Diibridismo


Após um período de letrinhas e porcentagens vamos voltar rapidamente aos conceitos introduzidos na genética durante o seu desenvolvimento. Wilhelm L. Johannsen (1857-1927), cientista dinamarquês, introduziu os conceitos de genótipo (do grego genos, originar, e typos, característica) e fenótipo (do grego pheno, evidente, e typos, característica).
O termo genótipo refere-se aos genes dos indivíduos, entidades invisíveis que determinam as características, ou seja, os tipos de alelos que esse indivíduo possui. Já o termo fenótipo refere-se à expressão desses genes, ou seja, a maneira como eles se manifestam. Assim, o genótipo de uma pessoa albina é aa (nós vamos discutir isso mais detalhadamente nas próximas aulas) e o seu fenótipo é ter a pele, cabelos e pelos brancos, ou seja, as características visíveis da ação do gene.
Tanto genótipo quanto fenótipo são conceitos que devem estar muito bem digeridos a partir de agora. Por exemplo: o genótipo ou o fenótipo resultam da sua interação com o meio ambiente? Vamos considerar, inicialmente, duas pessoas, uma loira e outra de cabelos castanhos. Elas podem tranquilamente alterar a cor do cabelo (basta pintar; pode ser verde, laranja, azul, como está na moda nos dias de hoje!). Quando essa pessoa pinta o cabelo ela alterou o seu fenótipo.
Imagine, duas pessoas, ambas de cabelos castanhos, pintam os cabelos de laranja. Nesse período resolvem ter um filho e ele nasce com cabelos laranja! Impossível, você não acha? Assim, quando se altera o fenótipo não se alteram os genes, o genótipo. O mesmo vale para o uso de lentes de contato, aumento da massa muscular por meio de exercícios físicos e bronzeamento da pele. A pessoa pode ter olhos castanhos escuros (geno-tipicamente falando) e usar uma lente de contato azul (o fenótipo), ou ter pela branca e passar um longo período tomando sol na praia e escurecer a cor da pele pela deposição de melanina.
Outro exemplo muito bem estudado é a coloração dos pelos em coelhos da raça himalaia. Esses coelhos têm como característica apresentar as orelhas, os focinhos e as patas com pelos pretos e, no restante do corpo, pelos brancos. Isso ocorre somente se esses coelhos estiverem em ambiente cuja temperatura varie entre 15°C e 24°C. Como as extremidades do corpo tendem a ser mais frias (perdem mais calor para o meio), se possuírem pelagem escura nessas áreas, ela absorverá mais calor (da mesma forma quando se usa roupa escura). Se você pegar um coelho desse e criá-lo em uma região cuja temperatura seja menor que 2°C, esse coelho passará a apresentar pelagem totalmente escura.
O inverso também é verdadeiro. Se você criá-lo em uma região na qual a temperatura seja maior que 29°C, a pelagem passa a ser totalmente branca. Agora quero mais ainda sua atenção: vamos imaginar um experimento (um biólogo que não faz experimentos não é um biólogo). Vamos pegar um desses coelhos e criá-los em um local onde a temperatura seja, digamos, 20°C. Fazendo isso a sua pelagem será escura nas extremidades (focinho, orelhas e patas) e a do restante do corpo será branca. Agora vamos raspar totalmente o pelo do dorso desse animal e amarrar uma bolsa com gelo sobre o local raspado. Será que você consegue imaginar o que aconteceria? Se sua resposta foi: - nesse local crescerão pelos pretos, você está totalmente correto. Assim, o animal terá, além das extremidades, pelos escuros no meio do corpo, bem no local onde nós raspamos anteriormente. Fantástico!
Agora quero lhe propor outro problema. Suponha que você receba, para realizar experimentos, algumas sementes amarelas (iguais as de Mendel). Entretanto, o fornecedor não lhe informou se essas sementes eram homozigotas (plantas puras) ou heterozigotas (híbridas). Como você pode perceber, surgiram no período anterior, dois termos que ainda não discutimos: homozigotos e heterozigotos. O termo homozigoto refere-se ao indivíduo que apresenta o mesmo tipo de gene em alelos diferentes. Assim, são homozigotos os indivíduos AA, aa, BB, bb, etc. Já o termo heterozigoto faz referência aos indivíduos que possuem genes diferentes em seus alelos, exemplificando, como no caso anterior, como Aa e Bb (lembre-se: homo significa igual e hetero significa diferente).
Enfim, para descobrir se um indivíduo é heterozigoto ou homozigoto basta realizar o chamado cruzamento-teste. Esse experimento consiste em cruzar o indivíduo em questão com um indivíduo totalmente recessivo e analisar a sua descendência. No exemplo clássico de Mendel, vamos cruzar as plantas com sementes amarelas (as quais em F1 nós não sabíamos o genótipo) com plantas verdes, ou seja, plantas recessivas. Ao se analisar os resultados, podemos chegar as seguintes conclusões: entre os descendentes não apareceram indivíduos verdes ou, entre os descendentes apareceram indivíduos verdes. Vamos analisar o primeiro caso.
• Se não apareceram indivíduos verdes em momento algum, podemos concluir que o genótipo da semente amarela só pode ser VV, observe o cruzamento abaixo:
VV x vv
100% Vv (amarelas)

• Analisando o segundo caso, no qual aparecem sementes verdes, o genótipo da semente amarela só pode ser Vv, observe o cruzamento abaixo:
Vv x vv
50% Vv (amarelas) e 50% vv (verdes)

Observe que tanto no primeiro caso quanto no segundo, as proporções genotípicas são os genes (ex.: 50% Vv) e as proporções fenotípicas estão entre parênteses, ou seja, as cores das sementes.

Uma observação importante a ser feita sobre o cruzamento-teste é que ele é válido para cruzamentos que deixam muitos descendentes. Cruzamento que deixam poucos descendentes tem de ser repetidos várias vezes, uma vez que, como são poucos os descendentes, a chance de se equivocar com o resultado é grande.
Se um homem que apresenta uma pigmentação normal de pele (albino) casa-se com uma mulher albina e tem um filho normal, não significa que esse homem seja homozigoto (AA), pois mesmo sendo heterozigoto (Aa) possui 50% de chance de ter um filho normal. Para confirmar isso, faça você mesmo os cruzamentos e veja os resultados.

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