As
plantas, como todos os seres vivos, possuem ancestrais aquáticos. A história da
evolução das plantas, portanto, está inseparavelmente relacionada com a
ocupação progressiva do ambiente terrestre e o aumento da sua independência da
água para a reprodução.
Embora o
aparecimento das plantas aquáticas multicelulares tenha ocorrido há mais de um
bilhão de anos, o ambiente terrestre permaneceu despovoado por várias centenas
de milhões de anos. Foi somente com o aparecimento de tubos especiais para a
condução de água e de solutos orgânicos provenientes do processo
fotossintético, que as plantas terrestres puderam aumentar o seu tamanho e
afastar suas células clorofiladas do solo, de modo a captar mais energia
luminosa.
Segundo o
registro paleontológico, o aparecimento de vasos condutores de seiva
desenvolvidos (xilema e floema) só aconteceu há cerca de 400 milhões de anos
(Período Siluriano, Era Paleozóica) com o aparecimento das plantas vasculares
sem sementes, também conhecidas genericamente como pteridófitas (do grego pteron =
pena e phyton = planta).
As
plantas vasculares sofreram especializações evolutivas, onde surgiram
diferenças morfológicas e fisiológicas entre várias partes da planta. Surge a
diferenciação entre raízes, caule e folhas. OSISTEMA RADICULAR fixa
a planta ao substrato e também absorve água e nutrientes. O caule e as folhas
formam um único sistema, o SISTEMA CAULINAR, sendo as folhas os
órgãos fotossintetizantes especializados. O SISTEMA VASCULAR conduz
a água, os nutrientes e o produto da fotossíntese por toda a planta.
As
plantas vasculares primitivas apresentam apenas o crescimento primário: as
células da raiz e do caule crescem em comprimento a partir do meristema apical.
Algumas outras podem apresentar o espessamento das paredes celulares do caule e
da raiz, caracterizando o crescimento secundário.
Os
elementos traqueais desse grupo de plantas são as traqueídes, que também
proporcionam a sustentação do caule.
As
plantas vasculares sem sementes são vegetais bem diversificados, e abrangem
desde formas pequenas, de caules prostrados, rizomatosos, a plantas herbáceas,
arborescentes, epífitas e aquáticas flutuantes. Quanto à distribuição
geográfica, podem ser encontradas desde regiões úmidas até desertos.
No grupo
incluímos, dentre os gêneros atuais, as populares avencas e samambaias (Figura
1); os licopódios ou pinheirinhos; as selaginelas; os equisetos, também
conhecidos como cavalinhas ou rabos-de-lagarto; bem como outros representantes
menos comuns, como as salvinias, as azolas e os trevos-de-quatro-folhas.
Figura 1 – Samambaia-de-metro, representante típico das plantas vasculares sem sementes. |
As plantas vasculares, de modo geral, são
caracterizadas, entre outros fatores, pela capacidade de ramificarem-se
profusamente por intermédio da atividade de tecidos localizados nos ápices dos
caules e ramos. Nas briófitas, por outro lado, o aumento do comprimento do
esporófito é subapical, ou seja, ele ocorre abaixo do ápice do caule. Cada
esporófito de briófita não é ramificado e produz um único esporângio. Os
esporófitos ramificados das plantas vasculares produzem esporângios múltiplos.
Tanto as
briófitas como as plantas vasculares sem sementes possuem um ciclo de vida
basicamente similar: uma ALTERNÂNCIA
DE GERAÇÕES heteromórfica, na qual os gametófitos diferem dos
esporófitos. Uma importante característica das briófitas, no entanto, é o
gametófito dominante, enquanto nas plantas vasculares como um todo, o
esporófito (fase diplóide) é a geração dominante do ciclo de vida e o
gametófito (fase haplóide) é efêmero e desaparece logo após a formação do jovem
esporófito. Assim, a ocupação da terra pelas briófitas foi realizada com ênfase
na geração produtora de gametas, que requer água que possibilite ao seu
anterozóide móvel nadar até a oosfera.
Esta
necessidade de água, indubitavelmente, explica o pequeno tamanho e a forma
rasteira da maioria dos gametófitos de briófitas. As plantas vasculares podem
atingir tamanhos maiores chegando a vários metros de altura.
As
pteridófitas podem ser consideradas as primeiras plantas terrestres, mas, mesmo
assim, o gameta masculino, flagelado, só consegue atingir o arquegônio (órgão
sexual masculino) e fecundar a oosfera (gameta feminino) transportando-se por
uma gota de água, o que aumenta sua dependência do fator água para a reprodução
sexuada. No caso das samambaias e avencas, o gametófito lembra, em sua
morfologia, o gametófito de um antóceros: pequena lâmina verde formada, em
grande parte, por uma única camada de células, o qual produz arquegônios e
anterídios.
