As
cianobactérias são do grupo das Bactérias, possuindo uma importância ecológica
muito grande, principalmente com relação ao ciclo do carbono e do nitrogênio.
Como são seres vivos que realizam fotossíntese, produzem um material orgânico
rico em energia e liberam oxigênio para a atmosfera. Além disso, juntamente com
algumas bactérias do solo, realizam o processo de Fixação do Nitrogênio
Atmosférico.
Por meio
desse processo, as cianobactérias permitem que esse gás, inerte para os seres
vivos, seja transformado em nutrientes inorgânicos importantes para o
desenvolvimento vegetal.
Além da
importância ecológica, as cianobactérias também apresentam grande importância
evolutiva, pois os fósseis mais antigos encontrados datam de cerca de
3,5 bilhões de anos, provenientes da Austrália Ocidental e da África do
Sul. Tanto a natureza de alguns desses fósseis como a composição química das
rochas nas quais eles foram encontrados, indicam que a fotossíntese já ocorria
naquela época.
Justamente
por serem organismos fotossintetizantes, as cianobactérias apresentam os
seguintes pigmentos: clorofila a, carotenóides e ficobilinas (pigmentos
de origem proteica, subdivididos em dois tipos: as ficoeritrinas, de coloração
avermelhada, e as ficocianinas, de coloração azul). Esse conjunto de pigmentos
permite a esses organismos captarem um amplo espectro de radiação luminosa,
comparável apenas às algas vermelhas, que também apresentam os pigmentos do
grupo das ficobilinas.
Mas qual
a vantagem dessa gama de pigmentos para essas bactérias?
Essa
mistura de pigmentos verdes, azuis, vermelhos, amarelos e alaranjados faz com
que tais bactérias possam apresentar diversas cores, sendo a predominante a
azul-esverdeada, que dá o nome ao grupo, pois as cianobactérias são conhecidas
como algas azuis (devemos lembrar que as cianobactérias definitivamente não são
algas).
A maioria
das cianobactérias apresenta uma bainha mucilaginosa, ou um envoltório,
fortemente pigmentada particular às espécies que vivem em ambientes terrestres.
As diferentes cores das bainhas permitem que esses organismos apresentem
diversas tonalidades.
Há uma
diversidade dentre o grupo, sendo que algumas espécies podem formar filamentos,
outras são unicelulares, poucas formam filamentos ramificados e muito poucas
formam placas ou colônias irregulares. São bastante comuns as espécies
filamentosas, como os gêneros Anabaena e Nostoc (Figura
1).
Figura 1 - Talo filamentoso da cianobactéria Anabaena spiroides, encontrado em ecossistemas aquáticos. |
Vamos
entender o que são organismos coloniais e filamentosos.
Coloniais à Apresentam
células unidas fisicamente uma a outra.
Filamentosos à Apresentam
células dispostas em cadeia, uma do lado da outra.
Como foi
mencionado mais acima, algumas cianobactérias podem fixar o gás nitrogênio e
converte-lo em amônio, uma das formas que este composto participa das reações
biológicas. A fixação deste composto ocorre dentro de estruturas
denominadas HETEROCISTOS (figura 2), células maiores e
especializadas, diferenciadas das outras células do talo. Sua função, motivo de
muitas hipóteses e discussões no passado, é hoje considerada como um centro de
produção da enzima Nitrogenase. Esta enzima permite às cianobactérias fixarem o
nitrogênio atmosférico.
Esses
heterocistos possuem baixo teor de ficobilinas e durante a fotossíntese não
produzem oxigênio. Quando este gás está presente nestas células é rapidamente
transformado em hidrogênio para que ocorra a fixação do nitrogênio, ou é
expelido. Como a fotossíntese desta célula não é eficiente há conexões entre as
células vegetativas adjacentes, denominada plasmodesmos. É por meio dessas
estruturas filamentosas que o heterocisto recebe os produtos da fotossíntese e
manda às células adjacentes o nitrogênio fixado.
Além dos
heterocistos, algumas cianobactérias formam esporos de resistência, denominados
ACINETOS, que são células grandes e de paredes espessadas. Os acinetos são
resistentes ao aquecimento e à dessecação (perda de água), o que permite a
sobrevivência das cianobactérias dentro de condições ambientais desfavoráveis.
Dentre as
cianobactérias que fixam nitrogênio atmosférico, há espécies de vida livre,
como Trichodesmium. Este gênero ocorre em certos oceanos tropicais
e contribui com cerca de ¼ do nitrogênio total fixado (o que é um valor
enorme).
Cianobactérias
simbiontes (aquelas que realizam associações com outros organismos) são também
muito importantes na fixação do nitrogênio atmosférico. Podem estar associadas
à amebas, algumas espécies de esponjas, protozoários flagelados, diatomáceas,
musgos, hepáticas, plantas vasculares e oomicetos.
