Biomecânica da Respiração

Como o metabolismo está diretamente relacionado ao consumo de oxigênio atmosférico, fica evidente que mecanismos eficazes de captação desse gás sofreram alterações durante o curso evolutivo, culminando no aparelho respiratório dos animais superiores, como o das aves e dos mamíferos.

A atmosfera terrestre é constituída por aproximadamente 21% de oxigênio. 71% do ar é composto por nitrogênio e frações menores de outros gases, como, por exemplo, o CO2 (0,03 %) e o restante é uma mistura de outros gases, como argônio, xenônio, criptônio etc. A pressão parcial do O2 é de vital importância para os seres vivos.

Em locais onde a altitude é elevada, a pressão desse gás é baixa, o que diminui a sua captação pelos elementos do sistema respiratório. Nesses locais ocorre a manifestação de hipóxia, sendo que ela aparece primeiro nos tecidos onde o consumo de O2 é maior. Sintomas visuais, miocárdicos e neurológicos são os principais sintomas que uma pessoa apresenta quando começa a ocorrer hipóxia nesses tecidos. Os sintomas visuais incluem diplopia e redução da visão em ambiente escuro. O coração responde a sinais de hipóxia aumentando a frequência cardíaca. Os sintomas neurológicos, de principal preocupação, incluem confusão metal, falta de coordenação motora e distúrbios de comportamento.

Como já estudado em Bioquímica, o aumento da frequência respiratória provoca alcalose sanguínea (alteração do pH do sangue) o que leva, inicialmente, a dores de cabeça (cefaleia) e náuseas. A perda de consciência e a formação de edemas pulmonar e cerebral podem ocorrem em situações extremas, levando o indivíduo à morte.

Estrutura do Aparelho Respiratório Humano

Durante o decorrer da evolução surgiram estruturas que se organizaram de forma complexa de modo a formar um aparelho respiratório muito eficiente na captação de oxigênio. As vias aéreas trabalham em conjunto com os pulmões e com as estruturas de movimentação da caixa torácica.

As vias aéreas superior e são compostas pela boca, cavidade nasal, faringe, laringe e traqueia, epiglote. A traqueia é um tubo que comunica a região superior das vias aéreas com os pulmões. A laringe funciona como um tampão que permite a entrada de ar nos pulmões e a de alimentos e água no esôfago.

Os pulmões são revestidos por uma dupla membrana chamada pleura. A camada em contato direto com o pulmão é chamada de pleura visceral e a que está em contato com a caixa torácica é chamada de pleura parietal. Entre as duas pleuras encontra-se um líquido viscoso que atua como um lubrificante, reduzindo o atrito entre elas.





O pulmão direito apresenta três lobos, em detrimento do esquerdo que só apresenta dois lobos. Isso ocorre porque há necessidade de um maior espaço para o coração, pois sua ponta fica voltada para o lado esquerdo. Dessa forma, 55 % da respiração se devem ao pulmão direito e os 45 % restante ao pulmão esquerdo. Juntos, os pulmões ocupam cerca de 4/5 do volume total da caixa torácica. Num indivíduo adulto, e condições fisiológicas normais, o volume de ar dentro dos pulmões é de cerca de 2,5 a 3 L. Histologicamente observa-se uma grande quantidade de fibras elásticas nos pulmões, o que reflete a sua grande capacidade de elasticidade.



Os músculos responsáveis pela inspiração são o diafragma, os músculos intercostais externos e o grande peitoral. Entretanto, em algumas situações, como as de grande esforço respiratório, outros músculos podem ser acionados para a entrada de ar, como esternoclidomastóideo, o escaleno, o serrátil, e o trapézio. Ainda, outros músculos podem contribuir com a inspiração reduzindo a resistência das vias aéreas, como, por exemplo, digástrico e o músculo nasal.

Em relação aos músculos envolvidos na expiração temos a musculatura da parede abdominal (oblíquo externo, oblíquo interno, transverso do abdome e reto do abdome) e a musculatura da parede torácica (intercostais externo e interno, transverso do tórax).


