A
circulação do sangue é um processo extremamente importante para a manutenção
dos diversos sistemas fisiológicos. Aqui, conheceremos especificamente as
peculiaridades do sistema circulatório humano.
O coração
é um tecido muscular cujo conjunto de fibras é denominado de miocárdio. Esse
músculo cardíaco possui circulação coronária própria que supre o miocárdio com
sangue oxigenado. O ciclo cardíaco do coração é constituído de uma contração
(sístole) e distensão atrial (diástole) seguido de uma sístole e diástole
ventricular. A pressão exercida pelo lado direito do coração é menor que o lado
esquerdo devido à diferença na espessura entre as paredes dos dois ventrículos.
O maior espessamento das paredes do ventrículo esquerdo possibilita força mais
intensa na ejeção do sangue para a circulação sistêmica.
Desse
modo, as características anatômicas do coração geram as condições que
impulsionam o fluxo sanguíneo por todo o sistema circulatório. A ejeção do sangue
pelo coração é contínua; no entanto, o fluxo para o corpo é mantido pela
distensão da aorta e seus ramos durante a sístole ventricular e pela retração
elástica das paredes das grandes artérias, o que possibilita a continuidade do
fluxo sanguíneo durante a diástole ventricular.
A pequena
circulação ou circulação pulmonar representa 1/3 de todo o sangue que circula
no organismo (Fig. 1). O sangue sistêmico chega ao coração pelas veias cavas,
entra no átrio direito e passa através da valva atrioventricular direita
(tricúspide) para dentro do ventrículo direito. Do ventrículo direito o sangue
sai do coração para o tronco pulmonar em direção ao pulmão, dividindo-se em uma
artéria pulmonar para cada pulmão. O sangue pobre em oxigênio (O2 baixo)
e rico em gás carbono (CO2 alto) segue pelas artérias,
arteríolas, até chegar aos capilares que irrigam os alvéolos pulmonares, onde
trocas gasosas serão efetuadas. A baixa pressão arterial (15 mmHg) permite
condições favoráveis para as trocas gasosas e o sangue. O sangue rico em O2 chega
ao coração pelas veias pulmonares, flui para o átrio esquerdo, terminando a
pequena circulação.
Em
seguida o sangue passa para o ventrículo por meio da valva atrioventricular
mitral (bicúspide). O ventrículo esquerdo ejeta então o sangue dentro da aorta,
passando pela valva semilunar aórtica, iniciando a grande circulação e a
distribuição sistêmica (Fig. 2).
A grande
circulação ou circulação sistêmica é responsável por ¾ de todo o sangue que
circula no corpo (Fig. 1). O sangue sai do coração pela artéria aorta com uma
pressão arterial máxima de 120 mmHg. A aorta é basicamente elástica, mas o
tecido muscular aumenta gradativamente nas artérias periféricas até chegar às
arteríolas. As artérias pequenas apresentam maior resistência ao fluxo sanguíneo
(90 a 100 mmHg), principalmente nos segmentos terminais dos capilares
sistêmicos (10 a 35 mmHg). Juntamente com a redução da pressão arterial, há a
alteração do padrão do fluxo sanguíneo, que muda de pulsátil para contínuo.
O fluxo
sanguíneo pulsátil é gerado pela contínua ejeção do sangue pelo coração. Esse
fluxo é amortecido nos capilares devido à capacidade de distensão das grandes
artérias e resistência pelo atrito nas pequenas artérias e arteríolas. Cada
arteríola dá origem a vários capilares, onde irão ocorrer as trocas entre o
sangue e as células teciduais. O sangue retorna pelas vênulas, veias e chega ao
coração pela veia cava (0 a 6 mmHg) com alta concentração de CO2 e
baixa concentração de O2.
O retorno
do sangue venoso para o coração é auxiliado pela contração dos músculos que
comprimem as veias. Além disso, as veias apresentam válvulas ao longo do
seu percurso, que impedem o retorno do sangue garantindo o sentido
unidirecional do fluxo sanguíneo.
Os
capilares sistêmicos (5 a 9 µm) são constituídos por uma única camada de
células que corresponde ao revestimento epitelial interno nas artérias e veias.
