que lhes confere a propriedade de "flutuação" em meio aquoso, tudo indica que teriam essas substâncias tendência a se acumular em defeitos nas paredes vasculares durante o fluxo sanguíneo. Este, por ser laminar, isto é, composto por "camadas" com velocidades diferentes (o líquido em contato com a parede do vaso tem velocidade menor e o líquido mais central, maior), pode tornar-se diminuído devido às falhas nas paredes dos vasos, o que favorece ainda mais o depósito lipídico nessa região.
Ateromas são placas, compostas especialmente de lipídeos e tecido fibroso, que se formam na parede dos vasos. Levam progressivamente a diminuição do diâmetro do vaso, podendo chegar à obstrução total do mesmo e, possivelmente, ocasionando isquemias teciduais. Isquemia ocorre quando há a interrupção fluxo sangüíneo, levando à lesão nas células da área que ficou sem a circulação. Se for a área do coração, poderá ocasionar um infarto, se no cérebro, um acidente vascular cerebral (AVC), conhecido como “derrame”.
A parte líquida do sangue forma o plasma sanguíneo. Cerca de 90% do plasma constituem-se de água pura, na qual estão dissolvidas as numerosas substâncias existentes no sangue. Destas, cerca de 3/4 são sais como sódio, cloro, fósforo, potássio, magnésio, cálcio e outros.






Temática: Tecido Hematopoético
Hematopoiese
As células do sangue circulante possuem vida relati­vamente curta e devem ser substituídas por células recém-formadas. Este processo de substituição de cé­lulas sanguíneas é conhecido como he­matopoiese ou hematopoese. Todas as células do sangue desenvolvem-se a partir de uma célula precursora pluripotente, co­nhecida como célula-fonte hematopoiética pluripotente­.
Uma célula pluripotente é aquela que tem potencial de se  diferenciar em qualquer uma das três camadas germinativas (endoderma, mesoderma e ectoderma). Células tronco pluripotentes podem chegar a se especializar em qualquer tecido, mas elas não podem se desenvolver em um ser adulto, pois elas não podem desenvolver tecido extra-embrionário, como a placenta.
Célula-tronco pluripotente é a célula hematopoiética (uma célula-tronco do sangue que pode se desenvolver em diversos tipos de células sangüíneas), mas não pode se desenvolver em outros tipos de células. As células-tronco, também conhecidas como células-mãe ou células estaminais, são células que possuem a capacidade de se dividir dando origem a células semelhantes às progenitoras e de se transformar (num processo de diferenciação celular) em outros tecidos do corpo. A diferença entre uma célula pluripotente e uma célula totipotente é que a célula totipotente pode se dividir e produzir todas as células diferenciadas no organismo, incluindo os tecidos extraembrionários.
Existem 2 tipos de tecidos hematopoiéticos (tecido responsável pela produção de células sangüíneas):
Mieloide - é encontrado na medula óssea vermelha e produz hemácias, plaquetas e certos tipos de glóbulos brancos (ex. neutrófilos).
Linfoide - é encontrado em órgãos como: baço, timo, etc. Sua função é a produção de glóbulos brancos (monócitos e linfócitos).
A hematopoiese é o processo de substituição das células sanguíneas, que ocorrem nos chamados órgão hematopoiéticos, que compreendem a medula óssea e o sistema linfoide.
O processo de hematopoese inicia-se no embrião e continua por toda a vida. Nos primeiros dias de vida, o embrião retira da parede do útero materno os alimentos que necessita. Em torno da terceira/quarta semana, porém, seu sistema de alimentação sofre uma modificação radical. O pequeno ser em formação passa a alimentar-se por meio do sangue da mãe. E, para que os alimentos possam ser distribuídos adequadamente pelo organismo embrionário, é indispensável um eficiente sistema transportador de elementos nutritivos. Ao completar um mês, o embrião já possui um sistema semelhante ao do adulto.
Ao final do primeiro mês, já existe um coração rudimentar, que bombeia sangue para o corpo em formação. Durante a vida uterina, o feto sofre as transformações para adaptar o aparelho circulatório à futura existência fora do útero. Mas, desde o início do segundo mês, o sangue já está presente, com seus glóbulos vermelhos (hemácias), glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas.
O saco vitelino, que nas aves e em outros vertebrados ovíparos funciona como um reservatório de material nutritivo, nos mamíferos não tem função de reservatório alimentar, também é nele que se inicia a formação dos vasos sanguíneos e dos glóbulos vermelhos.
A produção de células do sangue continua, ininterruptamente, pelo resto da vida. Daí por diante, quem se encarrega de fabricar novos glóbulos vermelhos para o transporte da nutrição do organismo embrionário são as células que existem no interior dos vasos recém formados (células reticulares).
Pouco a pouco, o saco vitelínico deixe de ter qualquer função para a vida embrionária e começa a involuir. A partir daí, as células do sangue passam a ser produzidas no interior do próprio organismo.
A MEDULA ÓSSEA (TECIDO MIELOIDE)
É no interior dos ossos, na Medula Óssea, onde estão às células progenitoras das células sanguíneas.