Temática: Mecânica da Respiração

A respiração ocorre de forma rítmica. Chamamos de frequência respiratória o número de vezes que uma pessoa respira por minuto. Essa frequência é alterada por diversos fatores, os quais incluem idade, estado fisiológico, estresse e com o exercício físico. Um estudo com 300 indivíduos realizado por Quelelet demonstrou que a frequência respiratória está envolvida de forma inversa com a idade, ou seja, quanto mais idade a pessoa possui, menor é a sua frequência respiratória. Observe a tabela abaixo e verifique:



Idade (anos)
Freqüência respiratória (ciclos/minuto)
0-1
44
5
26
15-20
20
20-25
18
25-30
16
30-35
18



Outro ponto interessante é a relação tamanho/metabolismo nos animais. De forma geral, quanto menor o animal, maior é o seu metabolismo. Elefantes, por exemplo, possuem apenas 40 batimentos cardíacos por minuto, enquanto o musaranho, o menor mamífero, possui cerca de 400 batimentos cardíacos por minuto. Como a frequência respiratória está diretamente ligada aos batimentos cardíacos é de se esperar que com estes ocorra o mesmo. Assim também ocorre com o homem. Em sua fase inicial de vida seu metabolismo é alto, devido a uma necessidade de grandes números de reações para o desenvolvimento. Com o passar da idade, o metabolismo vai diminuindo de forma gradual. Observe que nos dados obtidos por Quelelet um bebê possui cerca de 44 ciclos respiratórios por minuto e uma pessoa entre 30 e 35 anos possui cerca de 18 ciclos por minuto.

Movimentação dos Pulmões

A pressão interna dos pulmões entre um expiração e uma inspiração é de         -2 cmH2O a -5 cmH2O. Essa pressão é mantida nessa faixa negativa pela pressão intrapleural subatmosférica, o que permite que os pulmões fiquem expandidos. O pulmão é um órgão elástico e, se não fosse a existência dessa pressão negativa, os pulmões entrariam em colapso, ou seja, eles iriam murchar. Na verdade, o melhor termo que substitui a palavra murchar é colabar.

A inspiração se dá, principalmente, pela contração do músculo diafragma. O diafragma, ao se contrair, aumenta o volume da caixa torácica, o que acaba diminuindo a pressão em seu interior. Assim com a pressão externa maior que a interna o ar entra nos pulmões atingindo os alvéolos, onde ocorrem as trocas gasosas (hematose), transformando o sangue venoso que chegou aos pulmões pela artéria pulmonar em sangue arterial, o qual será reconduzido ao coração pela veia pulmonar.

Quando a ventilação pulmonar ultrapassa 400 ml/min ou quando a resistência ao fluxo está muito aumentada, os músculos abdominais responsáveis pela expiração são ativados. Um caso interessante é o soluço. Uma das causas do soluço pode ser uma irritação no nervo frênico, responsável pela contração do diafragma. Assim, quando ele se encontra nesse estado, ele pode emitir sinais elétricos, o que provoca a contração do músculo sem a entrada ou saída de ar de forma adequada.

O ar se movimenta dentro dos tubos respiratórios de acordo com a equação de Poiseuille. De acordo com essa equação podemos calcular o fluxo (Φ) gasoso por unidade de tempo dentro desses tubos:




Onde:

ΔP = diferença de pressão entre as extremidades do tubo;
r = raio do tubo;
l = comprimento do tubo;
η = viscosidade do fluido.

Observando-se a equação acima podemos notar que a diferença de pressão e o raio do tubo interferem de forma a aumentar o fluxo. Em contrapartida, tanto a viscosidade do fluido e o comprimento do tubo contribuem de forma inversa, ou seja, diminuindo o fluxo de ar.

Sabendo-se que Φ = ΔP/R, onde R é a resistência que o fluido sofre para se movimentar, podemos reescrever a equação de Poiseuille e obtemos:




Note que agora o raio é o mais importante elemento resistivo, pois como está elevado à 4a potência ele aumenta em 16 a resistência quando o raio é reduzido pela metade.





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