É nos capilares sistêmicos que ocorrem as trocas entre os nutrientes e gases
transportados pelo sangue, com os produtos do metabolismo celular. Os espaços
existentes entre as células das paredes dos capilares permitem que as
substâncias presentes no sangue passem, por difusão, para as células teciduais.
Por outro lado, as células eliminam neste meio gás carbônico e suas excretas
metabólicas.
O fluído
que passa pelas células é reabsorvido pelos capilares, reincorporando-se ao
sangue. Após deixar os tecidos, o sangue se torna pobre em O2 e
nutrientes, mas rico em CO2 e excretas. No ponto de conexão
entre a arteríola e o capilar existe um esfíncter pré-capilar, uma célula
muscular que envolve o vaso e controla a entrada do fluido extracelular para o
capilar, regulando o suprimento de sangue para os tecidos.
O excesso
do líquido que sai dos capilares sistêmicos é captado pelo sistema linfático e
redirecionado para a circulação. Esse sistema é formado por uma rede de vasos
linfáticos distribuídos por todo o corpo. Os menores vasos do sistema linfático
apresentam calibre semelhante aos capilares sanguíneos, diferindo destes por
apresentarem extremidade com fundo cego. A junção dos capilares linfáticos gera
vasos com calibres cada vez maiores, que convergem para o tórax gerando dois
ductos linfáticos grossos que se une às veias que vem dos braços.
O fluido
que circula dentro dos ductos linfáticos é denominado de linfa. A linfa é um
líquido esbranquiçado cuja constituição é muito semelhante ao sangue. Mais de
90% dos leucócitos contidos na linfa são referentes aos linfócitos. Problemas
de drenagem no sistema linfático podem induzir a formação de edema.
Figura 1. Esquema da circulação em humanos adultos (Heneine, 2002). |
Fig 2 . Figura mostra um coração humano com suas respectivas valvas.
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Circulação fetal e neonatal
A
circulação fetal ocorre em condições diferentes da circulação dos adultos. A
pressão arterial é baixa e similar em todos os circuitos e a tensão de gás no
sangue arterial é asfixial. Assim, nesta aula iremos conhecer o sistema circulatório
fetal e identificar as modificações mais importantes na circulação neonatal.
No feto,
os vasos sanguíneos que formam o cordão umbilical são responsáveis pelo
suprimento de oxigênio e nutrientes, sendo que o pulmão encontra-se
fisiologicamente inativo. O processo de troca de nutrientes e excretas
metabólicas é realizado pela placenta e o sangue oxigenado retorna da placenta
pela veia umbilical. Parte do sangue que chega da placenta passa pelos
sinusoides hepáticos e o restante segue para a veia cava inferior, por
intermédio do ducto venoso em direção ao coração. O fluxo sanguíneo
que passa pelo ducto venoso é regulado por um esfíncter próximo à veia
umbilical, impedindo a sobrecarga do coração caso haja elevação do fluxo.
O sangue
que penetra no átrio direito do coração se mistura com o sangue desoxigenado
que chega pela veia cava inferior do abdome, pelve e membros inferiores. Por
isso, o sangue que entra no átrio direito não é tão oxigenado quanto o sangue
que chega pela veia umbilical. A maior parte do sangue proveniente da veia cava
inferior é dirigida para o forame oval, penetrando diretamente no átrio
esquerdo. O restante (5 a 10%) mistura-se com o sangue que chega pela veia cava
superior e é direcionado aos pulmões pelas artérias pulmonares.
Antes de
alcançar os pulmões, parte do fluxo sanguíneo é direcionada através do ducto
venoso para a aorta. O sangue retorna dos pulmões para o átrio esquerdo, e no
ventrículo esquerdo é misturado com o sangue que vem diretamente do átrio
direito pelo forame oval. Do ventrículo esquerdo o sangue segue para a aorta
ascendente, ramificando-se para a cabeça, pescoço e membros superiores. Cerca
de 40 a 50% do sangue da aorta descendente passam pelas artérias umbilicais e
retornam à placenta para efetuar as trocas gasosas. O resto do sangue vai
suprir as vísceras e a metade inferior do corpo.