 
Fig. 1 – Figura esquemática da produção de células sanguíneas a partir da medula óssea


Chamamos de células progenitoras as células imaturas ou indiferenciadas. Assim como as células-tronco, as células progenitoras têm uma divisão e uma diferenciação celular, contudo essas propriedades podem ser limitadas.
A medula óssea é constituída por um tecido esponjoso mole localizado no interior dos ossos longos. É nela que o organismo produz praticamente todas as células do sangue; glóbulos vermelhos (hemácias); glóbulos brancos (leucócitos) e plaquetas. Estes componentes sanguíneos são renovados continuamente e a medula óssea é quem se encarrega desta renovação. Trata-se, portanto de um tecido de grande atividade evidenciada pelo grande número de multiplicações celulares.
Supõe-se que em um adulto médio, com aproximadamente 5 litros de sangue, existam em cada centímetro cúbico de sangue, cerca de 4,5 milhões de glóbulos vermelhos, 6 mil glóbulos brancos e 300 mil plaquetas. Isso significa um total aproximado de 22,5 bilhões de glóbulos vermelhos, 30 milhões de glóbulos brancos e 1,5 bilhão de plaquetas.
As células sanguíneas tem vida curta: os glóbulos vermelhos tem uma vida média de 120 dias, os glóbulos brancos vivem em média 1 semana, as plaquetas 9 dias. Há, portanto permanentemente células morrendo, sendo destruídas ou eliminadas e substituídas por novas células normais.
Ao nascermos todos os nossos ossos contém medula capaz de produzir sangue: a medula vermelha. Com a passagem dos anos, a maior parte da medula vai perdendo sua função, sendo substituída por tecido gorduroso e passa a ser chamada de medula amarela. No adulto apenas alguns ossos continuam exercendo essa função: as costelas, o corpo das vértebras, as partes esponjosas de alguns ossos curtos e das extremidades dos ossos longos dos membros superiores e inferiores, assim como o interior dos ossos do crânio e do esterno. Os outros ossos do esqueleto do adulto possuem medula amarela e, portanto, em condições normais, são incapazes de produzir sangue. Quando há uma necessidade maior como no caso de uma anemia, parte desta medula óssea amarela pode voltar a produzir células sanguíneas.
Para elaborar novos glóbulos vermelhos ela aproveita restos de glóbulos vermelhos envelhecidos e destruídos. O ferro contido na hemoglobina é deixado na medula pelas hemácias que chegam ao fim da vida e novamente utilizado pela medula para formar novas moléculas de hemoglobina.


 
Fig. 2 - Duas fotos da medula óssea obtida por aspirado e observado em objetiva de imersão a óleo. Na primeira observamos depósitos de ferro corados em azul. A segunda representa uma medula pobre neste elemento.


Células fagocitárias do baço, fígado, gânglios linfáticos e da própria medula encarregadas de englobar os glóbulos envelhecidos e destruí-los no interior do seu citoplasma, lançam o ferro na circulação para aproveitamento futuro. Grande parte deste ferro fica armazenada no fígado e na medula. O ferro da dieta, absorvido pela mucosa do intestino delgado, complementa as necessidades diárias deste elemento.
Outra substância indispensável ao funcionamento do tecido hematopoético é a vitamina B12 necessária em pequenas quantidades, mas para que seja absorvida e aproveitada pelo organismo, exige a presença do fator intrínseco da vit. B12, açúcar de natureza complexa, sintetizado pelas células da mucosa do estômago.
O tecido linfoide:
O tecido linfoide forma a base do sistema imune do corpo e drena o excesso de fluido extracelular. O fluido extracelular que não entra no sistema venoso, entra para o interior dos capilares lin­fáticos, finos vasos de fundo cego do sistema vas­cular linfático. Após a passagem pelas cadei­as de linfonodos e dos maiores vasos linfáticos, o fluido, conhecido como linfa, entra no sistema vas­cular sanguíneo na base do pescoço.


