A função primordial das brânquias é a de
realizar as trocas do oxigênio e gás carbono entre a água e a corrente
sanguínea. Algumas famílias de peixes, principalmente as de regiões tropicais,
precisaram adaptar o seu mecanismo de captação do oxigênio para águas com
baixos níveis da molécula, utilizando regiões do corpo altamente
vascularizadas, tais como boca, câmaras operculares, superfície do corpo,
bexiga natatória, como órgãos acessórios para a respiração. Algumas poucas
espécies desenvolveram respiração pulmonar, passando a utilizar uma bomba de
sucção para a tomada do ar. Segue descrição das características mais
importantes da respiração branquial e da aérea, utilizadas pelos peixes.
Peixes de respiração
branquial:
Nos peixes, a área de
superfície de uma brânquia deve ser grande o suficiente para promover as trocas
gasosas. Por isso, espécies muito ativas apresentam maior área de membrana,
pois a extensão da superfície branquial está relacionada com a atividade
metabólica do animal. Os filamentos branquiais, em geral, encontram-se no
interior do órgão respiratório protegido pelos opérculos, o que permite que a
água circule sem comprometer a estrutura.
Para que as trocas
gasosas sejam realizadas é necessário que se mantenha um estreito contato entre
a água e as brânquias, além de haver um constante fluxo de água sobre as
mesmas. Anatomicamente, as brânquias são formadas por diversos arcos
principais, por onde se estendem duas fileiras de filamentos branquiais. A
ponta destes filamentos projeta arcos adjacentes, os quais direcionam o fluxo
da água. Em cada filamento existem lamelas achatadas, densamente enfileiradas e
amplamente vascularizadas, por onde a água é conduzida. Assim, as trocas
gasosas ocorrem à medida que a água flui por entre as lamelas. O fluxo de água
gerado passa em direção oposta ao fluxo do sangue que irriga a região, o que é
denominado de fluxo
contracorrente. Neste sistema, quando o sangue está saindo da lamela
branquial, já em concentrações mais elevadas de oxigênio, ele entra em contato
com a água que está chegando nas brânquias, onde o oxigênio ainda não foi
removido.
Desse modo, a lamela ao
longo de toda a sua extensão consegue remover até 90% do oxigênio da água. As
brânquias são estruturas adequadas para as trocas gasosas no meio aquático,
pois quando expostas ao ar ficam sem condições de manter sua sustentação e
grudam devido à adesão da superfície, impedindo a captação do oxigênio.
O movimento da água
sobre as brânquias é realizado por meio do bombeamento por sucção ou pressão,
combinado entre a cavidade oral e a cavidade opercular, o que mantém o fluxo
contínuo de água sobre as brânquias. O fluxo da água que entra na cavidade oral
pode ser aumentado pelo o abaixamento da mandíbula, assim como o volume de água
que passa pela cavidade opercular pode ser aumentado por meio do movimento dos
opérculos.
Na carpa (peixe ósseo),
o processo de movimentação da água ocorre quando os opérculos se fecham e a
cavidade oral aumenta, possibilitando a entrada de água na boca. Em seguida, as
câmaras branquiais se expandem gerando uma pressão negativa e direcionando a
água da cavidade oral para a branquial. A cavidade oral se contrai, as valvas
orais são fechadas e a água é forçada a passar pelas brânquias. Por fim, as
câmaras branquiais contraem-se forçando a saída da água através das aberturas
operculares onde o refluxo é evitado pelas membranas que estão localizadas na
margem dos opérculos.
Peixes de respiração
aérea:
Muitas espécies de
peixes vêm fazendo a transição entre a respiração aquática e aérea,
principalmente as de água doce ou pertencente a regiões estuarinas. Muitos
peixes empregam a respiração aérea somente em condições de hipóxia, como
respiração acessória ou facultativa, em decorrência de alterações que reduzem
significativamente os níveis de oxigênio da água. Esta situação pode ocorrer
devido às mudanças sazonais estabelecidas pela falta de chuva, aumento da
temperatura ou da decomposição de matéria orgânica. No entanto, outros peixes
podem apresentar respiração aérea obrigatória (pulmonar), como resposta
adaptativa para possibilitar a sobrevivência da espécie em condições de secas
temporárias ou, ainda, de migrar para terra, tendo somente o ar como veículo
para a obtenção do oxigênio.