Após o
nascimento, finaliza-se a circulação fetal e iniciam as modificações do sistema
circulatório (circulação neonatal). Com o início da atividade pulmonar, o fluxo
sanguíneo é redirecionado e cessa a atividade no forame oval, ducto arterioso,
ducto venoso e vasos umbilicais. O esfíncter no ducto venoso contrai-se,
conduzindo o sangue do fígado para os sinusoides hepáticos. A oclusão da
circulação placentária provoca uma queda imediata da pressão sanguínea na veia
cava inferior e no átrio direito.
A aeração
dos pulmões está associada à dramática queda da resistência vascular, ao
acentuado aumento do fluxo sanguíneo para os pulmões, acompanhado de uma
progressiva expansão das artérias pulmonares decorrente da expansão dos pulmões
ocasionada pelos primeiros movimentos respiratórios. O aumento do fluxo
sanguíneo pulmonar eleva a pressão no interior do átrio esquerdo e, por isso, o
orifício oval se fecha. A parede do ventrículo direito é mais espessa do que a
parede do ventrículo esquerdo nos fetos e nos recém-nascidos, o que se
relaciona com a sua intensa atividade neste período.
No final
do primeiro mês de vida, a parede do ventrículo esquerdo se torna mais espessa
e a parede do ventrículo direito mais fina, a atrofia está associada à carga
mais leve do trabalho cardíaco.
O ducto
arterioso contrai-se ao nascimento, mas há com frequência um pequeno fluxo
sanguíneo entre a aorta e a artéria pulmonar esquerda, que persiste por alguns
dias. O ducto arterioso geralmente deixa de ser funcional nas primeiras dez a
quinze horas após o parto, podendo permanecer aberto por mais tempo nos bebês
prematuros e naqueles com hipóxia persistente. O oxigênio constitui o fator
mais importante do controle do fechamento do ducto que parece ser mediada pela
bradicinina liberada dos pulmões na inflação inicial. Aparentemente, a ação
desta substância depende de um conteúdo elevado de O2 do sangue
aórtico que resulta da ventilação dos pulmões ao nascimento. A parede do ducto
contrai quando o PO2 do sangue alcança 50 mmHg.
A mudança
da circulação sanguínea, do padrão fetal para o do adulto, não é imediata.
Algumas mudanças ocorrem com o primeiro movimento respiratório, enquanto outras
levam mais tempo. Durante a transição, pode haver um fluxo sanguíneo inverso
pelo forame oval. Embora haja a contração do ducto arterioso ao nascimento, ele
pode permanecer latente por até três meses. O fechamento dos vasos fetais e do
forame oval é inicialmente uma alteração funcional, o fechamento anatômico
ocorrerá mais tarde por meio da proliferação dos tecidos endoteliais e
fibrosos.
Após o
primeiro movimento respiratório, as artérias umbilicais se contraem para evitar
que o sangue escape do recém-nascido. Gradualmente elas se transformam em
estruturas fibrosas (ligamentos umbilicais mediais). Por sua vez, a porção
infra-abdominal da veia umbilical transforma-se no ligamento redondo do fígado
e o ducto venoso no ligamento venoso.
Estabelecida
a respiração pulmonar, o sangue venoso é dirigido para os pulmões. À medida que
os pulmões se expandem, a resistência que se opõe ao fluxo sanguíneo é
diminuída e a pressão na aorta aumenta.
Em
algumas semanas ou meses, o ducto arterioso oblitera-se e passa a constituir o
ligamento arterioso fibroso. Com o funcionamento do pulmão, o fluxo sanguíneo
para o átrio esquerdo aumenta, igualando-se as pressões entre os átrios direito
e esquerdo.
Estrutura do coração do recém-nascido e do coração do feto respectivamente. |
Mesmo que
o forame oval não esteja fechado, a igualdade de pressões nos átrios impede
qualquer fluxo significativo de sangue entre eles. Em algumas semanas ocorre o
fechamento anatômico do forame oval formando a fossa oval e o limbo da fossa
oval. Finalmente, a pressão da circulação pulmonar reduz para 1/5 da pressão da
circulação sistêmica e a parede do ventrículo esquerdo torna-se pelo menos duas
vezes mais espessa que as paredes do ventrículo direito.
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