 
Fig. 3 – Sistema linfático


A linfa é um líquido claro que circula numa extensa rede de capilares lado a lado com os capilares sangüíneos, drenando continuamente líquidos dos tecidos, no interior dos órgãos. Quando isso não acontece, por exemplo, um vaso sofre uma obstrução, o líquido se acumula na zona afetada, produzindo-se um inchaço denominado edema, mais comuns nas pernas. É produzida pelo excesso de líquido que sai dos capilares sanguíneos ao espaço intersticial ou intercelular, sendo recolhida pelos capilares linfáticos que drenam aos vasos linfáticos mais grossos até convergir em condutos que se esvaziam nas veias subclávias. Tem a função de eliminar impurezas que as células produzem durante seu metabolismo.

 
Fig. 4 – Figura esquemática da saída de células dos capilares sanguíneos (diapedese) e sendo drenados pelo sistema linfático: A –Capilar sanguíneo; B - Capilar do sistema linfático;  C – Diapedese; D, E, F – Demais elementos do sistema linfático.

A linfa não é bombeada pelo coração e sim pela ação muscular - os músculos ao se movimentar, comprimem os vasos linfáticos. Outros movimentos corporais também deslocam a linfa, tais como a respiração, atividade intestinal e compressões externas, como a massagem. Permanecer por longo tempo parado em uma só posição faz com que a linfa tenha a tendência a se acumular nos pés, por influência da gravidade, causando inchaço.

Histologicamente, a linfa assemelha-se ao sangue pela presença de linfócitos e alguns leucócitos granu­lócitos. Entretanto, não possui hemácias, plaquetas e monócitos. O linfócito, a principal célula do tecido linfoide, é responsável pelo funcionamento adequado do sistema imune.

O plasma linfático é semelhante ao sanguíneo, mas sua composição química é muito variável de acordo com região do corpo e com a alimentação, pois absorve gorduras. As células predominantes são os linfócitos, lançados na linfa quando esta atravessa os tecidos linfoides dispersos pelo corpo. Esses tecidos linfoides são encontrados nos linfonodos (ou gânglios linfáticos).

O tecido linfoide está organizado em tecido linfático difuso e nodular (linfonodos):
-Tecido Linfoide Difuso: ocorre em todo o corpo, especialmente sob membranas epiteliais úmidas, onde o tecido conjuntivo frouxo é infiltrado por células linfoides, isto é, linfócitos, plasmócitos, macrófagos e células reticulares.
-Linfonodos (ou gânglios linfáticos): órgãos ovoides ou em forma de rim encontrados ao longo da rede de vasos linfáticos. Eles são formados por cápsula fibrosa externa e, internamente, um tecido reticular linfoide, com linfóci­tos, plasmócitos e macrófagos. Assim a linfa é lentamente filtrada no interior dos linfonodos numa espécie de labirinto esponjoso, deixando aí antíge­nos e toxinas sob a ação dos macrófagos e dos anticorpos produzidos pelos plasmócitos. Assim, além de funcionarem na manutenção e produção de células imunocompetentes, os linfo­nodos também filtram a linfa.

Quando há uma infecção, os linfonodos da região comprometida podem se apresentar inchados e doloridos, sendo conhecidos popularmente como “caroços” ou “ín­guas”, e percebidos principalmente nas virilhas e axilas, ou ainda na região cervical (pescoço).

Outros órgãos linfoides, que variam em tamanho, localização e estrutura histológica, são encontrados em muitas regiões do corpo. Os mais conhecidos são as tonsilas (conhecidas anteriormente como amígdalas), o timoe o baço. Na parede do tubo digestivo há também microscó­picas estruturas lin­foides, chamadas nódulos ou folícu­los linfáticos. Eles podem variar em ta­manho e número, aumentando, por exemplo, em regiões com infecção, onde passam a produzir mais linfócitos. São considerados órgão linfoides.

 “A MACONHA E O SISTEMA IMUNOLÓGICO”.
Um estudo demonstrou que pessoas que fumam maconha adoecem com maior frequência. Suspeitava-se que isso acontecesse porque a maconha afeta­ria o sistema imunológico. Agora, cientistas americanos parecem ter encon­trado um indício de que essa hipótese está correta: a substância ativa da ma­conha, chamada tetrahidrocanabinol (THC), altera o processo de maturação dos glóbulos brancos, responsáveis pela defesa do organismo. Na presença do THC, os glóbulos brancos em formação passam a sintetizar certas proteí­nas que não lhes são características. Os cientistas supõem que essa síntese enfraquece os glóbulos, deixando-os sem condições de cumprir plenamente sua tarefa.
Superinteressante, São Paulo, 1986, no 4, p. 11.

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