Alguns peixes com
respiração aérea possuem área branquial restrita, na qual apenas uma pequena
troca dos gases pode ser efetuada. Neste caso, as trocas gasosas serão
realizadas em regiões do corpo bastante vascularizadas, como a superfície
cutânea, bucal, cavidade opercular, estômago, mucosa intestinal, bexiga
natatória ou pulmão.
Muitos peixes,
principalmente os teleósteos, têm desenvolvido mecanismos de respiração aérea
obrigatória. Nestes animais, há uma distinção clara do papel das brânquias e
pulmões na tomada de oxigênio e gás carbono. Devido à alta solubilidade do gás
carbono na água e ao seu aparente coeficiente de difusão, a molécula se desloca
mais rapidamente por meio das brânquias ou pele. Por outro lado, o oxigênio é
obtido com mais eficiência pelas vias pulmonares.
Existem várias
estratégias para a tomada de oxigênio dos peixes com respiração aérea
facultativa, acessória ou obrigatória. Abaixo são descritas peculiaridades da
enguia elétrica, do muçum e da piramboia, espécies de água doce encontradas nas
regiões tropicais da América do Sul.
- A enguia elétrica (Electrophorus electricus), conhecida
popularmente como poraquê, é um peixe de respiração acessória que utiliza
basicamente a boca e cavidades operculares para a captação do oxigênio,
afogando-se quando impedido de ter contato com o ar. Nesta espécie, o gás
carbono é provavelmente eliminado pelas brânquias rudimentares ou pele.
- O muçum (gên. Synbranchus), como é popularmente
conhecido nos pântanos do Brasil, é um peixe com formato de enguia que vive na
lama. Emprega a respiração aérea facultativa realizando as trocas gasosas
através das brânquias, quando em contato com a água ou com o ar. O aumento dos
níveis de gás carbono na água induz o animal a hipóxia, o que estimula a
captação do oxigênio do ar.
- Os peixes pulmonados
apresentam narinas internas, pulmões funcionais e sistema circulatório
avançado, tendo sido descritas espécies na África, América do Sul e Austrália.
A piramboia (Lepidosiren paradoxa), um peixe pulmonado encontrado na América do Sul, não
apresenta dificuldade na tomada de oxigênio quando removida da água. Nesta
espécie, quase todo o oxigênio é obtido pelos pulmões, mas somente 50% do gás
carbono é liberado pelo órgão, sendo o restante eliminado pelas brânquias.
Dentro do grupo dos peixes pulmonados o pulmão desta espécie é um dos mais
desenvolvido, com estrutura pareada e bem compartimentalizada.
No Brasil, a Amazônia é
uma das regiões onde se encontra uma diversidade de peixes que transitam entre
a respiração aérea e aquática. O clima é tropical, sujeito aos períodos de
chuvas torrenciais e secas intensas. Por isso, os níveis de oxigênio dos rios
oscilam entre hipóxia e normóxia devido às variações dos níveis de água,
temperatura e decomposição da vegetação ribeirinha, cujo conjunto proporcionou
esta riqueza natural.
Muitos peixes respondem à diminuição da concentração do oxigênio se aproximando da superfície, engolfando uma bolha de ar que ajuda um pouco a oferta de oxigênio.
Respiração aérea acessória
Órgão
utilizado para a respiração aérea
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Nome
científico
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Nome
comum
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Foto
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Brânquias
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Synbranchus
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Muçum
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Boca e cavidade opercular
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Electrophorus
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Pôraque
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Boca e cavidade opercular
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Clarias
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Catfish africano
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Estômago
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Plecostomus
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Cascudo amarelo
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Estômago
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Anicistrus
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Cascudo preto
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Intestino
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Hoplosternum
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Tamboatá
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Bexiga natatória
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Arapaima
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Pirarucú
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Pulmão
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Lepidosiren
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Pirambóia
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Muitos peixes respondem à diminuição da concentração do oxigênio se aproximando da superfície, engolfando uma bolha de ar que ajuda um pouco a oferta de oxigênio.
Outros peixes como os expostos na tabela acima, aperfeiçoaram outras interfaces respiratórias para garantir o suprimento sanguíneo, chegando ao extremo de dependerem mais do ar atmosférico do que os gases na água, como o pirarucu e a piramboia.
Como ambientes aquáticos com pouco oxigênio são mais comuns na água doce tropical temos bons exemplos desta adaptação em nosso meio.
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