Nas zonas mais quentes da
Ásia as plantações de arroz podem crescer continuamente no mesmo solo sem a
adição de fertilizantes graças à presença de cianobactérias fixadoras de
nitrogênio atmosférico nesses campos de cultivo. Nesses locais, as
cianobactérias, especialmente as do gênero Anabaena (como a
espécie Anabaena azollae), ocorrem em associação com Azolla (uma
pteridófita aquática flutuante bem pequena). Essa associação ocorre durante
toda a vida da planta e pode contribuir com até 50 Kg de nitrogênio por hectare
(10.000 m2). Nos países da Ásia, é comum encontrarmos a Azolla no
meio das plantações de arroz e, conforme a plantação cresce, as plantas de
arroz acabam sombreando a Azolla, que morre e disponibiliza o
nitrogênio para as plantas de arroz.
Com
relação à estrutura celular das cianobactérias, esta é tipicamente
procariótica, não possui núcleo definido nem organelas revestidas por
membranas, como mitocôndrias ou cloroplastos.
Mas se
esses organismos não apresentam cloroplastos, onde ficam localizados os
pigmentos da fotossíntese?
Os
pigmentos fotossintetizantes destes organismos estão agrupados em
microcorpúsculos denominados FICOBILISSOMOS, localizados em lamelas soltas na
periferia das células.
A
reprodução é realizada assexuadamente, por simples divisão celular, não sendo
conhecida nenhuma forma de reprodução sexuada nesses organismos.
De forma
semelhante a outras bactérias existentes na natureza, algumas cianobactérias se
proliferam em condições extremamente adversas, desde a água de fontes termais
(com temperaturas bastante elevadas) até as geleiras da Antártica, onde formam
abundantes emaranhados de 2 a 4 cm de espessura, sob mais de 5
metros de gelo permanente. A coloração esverdeada de alguns ursos polares em
zoológicos é causada pela presença de colônias de cianobactérias que se
desenvolvem em suas pelagens.
Podemos
encontrá-las nos oceanos, em ecossistemas de água doce (rios, córregos, lagos,
represas), em manguezais, em solos encharcados e em troncos de árvores
(associadas a fungos, formando os líquens).
Certas
espécies de cianobactérias podem, em algumas situações, se multiplicar de forma
descontrolada, formando o que chamamos de Floração ou “Bloom”. Na maior parte
das vezes, a ocorrência de florações está associada a eventos de poluição
orgânica, como lançamento de esgotos, o qual enriquece o meio aquático com
nutrientes importantes ao crescimento de algumas espécies. Algumas dessas
cianobactérias podem secretar substâncias químicas tóxicas a outros organismos,
causando mortes.
Nos
últimos anos, a água de algumas represas que abastecem a cidade de São Paulo,
tais como a Represa de Guarapiranga, Represa Billings e Represas associadas ao
Sistema Alto Tietê, tem apresentado, em certas épocas do ano, o crescimento
excessivo de algumas espécies que exalam um odor semelhante ao do inseticida
BHC. Em 16 de abril de 2004, os noticiários publicaram que havia ocorrido a
proliferação de algumas cianobactérias na Represa de Taiaçupeba, na Grande São
Paulo, alterando o sabor da água do Sistema Alto Tietê, que abastece 2,7
milhões de moradores da zona leste da Capital e de cidades da região metropolitana.
O gosto ruim e o cheiro que lembrava o de inseticida foram causados pela
GEOSMINA, composto orgânico liberado por algumas espécies de cianobactérias. A
substância não causa nenhum mal à saúde, mas um desconforto no uso e consumo da
água de abastecimento. O problema, que levou à transferência do abastecimento
temporariamente para o Sistema Cantareira, foi consequência da degradação
progressiva dos recursos hídricos pelo despejo irregular de esgoto doméstico
sem tratamento nos rios, córregos e represas, e pela ocupação ilegal e precária
das margens das represas, resultando em lançamentos clandestinos de lixo e
efluentes nos mananciais.
Algas do
grupo das cianobactérias já haviam entrado nas manchetes de jornal no ano de
1996, quando ocorreu uma tragédia em um hospital localizado na cidade de
Caruaru (PE). A proliferação da cianobactéria Microcystis nas
águas da represa que abastecia o hospital e a falta de cuidado no tratamento
dessa água levou à morte de dezenas de pacientes que faziam tratamento de
hemodiálise nesse hospital.
Dentre
as espécies pertencentes a esse gênero, a Microcystis aeruginosa é
considerada a principal produtora de microcistinas, substâncias hepatotóxicas
que podem levar pessoas e animais (como peixes) a complicações hepáticas
graves.
Com
relação à importância econômica desse grupo, o gênero Spirulina tem
adquirido bastante popularidade devido ao seu elevado teor protéico, que chega
a alcançar valores acima de 60% de seu peso seco.
No Brasil
o produto é encontrado em farmácias e lojas de produtos naturais em cápsulas,
porém, devido ao seu alto preço, não é consumido em larga escala pela
população.
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