Nas
pteridófitas, o gametófito é denominado PROTALO. O Protalo pode ser encontrado
no interior de cavidades subterrâneas, vivendo como saprófita e é facilmente
encontrado em barrancos úmidos e em xaxins.
A grande
variação de formas das pteridófitas está relacionada à fase esporofítica. Os
esporos são produzidos em esporângios, por meiose e podem se apresentar
agrupados em diferentes estruturas.
Nas
avencas e samambaias, os esporângios frequentemente se apresentam agrupados em
conjuntos denominados SOROS (Figura 2), presentes na face dorsal (inferior) das
folhas, onde cada esporângio mantém sua individualidade. Os soros podem
apresentar-se nus ou protegidos por uma pequena lâmina ou projeção da folha, apêndices
especializados denominados INDÚSIOS. Tais apêndices podem secar quando os
esporângios estão maduros e prontos para dispersar seus esporos.
A forma
do soro, sua posição e a presença ou ausência de um indúsio são características
importantes na taxonomia das plantas da ordem das avencas e samambaias.
Figura 2 – Samambaia epífita com soros (seta) presentes na face inferior das folhas. Foto tirada no Parque Estadual da Cantareira. |
O indúsio
pode ser considerado falso ou verdadeiro. O falso indúsio se caracteriza pela
margem enrolada da folha, que recobre os esporângios. Pode ser encontrado em
avencas e samambaias. O indúsio verdadeiro é uma capa de tecido que recobre os
esporângios de algumas samambaias.
Outros
grupos de esporângios se apresentam dispostos em folhinhas modificadas,
formando uma estrutura definida que recebe o nome de ESTRÓBILO, a qual fica
localizada geralmente na extremidade dos ramos, é encontrada nos licopódios,
selaginelas e cavalinhas.
Os
esporângios podem ainda ser agrupados em estruturas mais compactas, como os
ESPOROCARPOS de gêneros aquáticos flutuantes, como as salvinias e azolas e
gêneros encontrados em brejos, como o trevo-de-quatro-folhas.
Os
esporos, em geral, são disseminados pelo vento, por mecanismos que envolvem a
participação de movimentos higroscópicos. Estes germinam quando encontram um
substrato adequado e dão origem a um novo protalo.
Todas as
plantas vasculares são OOGÂMICAS, ou seja, apresentam oosferas
imóveis e pequenos anterozoides que são conduzidos até a oosfera para que seja
realizada a fecundação. Como mencionei na aula anterior, as plantas vasculares
apresentam alternância de gerações heteromórficas – o
esporófito é maior e mais complexo que o gametófito.
As
primeiras plantas vasculares produziam apenas um tipo de esporo como resultado
da meiose. Tais plantas vasculares, bem como as briófitas, são denominadas
homosporadas, sendo o processo denominado HOMOSPORIA.
Entre as
plantas vasculares atuais, a homosporia é encontrada em Psilotophyta,
Sphenophyta (cavalinha), algumas licófitas e quase todas as samambaias. Na
germinação, tais esporos têm o potencial de produzir gametófitos bissexuados,
isto é, gametófitos que produzem tanto anterídios como arquegônios. Os
anterídios são os órgãos sexuais masculinos e os arquegônios os órgãos sexuais
femininos.
A
HETEROSPORIA pode ser considerada como a produção de dois tipos de esporos em
dois tipos diferentes de esporângios, sendo encontrada em algumas licófitas, em
poucas samambaias e em todas as plantas com sementes. Os dois tipos de esporos
formados são chamados de MICRÓSPOROS e MEGÁSPOROS e são produzidos em
MICROSPORÂNGIOS e MEGASPORÂNGIOS, respectivamente. Os micrósporos, quando
germinam, dão origem a gametófitos masculinos (MICROGAMETÓFITOS) e os
megásporos quando germinam dão origem a gametófitos femininos
(MEGAGAMETÓFITOS).
O
gametófito (protalo) surge a partir da germinação do esporo e, quando maduro,
desenvolve os órgãos reprodutores masculinos e femininos (anterídios e
arquegônios, respectivamente). A oosfera fica no interior do arquegônio e o
anterídio produz anterozóides flagelados. Como o protalo se desenvolve em meio
úmido, os anterozóides nadam por um filme d’água até o arquegônio, fecundando a
oosfera. O zigoto (2n) formado é a primeira célula do esporófito, o qual
desenvolve um pequeno caule subterrâneo longo com raízes e posteriormente
folhas. Isso mostra que as pteridófitas, apesar das várias adaptações ao
ambiente terrestre, ainda dependem da água para sua reprodução, uma vez que os
anterozóides são células flageladas que precisam se deslocar na água para
alcançar o gameta feminino.
Resumo do
ciclo de alternância de gerações nas briófitas e pteridófitas
TAXONOMIA
DO GRUPO
Esse
grupo apresenta-se subdividido em sete Filos, Filo Rhyniophyta, Filo
Zosterophyllophyta e Filo Trimerophytophyta (sendo os três já extintos); Filo
Lycopodiophyta e Filo Monilophyta (filos com representantes atuais).
