Segundo
MARCELLI (2006), de todas as espécies de fungos conhecidas na atualidade, cerca
de 20% vivem em associação biológica com algas ou cianobactérias. Esse processo
de associação é denominado liquenização e a estrutura
resultante recebe o nome de líquen. Os liquens foram descobertos em 1860
pelo botânico sueco Schwendener e esta descoberta foi comprovada mais tarde
quando se verificou a possibilidade de se cultivar separadamente algas e fungos
oriundos de um líquen em um mesmo meio de cultura. Observou-se que somente
quando a nutrição era mínima e a umidade atingia um nível baixo a associação se
restabelecia.
A
maior parte dos liquens é formada por fungos do grupo dos ascomicetos, embora
também existam basidiomicetos e deuteromicetos liquenizados. As algas
pertencentes a essa associação são cianobactérias ou algas verdes. A associação
biológica dos liquens é benéfica para ambos integrantes, pois a alga, que é um
organismo autótrofo, realiza a fotossíntese, pelo qual fornece alimento ao
fungo. O fungo, por sua vez, explora o ambiente e fornece à alga água e
substâncias minerais. Em união com a alga, o fungo produz uma casca
superior (córtex superior) e uma casca inferior (córtex inferior), munida de
hifas rizoidais (rizinas). Na camada cortical superior encontram-se hifas densamente
entrelaçadas, que funciona como uma superfície protetora e exploradora do
ambiente. Na camada cortical inferior encontra-se a mesma estrutura, mas estão
presentes hifas rizoidais que prendem o líquen ao seu substrato.
Entremeada
nessas camadas de hifas encontramos a camada gonidial, composta por células da
alga associada (Figura 1).
Nem todos os liquens, porém, apresentam essa
organização em camadas. De acordo com o tipo de talo, podemos definir os
liquens em:
a)
FOLHOSOS ou FOLIOSOS: Liquens estratificados (formados por várias camadas de
células), que podem ser facilmente removidos do substrato, pois apresentam
rizinas (hifas rizoidais), que prendem o fungo somente em pontos definidos
(Figura 2).
Fig. 2 – Líquen folioso encontrado na Mata Atlântica crescendo sobre rocha (setas ermelha). Foto tirada no Parque Estadual da Cantareira, em São Paulo. |
b)
CROSTOSOS: Liquens que se assemelham estruturalmente aos folhosos, mas que não
possuem córtex inferior e nem rizinas. Tais liquens aderem-se fortemente ao
substrato, sendo de difícil remoção (Figura 3).
Fig. 3 – Líquen crostoso encontrado na Mata Atlântica crescendo sobre tronco de árvore. Foto tirada no Parque Estadual da Cantareira, em São Paulo. |
c)
FRUTICOSOS ou FRUTICOSOS: Liquens estratificados e ramificados, arborescentes.
Os
liquens crescem tanto ao nível do mar como no pico de montanhas, sendo
abundantes nas regiões úmidas e sombreadas das florestas tropicais. São
considerados como uma das associações biológicas mais belas da natureza, pois
são encontrados em locais onde não seria possível a sobrevivência de algas e
fungos separadamente. Como o líquen é uma associação biológica e não um
organismo, não apresenta estruturas de reprodução sexuada. Estas estruturas,
quando presentes, pertencem ao fungo da associação. Como a maioria dos fungos
formadores de liquens é ascomiceto, geralmente essas estruturas sexuadas se
apresentam sob a forma de APOTÉCIOS (ascocarpos discóides, de coloração
variada, onde estão presentes esporângios especiais, os ASCOS e onde são
produzidos os esporos). Assim, os esporos que daí surgirem não darão origem a
um novo líquen, mas sim a um novo fungo.
As algas,
por sua vez, só se reproduzem assexuadamente.
Embora o
líquen não seja um organismo, a intimidade morfológica e anatômica entre os
simbiontes liquênicos é tão grande, que existem estruturas que garantem a
disseminação da associação como um todo (as quais contêm tanto hifas de fungos
como células de algas ou cianobactérias). Portanto, podemos dizer que, na
natureza, um líquen pode se reproduzir por dois métodos: DIRETO (que ocorre por
meio da produção de estruturas que contém tanto hifas do fungo como células da
alga integrante da associação) e INDIRETO (que ocorre por meio da liberação de
esporos pelo fungo componente da associação, com ou sem sua reprodução
sexuada). Esses esporos necessitam encontrar na natureza uma espécie adequada
de alga ou cianobactéria para que ocorra novamente o processo de liquenização.
O modo
direto pode ocorrer de duas formas:
1)
FORMAÇÃO DE SORÉDIOS Fragmentos contendo células da alga e hifas do fungo, que
são transportados pelo vento.
2)
FORMAÇÃO DE ISÍDIOS Pequenas excrescências, como verrugas, que se formam na
superfície do talo liquênicos, sendo levadas pelo vento para formar novos
liquens ao atingirem substrato adequado.
Os
liquens são conhecidos como bioindicadores de poluição, pois apresentam
características que favorecem seu uso como monitores da qualidade do ambiente.
Muitos deles são bastante sensíveis a várias substâncias poluidoras,
especialmente o Dióxido de Enxofre, liberado pelo escapamento dos carros como
resultado da queima de combustíveis fósseis. Apesar de existir algumas
espécies de liquens resistentes a esses poluentes, normalmente a diversidade e
a frequência dos liquens diminuem à medida que nos aproximamos dos grandes
centros urbanos, onde o nível de poluição atmosférica é bastante elevado.
Segundo MARCELLI (2006), os liquens crostosos são considerados os mais
resistentes à poluição atmosférica; seguido dos foliosos, medianamente
sensíveis e dos fruticosos, mais sensíveis. Os liquens fruticosos tendem a
desaparecer quando as concentrações de poluentes são mais elevadas. Outro
aspecto importante relacionado aos liquens é que são considerados pioneiros,
pois colonizam inicialmente ambientes inóspitos (despovoados), como um barranco
ou uma rocha nua. Assim como os musgos, que serão estudados mais tarde,
auxiliam na construção do solo, favorecendo o estabelecimento de outros
organismos vegetais no local. Tais liquens, quando colonizam um ambiente
inóspito, desagregam as rochas, liberando água e ácidos orgânicos, de modo a
construírem o solo. Além disso, em regiões muito frias, como no Ártico,
os liquens podem constituir o principal alimento das renas e outros herbívoros.
Os liquens, no entanto, podem acumular substâncias radioativas e, quando
ingeridos pelas renas, as contaminam e também aos esquimós que delas se
alimentam.
Nenhum comentário :
Postar um comentário