Iremos
discutir os dois últimos filos que possuem representantes atuais.
FILO LYCOPODIOPHYTA
Grupo
grande representado até hoje por 10 a 15 gêneros com aproximadamente 1.500
espécies. Todas as licófitas atuais são de pequeno porte (herbáceas); apresentam
folhas pequenas e simples; representantes homosporados e heterosporados.
Dentro
desse Filo incluímos os licopódios (Lycopodium e Lycopodiella)
que, às vezes, são utilizadas em floriculturas como plantas ornamentais e cujos
esporos são utilizados na medicina popular. Neste grupo também incluímos as
selaginelas (Selaginella), representadas no Brasil por várias espécies,
muitas cultivadas como plantas ornamentais em vasos e jardins. Outro gênero é Isoetes,
planta herbácea e rara, que vivem em brejos no norte do país.
FILO MONILOPHYTA
As
monilófitas compreendem as samambaias e as cavalinhas (Equisetum spp)
Estes grupos já foram considerados Filos separados, mas estudos recentes
indicam que esses grupos formam um clado com quatro linhagens. O termo
comum “samambaias” é aplicado aos membros de três linhagens –
Psilotopsida, Marattiopsida e Polypodiopsida.
Algumas
são muito pequenas com folhas inteiras. Outras são arbóreas e possuem folhas
grandes. Podem também ser herbáceas. São plantas muito bonitas, com seus eixos
verdes e estriados, com grande potencial como plantas ornamentais, se forem
adequadamente cultivadas.
Do ponto
de vista econômico, essas plantas são importantes como ornamentais e na
produção de xaxim, o que no Brasil é produzido com um gênero de samambaiaçu Dicksonia,
abundante na Serra do Mar e praticamente extinto no Estado de São Paulo devido
à intensa extração.
As
samambaiaçus são samambaias arborescentes, que podem atingir vários metros de
altura. Na base do seu caule desenvolvem-se emaranhados de raízes negras que
foram muito exploradas para a fabricação de vasos de xaxim. Atualmente, sua
extração é proibida por Lei e os produtores utilizam como substitutos à fibra
de coco. A figura 1 mostra uma samambaiaçu pertencente ao gênero Cyathea.
Figura 1 – Samambaiaçu, foto tirada do site http://www.ibot.sp.gov.br/educ_ambiental/plantas_extincao/samabaiacu.jpg |
Diferença entre
Briófitas e Plantas Vaculares sem sementes e seu processo evolutivo:
As briófitas são
plantas avasculares (não possuem vasos condutores de seiva) que crescem em
solos úmidos, pedras ou troncos de árvores, sendo os musgos seus principais
representantes. O tamanho das briófitas está relacionado à ausência de vasos
condutores, chegando no máximo a 10 cm em ambientes extremamente úmidos. A condução dos líquidos nas briófitas é feita
pelo processo de difusão por célula. São organismos eucariontes,
pluricelulares, onde apenas os elementos reprodutivos são unicelulares,
enquadrando-se no Reino Plantae, como todos os demais grupos de plantas
terrestres.
As pteridófitas
(plantas vasculares sem sementes), são plantas diferentes das briófitas pelo
fato de já possuírem um sistema vascular. Por esse fato, possuem uma estatura
um pouco maior que os musgos, porém pequena se comparada com as angiospermas.
Vivem em ambientes úmidos, possuem raiz e caule definido, podendo ser epífias
(vivem sobre o tronco de árvores) ou aquáticas. Os principais exemplos de
pteridófitas são as samambaias e as avencas.
A estrutura principal
de uma pteridófita é o esporófito, que possui várias pequenas estruturas
relativamente circulares chamadas soros, responsáveis pelo processo de
reprodução. Nessa época, os soros tornam-se pardos e em seu interior são produzidos
os esporos, que levados pelo vento, germinam e dão origem a uma nova planta,
isso se houver condições ideais. Com o desenvolvimento de estruturas condutoras
de água dentro das plantas foi possível a conquista do ambiente terrestre, e
consequentemente, o surgimento de plantas maiores.
Embora as briófitas
já vivessem na terra não podiam se desenvolver e alcançar grandes dimensões. Os
seus vasos são simples demais e elas perdem água muito facilmente, por isso, as
briófitas necessitam viver em locais úmidos, o que mostra que esses organismos
ainda são muito dependentes da água. Além disso, na terra os nutrientes devem
ser absorvidos da terra e não estão mais disponíveis em todas as dimensões como
acontece no oceano. A sustentação da planta para adquirir a forma ereta se da
pelo desenvolvimento do colênquima e esclerênquima, que apresentam forte
espessamento celular, essas características só se desenvolveram efetivamente
nas pteridófitas.
muito bom
ResponderExcluirÓtimo conteudo, me ajudou pencas no trabalho da facul.
ResponderExcluirBacana!
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